Reflexão - O Homem Doente da Preguiça


Gilson  Gomes
Advogado.

“A preguiça anda tão devagar, que a pobreza facilmente a alcança.
Confúcio

1 - Considerações Preliminares:

Hoje, eu tive a oportunidade ímpar de conhecer um homem. Só que se tratava de um homem peculiar. O homem dizia ser doente, mas possuía o vicio da preguiça. Pois ele não queria trabalhar,  o que queria é que trabalhassem para ele. Na alimentação era um ser compulsivo, reclamava da sua terra natal, e dizia não ter crescido na vida  pelo fato de não ter  oportunidade. Nada é bom,   se vai na casa do outro, chega, e quer dar ordens. Todas as coisas são erradas,  nada era certo.

Sua maior enfermidade é a preguiça

Então resolvi  escrever  esta reflexão.

“Vencer a preguiça é a primeira coisa que o homem deve procurar, se quiser ser dono do seu destino.”

Thomas Atkinson

2 – O Vicio  da Preguiça

Na Grécia, tanto nos tempos dos Sofistas quanto  na era Socrática,  era  privilegiado  o ócio com a finalidade de fazer o homem  pensar ou filosofar sobre o comportamento  da espécie humana e a natureza do universo. O Ginásio de Academo e o Liceu eram  escolas  que ensinavam a pensar, é evidente que em períodos anteriores houvera a escola de Pitágoras. O cínico é o melhor exemplo  do  conhecido cachorrão, como era chamado Diógenes. Mas, Diógenes se tratava de um ser esperto, já que preferia o sol  à  sombra de Alexandre, então, aí reside   a questão  essencial da  convivência humana. Contudo se o homem  for cobrado pelo chefe para  prestar  serviços  com eficiência e de qualidade, podendo  o  artesão, obreiro, operário, e o trabalhador deverá se sentir melindrado com a  disciplina no exercício das atribuições inerentes ao oficio.

É certo que  nossa cultura foi deformada durante  o período colonial, já que as funções técnicas  de arar as terras, a culinária,  corte e costura, culinária,  carpinteiro, pedreiro,, educar os filhos eram atribuições do escravo negro. Daí residir a  perversão cultural da rejeição do oficio tecnológico em detrimento do exercício de funções  intelectuais de advogado e médico, quando não o exercício da carreira das armas. O preguiçoso usa uma expressão típica da nossa deformação cultural ao considerar o  trabalho pesado demais, excesso de eforço, e ainda com  o uso de expressão racistas afirma:  - É preciso contratar um negrão. Pois basta prestar atenção na obra de Gilberto Freyre. A preguiça é cultural no Brasil, já que o outro pode fazer, então não me cabe atrapalhar os demais.

No contexto  da prestação de serviços,   tanto no público quanto no privado,   é preciso não  fazer confusão entre  a meditação  e a  vadiagem[1], preguiça[2] e o  ócio. É bom ficar  claro que a meditação  é  o estado de introspecção entre o espírito e o mundo físico, capaz de  obter a chave do conhecimento, por meio da experiência  e da teoria transformada em objeto  necessário ao bem estar do homem individual e coletivamente.

Pois o bicho preguiça é a representação   mais evidente da ausência  de estímulo e de vontade para chegar com maior celeridade ao ponto final  do caminho, especialmente no topo da árvores; assim é o homem e os atos  e fatos que precisam de  resolução rápida no Brasil, já que tudo é moroso, tendo começo, mas não há fim certo e determinado. As desculpas são muitas e nem sempre  sensatas e razoáveis. Se  é certo que o trabalho é causticante, sentença da mortalidade de que  à sobrevivência depende do suor do pão do rosto, cuja suposta dignidade está relacionada com a disciplina e a eficiência no desempenho das atribuições laborativas e da arte do oficio. Para o  ser curtido pela  preguiça morrer de sede e de frio é o mais diáfano premio, já que crê cair  dos céus o   maná e notas de cem reais como a sagrada provisão diária, café da manhã, almoço e jantar. O preguiçoso possui projetos de vida, mas desde que a execução fique com o próximo, e o mesmo  venha a ter participação nos resultados. O preguiçoso é um ser dissimulado, que nunca tem tempo, já que o império da cama e da mesa sempre traz hedonismo, mesmo quando a obtiver pelo meio da exploração do homem pelo homem. O preguiçoso diz ser do outro ser  a culpa do seu fracasso, afinal o fracasso tem por causa a magia da preguiça. O preguiçoso é instruído e não formado para a vida, mas apenas para exigir que outrem faça por ele. O preguiçoso é um egoísta sórdido.

No nosso cotidiano  a preguiça pode ser uma necessidade do organismo humano, até mesmo exigência da  boa saúde, mas paradoxalmente o étimo não possui a significação  de um bem, mas sim, que a preguiça é um  vicio e pecado capital[3] enraizado na alma do  homem, podendo lhe tirar  o desejo e a vontade de realizar  as suas idéias por meio da execução de ações proativas, Então o preguiçoso  além de  ser um verme parasita, convencido de se tratar do super homem, sendo o ser mais notável do planeta, sendo sempre o faz o melhor, mas em regra jamais realizara  alguma  grande obra. O preguiçoso sempre dá certo, já  quase sempre encontra o bobo da corte para prover o sustento, na verdade se trata de um bom vi van. O preguiçoso não terá como premio a vida eterna porque não ganhou a vida pelos próprios méritos. Logo a preguiça é caracterizada nas Teologias como pecado capital, vicio não aceito pela lei universal e divina. Pois  ter preguiça na premissa do vicio é o mesmo que ser preguiça, já que o ter é estado transitório e o ser é estado permanente,  uma prática  habitual comportametal  do homem, sempre lesiva ao direito difuso e coletivo do homem.

No entanto, o ócio apesar do dicionário da língua portuguesa  descrever como sinônimo de preguiça,  usual e corriqueiro na conversação, o que na sua origem tinha como fundamento a necessidade  que possui o homem de ter ocupação por um bom espaço de tempo, daí ter nascido  o dia de repouso, o dia que o homem deixa de fazer a arte do oficio, como diversão, e qualquer outra atividade com a finalidade de repousar, até jejuar com a finalidade de purificar o corpo  e o espírito. Segundo a tradição judaica Cristã – Deus repousou no sétimo dia, depois de terminada a sua obra -, assim, Deus por escolha ficara no ócio. Na antiguidade o ócio era estimulado entre os homens com o propósito de levar o homem a reflexão sobre os erros do passado, e os acertos, a prática no presente,  e seu projeto de vida. O ócio filosoficamente é o estado de repouso, já que a preguiça se tratada do estado deliberado de nada realizar para o bem geral e comum –;  o preguiçoso não ama o próximo como a si mesmo, mas ama  o seu ego primeiro lugar, se tiver que aplicar injeção no doente, prefere deixar o doente fenecer que levantar da cadeira para esterilizar a agulha, e abrir a gaveta e estojo para retirar a seringas. É nescio  e inútil. Porém, inteligente e dono de respostas as mais intrigantes perguntas.

A meditação[4] no caso, é atividade cerebral especial e rara. A meditação é o memento em que o homem na sua solidão e no silêncio interior profundo adquire o conhecimento das leis do universo, é estabelece pela perseverança uma relação entre o seu eu e o cosmos. A meditação  é tão antiga quanto  o homem. Os orientais especialmente no Egito se deram enorme relevo à meditação, em razão da meditação está em se colocar no centro, querendo com isso exercitar a capacidade e a força de sair do ego periférico para o eu central. Daí se perceber que a meditação necessita do ócio, mas não do ócio do pensar e de ter idéias, mas da necessidade de ficar recolhido para se conhecer a si mesmo, conhecer as suas potencialidades  encobertas,  transferindo-as  aos mundos externos pela formulação e formatação em palavras à bem da humanidade, ou seja, por meio do livro escrito no papel ou digital.

Desta forma, hoje, conheci o homem que não medita, mas faz jejum de  vinte e um dias, só pela preguiça de pilotar o fogão.

Mas detonava  toda o suprimento alimentar  necessário para alimentar três pessoas  no prazo de seis de  horas – um comedor compulsivo.

Sujara as panelas e outros utensílios necessários na cozinha e deixando emporcalhada aos montes uma sobre a outra no lavabo de da cozinha, sem o mínimo de escrúpulo.

Pois se tratava do tipo de ser humano que ao lhe oferecer trabalho ele arruma uma febre, calo no calcanhar, forte dor de cabeça, e depois o patrão o dispensa, porque a empresa não sobrevive sem produção, é verdade, que seu prazo de trabalho é no máximo quinze dias, especialmente se tiver de fazer horas extras no trabalho, ele não comparece ao trabalho, e a dispensa por abandono do emprego é efeito.

Não é que  o mesmo gastou um par de sandálias havaiana, especialmente perto dos dedos e no calcanhar, deduz-se ser a causa a preguiça de levantar os pés.

As mulheres não o agüentam  consigo, já  que o mesmo pretende o emprego de marido, não deseja nada com a voz do Brasil, imagina poder encontrar a outra parte sem cérebro, a fim de poder  dar o famoso golpe do baú, o trabalho não é o seu nome, mas outra alcunha conhecida de todos. Pobre  mulher  que imagina encontrar o príncipe e encontra na sua cama o bicho preguiça e não o jaguar na garagem da sua casa. Que pena da mulher!

Este senhor é clássico, depois de ter fornicado fez o seu rebento, a companheira o abandona, porque enquanto ela trabalhava duro, o mesmo dormia, e no momento presente, a fim de se livrar da prisão, sua mãe com quase oitenta anos paga a pensão alimentar ao filho do  do senhor.

Ele abre a boca para orar ao Deus, só  que o mesmo não lhe mande trabalho, afinal o mesmo já contar sem a mãe ter partido com a casa como herança, no caso de receber da mãe um peça de roupa o mesmo ainda faz protesto  contra a qualidade do produto. Pois o  mesmo queria um cueca de algodão, mas o que merece é uma  feita de saco  usado para transportar batatas.

Ainda mente, pois o mesmo é dissimulado, quando entra numa rede social o mesmo vira doutor, cirurgião renomado, advogado de muitas causas, senhor de obras de arte de pintores famosos, e ainda convida a mulher para pagar o jantar.

Por último, este homem  está no fim da idade do lobo, mas convive como Thomas Hobbes[5] ao aplicar a regra – o homem é o lobo  do homem -, não como meio de conhecer a rapinagem do Estado,  mas com o oportunismo para raspar o tacho de alguma velhinha carente.

Sua inteligência é reconhecida, já cheguei imaginar ser o mesmo portador de alguma deficiência cerebral, mas acredito que a sua doença é a inteligência demais para não trabalhar, afinal hoje há a bolsa família, quando idoso há asilos para os idosos em estado de vulnerabilidade, podendo até ser amparado pela renda mínima  da  LOAS, mas o sonho dele e passar seus dias na Baviera, ou então beber uma água de coco  e passar uma tarde em Itapuã.

A questão é:

  – Por que Deus inventou o trabalho?

Pelo fato de  ficara  de mal com Adão e Eva, afinal,  os mesmos  comeram a fruta do conhecimento e o tiveram que   trabalhar duro do nascer ao por do sol. Ironicamente  muitos acreditam na criação do homem por ser todo poderoso, e negam a evolução das espécies, mas eles negam pela preguiça de pensar, já que a evolução de qualquer espécie deve ter o inicio em alguma coisa, que tal se essa coisa fora a mão de Deus. A origem do macaco ou da cobra não faz diferença, o certo   fora a necessidade de ter de evoluir para chegar ao status atual, caso contrário veríamos no estado de preguiça eterna. Tudo está resolvido, não é?

Pois é preciso evoluir  dentro do seu meio, a ciência e tecnologia nos últimos cem anos alcançou um estado considerável ao bem estar do homem. Imagine se todo homem quisesse ficar no Feudo medieval, se não evoluísse do estado material ao espiritual do conhecimento, e da anestesia a base da embriaguez com vinho e o ópio não se chegasse a anestesia atual, e a desinfecção dos instrumentais cirúrgicos descoberta pro Pasteur[6], que trabalhara com persistência e sem preguiça para o bem da humanidade.

Olha  para o homem curtido pela preguiça, não acredita em Deus, porque Deus dissera:

- Comerás o pão com o suor do teu rosto.

É bom deixar esclarecido que as profundas transformações sofridas depois do século XXVII, com as revoluções religiosas por meio de Lutero, Copérnico, a científica, e a filosófica, por meio de Descartes, imprimindo o Racionalismo  Cartesiano na Idade Moderna, sendo a razão o caminho, é para se chegar a ela é preciso discernimento, um método. Ocorre que o preguiçoso  não baseia sua ação em método, já que   a sua concepção de mundo é movida pelo parasitismo crônico.

No então, na Idade Média, os Cristãos difundiam a ideologia  de que o homem é incapaz de realizar o bem por si próprio. Por isso, ele deve  obedecer os princípios divinos, cristalizando assim a idéia do dever. Kant afirma que se nos deixarmos levar pelos  nossos impulsos, apetites, desejos e paixões, não poderemos ter autonomia aética, pois a Natureza nos conduz pelos interesses  de tal modo que usamos as pessoas e as coisas como instrumento para o que desejamos. Não se pode ser escravo dos desejos, já o preguiçoso o é.

Por isso,  na convivência humana os preguiçosos  são violadores da normas estabelecidas pela ética, como também a moral, que sanciona os costume do meio que se encontra inserido. Pois o mesmo não cultiva a empatia e nem a simpatia, sendo o exercício da função laboral  a pena aplicada peal sociedade contra si. O preguiçoso  se torna desonesto pelo fato de transferir a outrem  as atribuições que são de  sua exclusiva responsabilidade. Não se pode dizer que ele é produto do meio como ensina Aristóteles, porque o meio não sanciona a preguiça como virtude, mas produto da sociedade  que não impõe limites ao nível da desocupação. Não como justificar perante a sociedade ter chegado à   idade do lobo sem ter construído o mínimo de segurança para si, como  ter um trabalho formal, permanecer no posto de trabalho por mais de  dois anos, ter no mínimo contribuição previdenciária, e ter declarado o IR ao menos uma vez, mesmo como isento.

O homem pode ter direito a preguiça, repouso, ócio, lazer, enfim, mas o homem não pode  ter a CID  da doença da preguiça, e fazer jejum para não ter de fazer comida para matar fome, não trabalhar porque o trabalho exige demais, ou precisa transportar  caixas de produto com excesso de peso, não cumpre horário e justifica com uma dor de barriga. Então o preguiçoso não é um ser de leitura, sendo por isso que  o nosso mercado editorial é muito baixo.

3 – Conclusão

“O caminho dos preguiçosos é cheio de obstáculos, ao passo que o do diligente não tem quaisquer embaraços.”

Benjamin Franklin

O homem é um ser de aceitar os desafio  que a vida o reserva. Sempre está em busca da adequação ao meio, igualmente num processo de adaptação. O ócio pode ser bom para a sua criação, pois precisa da solidão para criar fórmulas e vacina contra as doenças, e inventar o motor.

Todavia, o preguiçoso não cria nada, é ausência plena do ser, dizem que o  étimo  -  nada -  é de origem Persa. O preguiçoso não  corresponde as expectativas, ele sempre deixa a desejar, porque não quer trabalhar. O preguiçoso é igual ao chupim[7],   que  deixa o ovo no ninho de outro pássaro, só para não criar a prole.  Por isso somos um país com alto nível de atraso, temos preguiça de reinventar os sistemas, e nem lemos aquilo que ficara no passado.

A preguiça  pode ser considerado o pecado capital mais grave numa nação que pretende ganhar seu espaço entre as nações desenvolvidas.

O preguiçoso não pode ser cidadão, já que o voto para ele é esforço inútil e desnecessário, já que sua ideologia e o parasitismo.

O preguiçosos diz  ter incompatibilidade de gênio com os homens trabalhadores. É existem homens sem as pernas, cegos, e com outra enfermidades, ainda dão exemplo de cidadania e conhecimento, trabalham arduamente para ganhar o pão de cada dia. O preguiçoso deve ter como pena a  vida sem pão, teto, e cama. É, mais os que trabalham ainda fazem caridade ao preguiçoso, sabia?

Não seremos hipócritas ou cínicos em pregar a dignidade do trabalho, já que essa foi a  pena imposta pelo Criador ao homem que comeu da árvore do conhecimento.

Mas é com ele se obtem o sustento, e quem não trabalham, não dá a contrapartida não é digno de obter alimento.

Por isso o homem trabalhador é disciplinado, diligente, prudente, e justo. Na verdade quem é digno é o homem trabalhador, mas não o trabalho por si só. As profissões são meio de se obter os objetos desejados, especialmente, no mundo capitalista de consumo em massa.

Conviver com dignidade é igual a ter  um posto de trabalho. Pois a autonomia e a independência  está no percebimento do ganho para prover o seu sustento e o de sua família. Aumentar o necessitado é digno e honesto, mas explorar o outro é pecado e mau caráter Não respeitar aquele que honra suas dividas em dia, possui crédito, e provem com alimentos quem precisa, não é digno e nem razoável. Brigar com homens de bem, cumpridores das suas obrigações, parece ser rico demais, e não necessitar da sua colaboração financeira. O preguiçoso faz ao contrário.

Pense.

ACADEMIA CRICIUMENSE DE FILOSOFIA – ACF.


[1] Sinônimos:  vagar   fazer porra nenhuma   rodar a banca   prostituta   boémia   vadiagem   gandaia   malandragem   ociosidade   pândega   tuna   vadiação   vagabundagem   malandrice   mandriice   mandria   indolência   negligência   preguiça   calaçaria   descanso   desídia   desocupação   folga   inércia   panqueca   regalice   repouso   vagueação   léu   mais... 
[2] Detimologia - o latim pigritia (la). Datação: século XIII. No Wikcionário – apatia, desânimo. Substantivo -  pre.gui.ça feminino  1.falta de vontade de realizar atividades;  2.ausência de pressa ou diligência; 3.repulsa ao trabalho; 4.carência de apuro ou capricho;  5.corda de guindaste;  6.pau onde são presas as cangalhas de uma canoura;  7.(zoologia) mamífero desdentado existente no Brasil, pertencente à família Bradypodidae ou Megalonychidae; 8.(Brasil) (zoologia) ave do género/gênero Nyctibius.  9.(Brasil, NE) (zoologia) camaleão (Iguana iguana).
 
[3] Em sua doutrina sobre os pecados capitais - ou vícios capitais -, Tomás repensa a experiência acumulada sobre o homem ao longo de séculos. Se o filosofar do Aquinate é sempre voltado para a experiência e para o fenômeno, mais do que em qualquer outro campo é quando trata dos vícios que seu pensamento mergulha no concreto, pois, citando o sábio (pseudo-) Dionísio, "malum autem contingit ex singularibus defectis" - para conhecer o mal é necessário voltar-se para os modos concretos em que ele ocorre. Assim, é freqüente encontrarmos nas discussões de Tomás sobre os vícios - para além da aparente estruturação escolástica - expressões de um forte empirismo como: "Contingit autem ut in pluribus..." (o que realmente acontece na maioria dos casos...). A doutrina dos vícios capitais é fruto de um empenho de organizar a experiência antropológica cujas origens remontam a João Cassiano e Gregório Magno, que têm em comum precisamente esse voltar-se para a realidade concreta. Cassiano - bem poderia ser escolhido o padroeiro dos jornalistas - é o homem que, em torno do ano 400, percorreu os desertos do Oriente para recolher - em "reportagens" e entrevistas - as experiências radicais vividas pelos primeiros monges; já o papa Gregório (não por acaso cognominado Magno), cuja morte em 604 marca o fim do período patrístico, é um dos maiores gênios da pastoral de todos os tempos. Ambos tratam de fazer uma tomografia da alma humana e, no que diz respeito aos vícios, surge a doutrina dos pecados capitais, que encontra sua máxima profundidade e sua forma acabada no tratamento que lhe dá Tomás. Essa doutrina - que, como tantas outras descobertas antropológicas dos antigos, está hoje esquecida - bem poderia ajudar ao homem contemporâneo em sua desorientação moral e antropológica. Seja como for, a Igreja ainda fala em seu novo Catecismo da doutrina dos sete pecados capitais, fruto da "experiência cristã" (ponto 1866). Os vícios capitais na enumeração de Tomás [2] são: vaidade, avareza, inveja, ira, luxúria, gula e acídia. Hoje, em lugar da vaidade, a Igreja coloca a soberba e em lugar da acídia é mais freqüente encontrarmos a preguiça na lista dos vícios capitais. Isto se deve a que a soberba é considerada por Tomás como um pecado, por assim dizer, "mega-capital", fora da série e, portanto, prefere falar em vaidade (inanis gloria, vanglória). Já a substituição da acídia pela preguiça parece realmente um empobrecimento, uma vez que, como veremos, a acídia medieval - e os pecados dela derivados - propiciam uma clave extraordinária precisamente para a compreensão do desespero do homem contemporâneo. Assim, toda uma milenar experiência sobre o homem traduz-se em Tomás em sete vícios capitais, que arrastam atrás de si "filhas", "exércitos", em total cerca de cinqüenta outros vícios, cujos nomes podem soar a nossos ouvidos hoje como algo estranho, como é o caso da já citada "acídia". E precisamente aí encontra-se nossa dificuldade contemporânea: é-nos difícil acessar as realidades ético-antropológicas por falta de linguagem: como se tivéssemos que transmitir um jogo de futebol, mas sem poder contar com palavras como: pênalti, carrinho, grande área, cartão, impedimento etc.
[4] A palavra meditação vem do latim, meditare, que significa voltar-se para o centro no sentido de desligar-se do mundo exterior e voltar a atenção para dentro de si. Em sânscrito, é chamada dhyana, obtida pelas técnicas de dharana (concentração), no chinês dhyana torna-se Ch'anna e sofre uma contração tornando-se Ch'an e Zen em japonês, em páli é Jhana.Concentrar intensamente o espirito em algo.
A meditação encontra-se no meio de dois pólos; a concentração e a contemplação. É comumente associada a religiões orientais. Há dados históricos comprovando que ela é tão antiga quanto a humanidade. Não sendo exatamente originária de um povo ou região, desenvolveu-se em várias culturas diferentes e recebeu vários nomes, floresceu no Egito (o mais antigo relato), Índia, entre o povo Maia, etc. Apesar da associação entre as questões tradicionalmente relacionadas à espiritualidade e essa prática, a meditação pode também ser praticada como um instrumento para o desenvolvimento pessoal em um contexto não religioso. A meditação costuma ser definida das seguintes maneiras:um estado que é vivenciado quando a mente se torna vazia e sem pensamentos; prática de focar a mente em um único objeto (por exemplo: em uma estátua religiosa, na própria respiração, em um mantra);uma abertura mental para o divino, invocando a orientação de um poder mais alto;análise racional de ensinamentos religiosos (como a impermanência, para os Budistas).
[5] Thomas Hobbes (Malmesbury, 5 de abril de 1588 — Hardwick Hall, 4 de dezembro de 1679) foi um matemático, teórico político, e filósofo inglês, autor de Leviatã (1651) e Do cidadão (1651).Na obra Leviatã, explanou os seus pontos de vista sobre a natureza humana e sobre a necessidade de governos e sociedades. No estado natural, enquanto que alguns homens possam ser mais fortes ou mais inteligentes do que outros, nenhum se ergue tão acima dos demais por forma a estar além do medo de que outro homem lhe possa fazer mal. Por isso, cada um de nós tem direito a tudo, e uma vez que todas as coisas são escassas, existe uma constante guerra de todos contra todos (Bellum omnia omnes). No entanto, os homens têm um desejo, que é também em interesse próprio, de acabar com a guerra, e por isso formam sociedades entrando num contrato social. De acordo com Hobbes, tal sociedade necessita de uma autoridade à qual todos os membros devem render o suficiente da sua liberdade natural, por forma a que a autoridade possa assegurar a paz interna e a defesa comum. Este soberano, quer seja um monarca ou uma assembleia (que pode até mesmo ser composta de todos, caso em que seria uma democracia), deveria ser o Leviatã, uma autoridade inquestionável. A teoria política do Leviatã mantém no essencial as ideias de suas duas obras anteriores, Os elementos da lei e Do cidadão (em que tratou a questão das relações entre Igreja e Estado). Thomas Hobbes defendia a ideia segundo a qual os homens só podem viver em paz se concordarem em submeter-se a um poder absoluto e centralizado. Para ele, a Igreja cristã e o Estado cristão formavam um mesmo corpo, encabeçado pelo monarca, que teria o direito de interpretar as Escrituras, decidir questões religiosas e presidir o culto. Neste sentido, critica a livre-interpretação da Bíblia na Reforma Protestante por, de certa forma, enfraquecer o monarca. Sua filosofia política foi analisada pelo cientista político Richard Tuck como uma resposta para os problemas que o método cartesiano introduziu para a filosofia moral. Hobbes argumenta que só podemos conhecer algo do mundo exterior a partir das impressões sensoriais que temos dele ("Só existe o que meus sentidos percebem"). Esta filosofia é vista como uma tentativa para embasar uma teoria coerente de uma formação social puramente no fato das impressões por si, a partir da tese de que as impressões sensoriais são suficientes para o homem agir em sentido de preservar sua própria vida, e construir toda sua filosofia política a partir desse imperativo. Hobbes ainda escreveu muitos outros livros falando sobre filosofia política e outros assuntos, oferecendo uma descrição da natureza humana como cooperação em interesse próprio. Foi contemporâneo de Descartes e escreveu uma das respostas para a obra Meditações sobre filosofia primeira, deste último
[6] Louis Pasteur (Dole, 27 de dezembro de 1822 — Marnes-la-Coquette, 28 de setembro de 1895) foi um cientista francês.[1] Suas descobertas tiveram enorme importância na história da química e da medicina.É lembrado por suas notáveis descobertas das causas e prevenções de doenças. Entre seus feitos mais notáveis pode-se citar a redução da mortalidade por febre puerperal, e a criação da primeira vacina contra a raiva. Seus experimentos deram fundamento para a teoria microbiológica da doença. Foi mais conhecido do público em geral por inventar um método para impedir que leite e vinho causem doenças, um processo que veio a ser chamado pasteurização. Ele é considerado um dos três principais fundadores da microbiologia, juntamente com Ferdinand Cohn e Robert Koch. Pasteur também fez muitas descobertas no campo da química, principalmente a base molecular para a assimetria de certos cristais.[3] Seu corpo está enterrado sob o Instituto Pasteur em Paris, em um mausoléu decorado por mosaicos em estilo bizantino que lembram suas realizações.
[7] O chupim (Molothrus bonariensis) é uma ave passeriforme da família Icteridae. Os machos de tais animais possuem uma coloração aparentemente preta, mas quando expostos ao sol, brilham em um tom azul-violeta, enquanto as fêmeas são mais pardacentas e menos reluzentes. Seu vôo é digno e seu canto é lindo. Conseguem se comunicar com sua família e retribuir carinho através de gritos.Também são conhecidos pelos nomes de anu, anum, arumará, azulão, azulego, boiadeiro, brió, carixo, catre, chopim-gaudério, corixo, curixo, corrixo, corvo, engana-tico, engana-tico-tico, gaudério, godério, godero, gorrixo, grumará, iraúna, maria-preta, negrinho, papa-arroz, parasita, parasito, pássaro-preto, uiraúna, vaqueiro, vira, vira-bosta e vira-vira.

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