A Velhice Saudável Pode ser Questão de Idade, ou de Filosofia?




Todo o homem saudável consegue ficar dois dias sem comer - sem a poesia, jamais.
Charles Baudelaire


Caso exista essa possibilidade de fato, onde o homem seja capaz de permanecer saudável sem ingerir alimentos, ou mesmo beber água, se considerado um ser dentro do paradigma de desenvolvimento mental necessário para galgar os degraus exigidos pelos desafios de cada dia, por vez íngreme da vida sem comida, educação, lazer, e arte, evidência comum no seio das nações, marcados pela exclusão social na idade avançada, e aqueles que formam os estratos mais necessidades da sociedade..

Não posso comprovar com exatidão, mas sei que no Brasil existe a omissão cultural sob a proteção da lei.
O governante fica preocupado com a próxima eleição, tratando de transformar o público em privado, sempre, desejando mudar princípios consagrados universalmente, como se nada fosse com os protagonistas.

Outra agravante dentro do nosso ranço cultural é eleger o imperador por prazo determinado, e depois o imperador cria estamentos feudais dentro da estrutura de poder, com vários nomes, cujo poder despótico deixa ser exercido escancaradamente pela classe medíocre, onde o descumprimento do Direito e da virtude da justiça, não é a base do Estado, mas o cupido partidário, pois os demais poderes são apêndices do detentor do poder de império, aonde a alteração do status dominante representa risco a estabilidade dos privilégios, conquistados nas esferas de influência do poder potencial, tanto moral e pecuniário, cujo efeito em regra atinge o ser mais velho em idade, ou pessoas com limitação pela deficiência, sem destacar as mulheres e as minorias, de qualquer natureza.

Não creio na existência da mudança do quadro exposto sob nossos olhos, em razão de se tratar de deformações culturais flagrantes no nosso contexto social, não tendo resolvido mandar a criança e o adolescente, pelo fato de ter feito especialização em mestrado ou doutorado na Universidade Pública ou Privada, especialmente ser bacharel em Direito, ou medicina, com os arquétipos e os biótipos criados pela classe dominante, de mais de um século de escravocracia, empolada, fria, e serviçal dos interesses externos, especialmente dos privilégios outorgados pelos favores contidos dentro do Estado Oficial, pois na verdade cada político se alimenta do leite público.

Pois no Brasil o ente federado não sofre a insolvência, nem decretação de falência, ficando fácil agir como agia o grupo de saduceus, que exploravam o comércio lucrativo no templo, quando Jesus de Nazaré dissera esta casa era só de oração, e não da prática de exploração da riqueza, e o empobrecimento do povo, cujo ato o custara à cruz, sem nenhuma compaixão pelo grupo que controlava o conselho religioso controlado pelo homem de nome Caifás, que era rico e se encontrava a serviço do império Romano, sendo que Pilatos mantinha o privilégio, a fim de garantir o controle sobre o povo Judeu.

Os idosos viviam no mais completo abandono, pois é sabido pela descrição histórica, que a maioria dos velhos ficavam inutilizados para exercícios do labor, muito jovem por causa da catarata no olho, pois existe um escrito considerado apócrifo, noticiando que José, perguntou a Jesus, quando criança, qual o presente que ele o daria na vida, e Jesus dissera: Olha, eu lhe darei dentes sadios, e olhos para enxergar sempre.

Ademais, em algumas civilizações o velho sempre teve papel importante na distribuição da sabedoria trazida pela tradição oral, especialmente, a experiência do passado, também, a obrigação de repassar aos moços o conhecimento da operação dos ofícios, podendo neste caso ser o sacerdócio, através da iniciação, engenharia, a fim de construir os templos, pontes, palácios e as bibliotecas, onde o conhecimento pela sabedoria da experiência conseguiu levar algumas dessas civilizações ao apogeu no seu desenvolvimento humano, sendo os processos civilizatórios interrompidos, essencialmente por causa da corrupção das instituições, a pilhagem, o saque dos seus patrimônios (observe a destruição de Alexandria, Egito, e por efeito a sua Biblioteca, e destruíram as obras de Hermes, e também a destruição das civilizações Inca e Asteca, sem falar do genocídio lento feito com os nossos nativos não Brasil).

A velhice não é algo para ser desprezado como agem os brasileiros, porque os moços brasileiros pensam que não irão envelhecer em razão da cronologia, ou que jamais seriam pessoas limitadas, cujos corpos seriam sempre sarados, equivalentes em predicados ao deus Apolo.

O velho em qualquer lugar do planeta tem a experiência de uma vida, uma trajetória, que merece ser levada em conta na formulação de metas ou das políticas públicas do Estado, fatos desprezados pelos agentes do poder, e pelos operadores do Direito, aonde a omissão por vez pode ser a tônica da justificação da utilização da figura de linguagem do eufemismo da ação.

No Brasil existem muitas Leis para proteger as minorias, mas as leis são inócuas em razão da deformação cultural, especialmente as normas protetivas dos idosos, pessoas com deficiência, ou daquelas pessoas adversas ao arquétipo estabelecido pela classe dominante, que utiliza os recursos públicos para criar vantagens aos amigos da oligarquia que controla o aparelho de Estado, tanto os déspotas da direita, como os déspotas da esquerda, ambos são cruéis com os mais fragilizados pela idade, ou pela limitação, fruto de acidente, ou enfermidade incurável, que os limitam o exercício pleno da cidadania.

A igualdade do idoso com o moço, da pessoa com deficiência, e o sarado - homo ereto, inexistindo na aplicação do Direito, tudo se leva para o campo da falácia, pois a evidência põe contra a premissa maior, pelo fato de não existir a garantia de o contrato social ser respeitado pelos agentes públicos, especialmente, no caso da idade avançada, devendo ser observado princípios universais consagrados pela humanidade.

A sociedade de equidade se pauta na essência, e na potencialidade do princípio da virtude, necessária a estabilidade das instituições convencionadas pelo ser político, com relevo a comunidade familiar.

A existência do Estatuto do Idoso sem o reconhecimento pela sociedade do valor da experiência, sem a retribuição pela aposentadoria digna, dentro da fiel contrapartida do Estado, assegurando aos homens e mulheres acesso ao lar, lazer, a cultura, turismo, assistência médica e hospitalar sem filas, devendo ser cumprido primado do direito de ter a mesmo tratamento dado à sociedade burguesa, sem distinção de status social, profissão, ou credo político, étnico, nome familiar, conta bancária, e tráfico de influência.

Pois o acesso ao direito da burguesia deverá ser de todos, e não de grupo de deputados, senadores, vereadores, prefeitos, servidores públicos de todos os poderes, como também, imperadores do Poder Executivo, sendo o direito um bem difuso por natureza, que não possível negar a sua origem, e a necessidade de cada comunidade local, seja na associação de moradores, ou nas suas atividades normais..


A distribuição da renda necessária não se funda na equação do teorema da miséria, pois quem possui muito deve contribuir para que o percentual seja diminuído substancialmente, sendo aproximadamente, noventa por cento da população encontra-se fora dos padrões de desenvolvimento humano, comparado as nações mais desenvolvidas do Planeta, fato não verificado nestas terras, sendo aplicado indecentemente o aforismo, aquele que puder mais, deverá chorar menos, ou chora na fila da previdência, sem direito a assistência das suas necessidades básicas, com rapidez e eficiência, pois aqui é sabido o direito deve ser exercido pela próxima geração, já que ninguém terá a sobrevida de Matusalém, cujo homem não se tem informação se fora mito ou esperança, e nem teria a convicção formada sobre os efeitos da morosidade e da burocracia do Estado, funcionando a serviço dos correligionários políticos, ou então, dos parentes, com mais gravidade, através de uma casta controladas pelos feudos familiares, ficando evidente, que o processo de opressão de ontem é o mesmo de hoje, com a alteração da máscara.

Observe particularmente, como o Estado Brasileiro trata os aposentados, pois todo o dia aparece uma lei nova, a fim de suprimir direitos, consagrados em princípios universais, que nada mais, nada menos fazem parte dos Direitos universais da Pessoa Humana, princípios sedimentados na civilização Greco-romana, no Judaico-Cristão, e escritos pela Revolução Francesa de 1792, e posteriormente as evoluções naturais havidas em face das Convenções e Tratados Internacionais, e especialmente as duas últimas guerras de 1914 e de 1939, onde nos sessenta anos posteriores, e especialmente no alvorecer do século XXI, com a evolução da ciência, e da tecnologia, justiçando o aumento da expectativa de vida de grande parcela da humanidade. Não existindo no planeta terra o aumento adequado da produção de gêneros alimentícios e de primeira necessidade, pela ausência de políticas públicas de proteção a atividade agrícola, e a proteção do manancial de água potável, pois é de conhecimento público, que o coeficiente populacional cresce em progressão geométrica, quanto à produção de alimentos e água, aritmeticamente.

O Brasil é uma terra, onde nos estádios de futebol se executam o Hino Nacional dez minutos antes de iniciar o espetáculo, onde não se vê o pavilhão nacional exposto sobre a janela de qualquer lar, que ninguém sabe as razões da bandeira se encontrar a meio mastro, nem o signatário do Decreto de declaração da independência, pois se confunde proclamação com a declaração, sendo que a República foi proclamada, através de um Recado dado pelo homem de confiança do Imperador, dizendo que o mesmo deveria ir para o exílio, morrendo em París, com honras de chefe de Estado, tendo seu corpo sido transportado para ser sepultado junto aos Bragança, em Portugal.

No Brasil se dá ordens por bilhetes, ou então se depõe um Presidente pelo telefone, não existe o parlamentarismo de direito, mas o governo faz uma maioria, baseada na cooptação partidária, e na troca de Ministérios, criando tantos empregos e cargos quanto bastarem para satisfazer o interesse do Poder Executivo, e cada Governo nasce a Constituição a seu gosto, pois o Brasil já chegou a sétima constituição, e atual com uma enormidade de Emendas a Constituição, pois as Constituições daqui segue o sabor dos ventos, e os interesses das forças ocultas, ontem com mais ingerência no ato de governo, hoje, com menos influência, pelo fato do exercício do direito de expressão, e com o advento da internet, telefonia, rádio, e a televisão.

Aqui se entende tudo, mas se muda tudo, mas não se muda o principal, trocando-se o vício, pela virtude, pois serviço público se compreende como um cabide público, e uma mamadeira pública, existindo uma teoria, de que quanto pior, melhor, ou façamos uma bagunça organizada sob o a força do cassetete de cada dia, com desculpas, da legitima defesa, ou da segurança nacional, como se nacional, não tivesse o étimo relacionado com nação, e nação é povo que fala a mesma língua, crê no mesmo deus, e preserva a pátria - local onde foi sepultado os antepassados.

Com idade a gente aprende a reconhecer que ter dinheiro faz a diferença, que a democracia é bom regime pelo fato os mais ricos ficam mais ricos, rico tem mais proteção, se aumenta a carga tributaria em nome do estado de direito, e o pobre fica preso dois anos, mesmo sendo inocente adolescente de quinze fica numa cela com vinte homens, a minoria tem o direito de reclamar sem levar nada, mais de um milhão de alunos do ensino fundamental não sabem ler e nem escrever, sem falar dos analfabetos funcionais com curso superior, pois Voltaire no Cândido, diz que o homem gosta de três coisas: - Amor, fazer o mal, e falar tolices.

Conclui-se no presente caso, que a democracia é ótima, porque ninguém conseguiu criar coisa melhor, principalmente, a democracia de rir, mesmo que seja da própria desgraça, condição básica de uma vida saudável.

Para Cícero (1999) não se deve atribuir à velhice todas as lamentações da vida; quem muito se lamenta, para ele, faz isto em todas as idades do processo de viver, pois os seres humanos inteligentes sempre tentam afastar o temperamento triste e a rabugice em qualquer idade. Acrescenta ainda que sejam quatro as razões detestáveis da velhice: o fato desta fase afastar o ser humano da vida ativa; a constatação de que ela enfraquece o corpo; a condição de privar-nos dos melhores prazeres e a aproximação com a morte. Em seguida ele passa a contestar cada uma dessas razões, trazendo como exemplos figuras e situações conhecidas da época. Também é de Cícero a célebre frase comentando a existência de seres humanos que, como alguns vinhos, envelhecem sem azedar-se, vide in (Cícero, A Velhice Saudável, Coleção Grandes Obras do Pensamento Universal, 63, Editora Escala – SP).
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Eu completo que, sendo o envelhecimento um conjunto de alterações biológicas, psicológicas e sociais, estas se configuram em novas situações vivenciadas pelo ser humano e que a presença desse novo, muitas vezes pode representar o inusitado e a expansão de capacidades inovadoras e prazerosas para o idoso. Sêneca (20 a.C.-65 d. C.), outro grande romano, defendeu a velhice em suas cartas a Lucílio, onde afirma que a velhice é boa, como tudo que é natural e que não revela nenhuma decadência, continuando, assim, 100 anos depois, as idéias de Cícero. Na opinião de Sêneca (1999), para que se possa ter tranqüilidade é necessário que se aceite o processo de envelhecimento e se tire o melhor proveito desta fase de vida, que poucos seres humanos têm o prazer de galgar. Penso que, a oportunidade de continuar vivo e lutando pela vida, rompe laços de exigências passadas e torna o ser humano idoso um lutador satisfeito, um vencedor.

O importante é reconhecer o valor da sabedoria adquirida pela experiência, que a idade traz consigo, mas também aprender que o jovem de hoje será o idoso de amanhã, pois a vida é transitória, como transitórias são as tempestades de verão, ou a brisa suave de cada manhã, nada se sobrepõe ao exercício da virtude da prudência, e da justiça, onde o amor passa incondicional ao ser como seu próximo deve ser a alavanca na construção da civilização humana, dentro da liberdade e da responsabilidade.

Por isto cada hábito sancionado pela Lei é essencial a construção da harmonia social, pois neste caso a lei de proteção ao idoso é necessária à acessibilidade aos bens da civilização, bem ainda, as convenções e tratados internacionais, que consagraram no seu texto direito do homem, universalmente reconhecidos.

A cultura é uma trava ao desenvolvimento humano, pois a deformação dos valores culturais, sem a virtude não existe possibilidade de respeitar o homem pelos serviços prestados ao seu povo, nem reconhecer a prática da virtude como a conquista de postos de honorabilidade pelo mérito.

A velhice não pode ser tratada como cronologia, pois se fosse assim Deus seria o mais velhos de todos os seres, pois Deus é eterno e presente, e se o homem é sua imagem e semelhança. Logo o homem é Deus, pois Deus é ser sem tempo, sendo tão-só presente. O corpo envelhece pelo fenecer de cada célula perecível, produto da argila, sendo que imortal é a inteligência, onde reside o poder criador do espírito, cuja matéria é o pensamento, que se denomina de alma.

Assim acredite que toda velhice é resultado do encontro da sabedoria e da experiência, com o seu presente, sendo a premissa da inteligência racional o encontro com o pensamento, através do tempo, pois cada ser busca a sua realização pessoal, onde inventar Deus, ou matar Deus, ou descrê em Deus será essencialmente, e potencialmente irrelevante, pois a sabedoria o leva sempre para o mesmo ponto, o ponto de onde começou todas as razões da existência, e assim cada ser quando chega ao fim da vida começa a recordar com freqüência sobre fatos do passado, como se fosse o seu presente, talvez pela aquisição de enfermidade, mas sempre pelo fato do ser ter esquecido sua relação solidária com todos os homens e mulheres, pois bom o senso, a prudência, e a justiça o conduz a perenidade do amor, no topos de Deus, seja assim crente ou ateu, o fim será o mesmo, e o tamanho da cova rasa é diametralmente igual, solenidade desagradável, mas impossível de ser evitada pelo conhecimento humano, não é?

Não esqueça meu caro amigo, o próximo velho certamente pode ser você.

Todas as coisas, resume-se assim:

As revoluções, como os vulcões, têm os seus dias de chamas e os seus anos de fumaça.
Victor Hugo

Os anos ensinam muitas coisas que os dias desconhecem.
Emerson


Pense!

A ACADEMIA CRICIUMENSE DE FILOSOFIA – ACF
, pode ajudar a pensar.









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