Catilina - AConspiração Dentro do Nosso Quintal


Gilson Gomes

Advogado



O grande Cícero fizera seu Primeiro Discurso  contra Cantilina no dia 8 de Novembro de 63 a.C., sendo que o referido discurso fora feito  na tribuna do Senado Romano contra o conspirador Catilina,  sendo que Cícero na sua grande erudição como tribuno dissera assim:
 – Até quando,  enfim, ó Catilina, abusarás da nossa paciência? [1]
Saiba que por onde andas sempre haverá um dedo duro.
Cícero era prudente, um homem  integro, exemplo aos homens de todas as gerações.  Não suportava as rasteiras, sendo que ele mesmo fora vítima da sorrateira intriga por causa do poder em tempos de luta pelo comando de Roma.
Não há como se livrar das conspirações no nosso meio, se é verdade que o homem é um ser por natureza político, também deve ser verdade que tal primata  trairá sua mãe, cometerá incesto com a filha, e mandará matar o primeiro que contrariar seu interesse,  e por falha na sua estratégia  se sentir acuado pelo fato de não ser do sua conveniência dividir o pedaço do jabá com os demais, pior no momento que algum homem mais genial colocar em risco a sua estabilidade, ou o posto que julga ser  seu pela posse usucapienda.
Evidente que tudo é transitório e finito, não possibilidade de se fazer usucapião daquilo que não o pertence, mas se trata de outorga do povo ou pelo múnus exercido em nome de alguém. Por isso não pode existir a posse e nem se obter pela usucapião em face da sua natureza.
As traições são normais desde a antiguidade remota e no tempo presente. Basta ter um pirulito na sua mão e o olho gordo bate, e  já fica grande, sendo verdadeira a premissa  - faria pouca, o meu pirão  primeiro -, aí então, se inventa todas as mazelas, inclusive se deseja   fazer que acreditemos no – Papai Noel, e  que a criança vem ao mundo por ato  - da cegonha.
Ninguém conta a origem da sua fortuna, como não se conta quem foi que comeu quem, ou se em nome da diversidade  se pode perverter todos os valores, e trair o colega de profissão.  Se  é  verdade que todo direito se contrapõe uma obrigação, e se a sociedade civilizada escolhe o estado democrático de direito. Logo direito é para ser observado, e ter respeito a autoridade emanada do voto. Não adianta puxar no saco para manter seu posto, se a origem do posto não tiver sido uma  justa causa e legitima. Ninguém fica no posto para guardar vaga de Partido político, mas sim, porque a vaga pertence ao povo, e o Contrato Social preceitua o receituário e o ritual à sua admissão. Não  se pode  crescer  sem adquirir  a experiência e o aprendizado    ao longo da  vida. É preciso valorizar o ser, e dar  valor  ao talento alheio, pois por causa de tais ingredientes  se dera as traições:
- Surgiu Esaú e Jacó, com o prato de lentilha.
- Depois os irmãos venderam José para o sacerdote do Egito.
- Judas traiu Jesus.
- Surgiu o Sun Tsu, com a “Arte da Guerra”.
 - Surgiu o rei da França, Felipe, o Belo, dizimando os Templários, silenciando-os no fio da espada e nas masmorras fétidas, entre ratazanas; para dividir seus bens, seu rico espólio, e não pagar dívidas contraídas.
- Surgiram as perseguições de Nero, no Império Romano, onde eram matados na arena, os cristãos, porque o Imperador precisava justificar o incêndio na cidade Roma.
- Surgiram as carnificinas dos cristãos, jogando irmão contra irmão, a partir do Concílio de Nicéia, na era de Constantino, quando era passado ao fio da espada, quem pensasse diferente de uma elite eclesiástica, fascista e arrogante, que não admitia que alguém fosse capaz de pensar diferente ou tivesse a ousadia de discordar da hierarquia, embora desse a vida pelo Evangelho de Cristo. Do monismo  de Cristo e de Platão, se passa ao dualismo prático de Aristóteles.
- Vieram os espetáculos das feras no Coliseu de Roma e as tochas humanas pelas ruas. Na verdade matar dava popularidade, especialmente quando o espetáculo era feito com aquele que na concepção dos controladores  do Estado possuíam controle sobre do direito de pensar.
- Vieram as tragédias e os genocídios de Uganda, e  e outros  tão cruéis quanto os vistos nos espetáculos executados  com os crocodilos de Idi Amin Dada Oumee (Koboko, 1925 — Jidá, 16 de Agosto de 2003) foi um militar e ditador de Uganda, que governou o país de 1971 a 1979).
- Veio a  matança atroz e sanguinária de índios Incas e Maias; a matança feroz de índios da América do norte e do sul,  e tantas outras atrocidades  pelo metal existente na terra, então, a necessidade de expandir impérios e aculturar povos pelo derramamento de sangue, com a infecção pelas doenças trazidas pelos brancos.
- Castraram os ideais da liberdade e da dignidade humana, conspurcando o Evangelho e os templos cristãos. Os criminosos detentores do poder  passaram por inocentes, defensores da dignidade e os inocentes foram condenados a atrozes sofrimentos, com seus familiares. Seus bens foram distribuídos entre áulicos e inúteis sabujos. Os sadios passaram por leprosos e os leprosos por sadios. Vieram as  guerras de religião, da Reforma e Contra Reforma, derramando sangue de irmãos,  - em nome de Deus -.  Os inquisidores de ontem,  travestidos de cruzados e guardiões da santidade e da fé. O padre não batizara  o filho de um fiel porque sua mãe professara  espiritismo, quando na verdade o espiritismo,  não condena o evangelho, e se trata de um grupo que surgira dentro do Cristianismo institucional. Onde anda a igualdade, e direito de expressão de credo e opinião, desde a lei Afonso Arinos. Todos possuem o direito de  contraditar nossas opiniões,  desde que nos dêem o direito de descordar. Segundo Platão opinião não é ciência. Pois a ciência possui suas próprias  leis

- No terceiro quartel do século XX, (1994) na África, em Ruanda, as pessoas da tribo dos hutus resolveram exterminar as pessoas da tribo dos Tutsi e fizeram uma carnificina geral, matando sem motivos, quase um milhão de cidadãos.  
E as conspirações seguem em nome da ordem e da lei, mero positivismo, sem  humanidade alguma. O pior é o eufemismo, que mais parece o descaramento da linguagem.
- Na 1ª Grande Guerra,  além de outras carnificinas atrozes, foram mortos mais de 1,5 milhão de armênios em criminosa ação de genocídio de um povo. Como aconteceu com os Judeus nas mãos dos nazistas, mas não só com os judeus, também com os ciganos, e outras etnias que fizessem parte do perfil da raça pura.  É bom esclarecer que a matança dos armênios  foi  a mando do Governo Bolchevique, comandado por Stalin, que da sua Dacha no Trem,   comandava as maiores atrocidades, inclusive, um massacre de Judeu no Gueto de Varsóvia, cujo massacre se atribui aos nazistas, mas que pela sua natureza, e fronteira com a Rússia tudo leva  a acreditar que tinha sido por ordem  de Stalin, anterior a invasão nazista imposta aos Poloneses.

- Desastres deste nível repetem-se por toda a parte, nos tempos modernos, sem exceção alguma, não importa se o homem for justo e honesto, se paga religiosamente seus impostos, quando cair na desgraça de um déspota, pode preparar  o manjar para as formigas. E aí subiu!
Percebe-se que tudo gira em torno da luta pelo poder, dinheiro, e muita  adulação. Fruto da vaidade humana. Ninguém nos quer dar aquilo que nos pertence, se quisermos deveremos  percorrer o caminho e matar um leão a cada dia, travar um batalha entre o Eu e o Ego, porque não basta ao homem ter pernas e olhos bons, se for deficiente visual, ninguém crê que o cego seja capaz de lançar sua pipa, então, ter uma boa ideia como – O admirável mundo novo -, nem que o  Almirante Nelson  sem  uma perna e um dos olhos  pudesse ter derrotado Napoleão na Batalha de Waterloo, ocorrida em  18 de Junho de 1815. Na  Bélgica; nem que Homero, cego, fosse capaz de escrever sua Iliada;   e como pôde Paulo de Tarso, cego,   ter escrito as suas memoráveis cartas, que até hoje sensibilizam   a  alma de um homem de bem. È Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido como  - Aleijadinho -  dera  asas a à arte barroca do Brasil, e Stevie Wonder, cantor e compositor,  também é cego.
Como se pode conspirar contra a realidade, melhor contra a práxis, por acaso não devemos buscar a verdade do fundo da nossa alma, melhor como dizem os orientais, a nossa – satyagraha (O princípio do satyagraha, frequentemente traduzido como  - o caminho da verdade -  ou - a busca da verdade -, também inspirou gerações de ativistas democráticos e anti racismo, incluindo Martin Luther King e Nelson Mandela.). Movimento de Gandhi em favor da  luta pacífica, sendo  que,   frequentemente  afirmava a simplicidade de seus valores, derivados da crença tradicional hindu: verdade (satya) e não violência (ahimsa).. Pois toda conspiração termina em tragédia  e o resultado pode ser a violência.
Não pode ser o caminho da virtude o escolhido pelo delator. È  em regra fútil e torpe.
Não se justifica os meios e nem os fins baseados em Maquiavel, no caso de delação conspiratória.
Não se pode aceitar Catilina a sua insolência, ninguém  pode dar aquilo que não possui. Não se discute a escolha do detentor de mandato, se estiver conforme a lei,   o Direito, e a justiça. Logo é melhor escolher um zarolho, ou caolho do que ser ceifado pelos abutres, ou então, pela grande vaidade. Não sei se o homem justo cego,  não tem mais valor do que um homem de boa visão corrupto, traiçoeiro, conspirador e cujo atos se encontram dentro do mundo da perversão.
Agora Catilina, como explicar a sua conspiração silenciosa contra um homem de bem, com  denúncias sem  razoabilidade, cuja finalidade é  retirar o outro do seu caminho, e se tornar como o advogado do diabo, que está a procurar chifre na cabeça do cavalo, ou  então na noite do Halloween, todos feios e mascarados, sem  razão de ser, ótimos bruxos para festa do  final de Outubro.  Certamente, por ironia, a festa das bruxas pode reunir o exército das feias e feios que rondam as noites, como se fosse uma catarse  dos seus interiores mundos.
O dedo do conspirador é  duro e grande, sendo que as vezes examina.   Pior do que Joaquim Silvério dos Reis – delator dos inconfidentes -, e outros tantos servidores da ralé sob véu  da graduação em safadeza se arvoram em senhores do universo, egocêntricos, sempre andam com suas mãos sujas pela corrupção,  - o  lobos do próprio homem. O delator sempre troca favores e agrados, em regra pode ser incompetente e desonesto, são  raras as  exceções.
E daí Catilina? Onde  será a próxima investida?
Manda  oficio ao paço, ou eu passo sua ignomínia e frágil decência, permaneço bem aos olhos do universo.
E agora Catilina, porque mandas o teu advogado com erros de regência verbal dedurar o bem, pelo mero prazer torpe de investir contra o logos.
Hoje, não será como ontem. Amanhã quem sabe não terá mais os pulmões para mandar o oxigênio ao sangue, as pernas fenecerão, e os olhos entrará nas trevas do infinito.
É o barro da pior da qualidade, porque barro bom pode produzir bons tijolos. As vezes se fazer companhia a mulher de ló[2], transformado em sal. Nunca olhe para atrás.
A lealdade e a honestidade são bens  infungíveis e indisponíveis  da humanidade. O homem ético respeita o direito alheio, não delata, não trai colega de trabalho, nem trai sua mulher e seu marido. O homem  pode  fazer o que ele quer, mas nem sempre  pode  querer  o que quer, pois estas palavras estranhas são de Chopenhauer, citadas por Einstein, contem uma verdade profunda.[3]
Lamenta-se que nos subterrâneos dos labirintos de Creta, as forças ocultas agem com destemor, sendo a falácia a maior prova da sua desfaçatez  e da cara de pau, já que a ilegalidade não se aplica ao defensor, o que exercer o  - jus postulandi -, estabelecidos  pela  Declaração de Bolonha das Nações Europeias[4].
E  aí,  Catilina, ainda  terá folga para conspirar?
Não mate a luz do fundo do túnel É,  pelo visto Catilina é alegre com a prática da maldade.
No nosso quintal  tem crescida muita erva daninha, precisamos fazer uma boa canigem. Pois que o mundo ainda produza alguns Cíceros.

Pense.

ACADEMIA CRICIUMENSE DE FILOSOFIA – ACF.










[1] Cícero, As Catilinárias, pags. 30/31/32,  Editora Martin Claret Ltda, 2008, 2ª Ed: (Primeiro Discurso – In Senatu Habita – 8-11-63 a. C.) Já não podes viver mais tempo conosco  I  Até quando, enfim,  ó Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda há-de zombar de nós essa tua loucura? A que extremos se há-de precipitar a tua audácia sem freio? Nem a guarda do Palatino, nem a ronda nocturna da cidade, nem os temores do povo, nem a afluência de todos os homens de bem, nem este local tão bem protegido para a reunião do Senado, nem o olhar e o aspecto destes senadores, nada disto conseguiu perturbar-te? Não sentes que os teus planos estão à vista de todos? Não vês que a tua conspiração a têm já dominada todos estes que a conhecem? Quem, de entre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na noite passada e na precedente, em que local estiveste, a quem convocaste, que deliberações foram as tuas?  Oh tempos, oh costumes! O Senado tem conhecimento destes factos, o cônsul tem-nos diante dos olhos; todavia, este homem continua vivo! Vivo?! Mais ainda, até no Senado ele aparece, toma parte no conselho de Estado, aponta-nos e marca-nos, com o olhar, um a um, para a chacina. E nós, homens valorosos, cuidamos cumprir o nosso dever para com o Estado, se evitamos os dardos da sua loucura. à morte, Catilina, é que tu deverias, há muito, ter sido arrastado por ordem do cônsul; contra ti é que se deveria lançar a ruína que tu, desde há muito tempo, tramas contra todos nós.  Pois não é verdade que uma personagem tão notável. como era Públio Cipião, pontífice máximo. mandou, como simples particular, matar Tibério Graco, que levemente perturbara a constituição do Estado? E Catilina. que anseia por devastar a ferro e fogo a face da terra, haveremos nós, os cônsules, de o suportar toda a vida? E já não falo naqueles casos de outras eras, como o facto de Gaio Servílio Aala ter abatido, por suas próprias mãos, Espúrio Mélio e, que alimentava ideias revolucionárias. Havia, havia outrora nesta República, uma tal disciplina moral que os homens de coragem puniam com mais severos castigos um cidadão perigoso do que o mais implacável dos inimigos. Temos um decreto do Senados contra ti, Catilina, um decreto rigoroso e grave; não é a decisão clara nem a autoridade da Ordem aqui presente que falta à República; nós, digo-o publicamente, nós, os cônsules, é que faltamos.
[2] Ló era irmão de Abraão. Gn 14:14, 14:16, Ló era sobrinho de Abraão. Gn 11:27, 12:5, 14:12 - Exitem outros exemplos na Sagrada Escritura. Observamos no Gênesis que "Taré gerou Abraão, Naor e Harã; e Harã gerou a Ló" (Gn 11,27). E Ló então era sobrinho de Abraão. Contudo no mesmo Gênesis, mais adiante Abraão chama a Ló de irmão (Gn 13,8). E mais adiante ainda em Gn 14,12, o Evangelho nos relata a prisão de Ló; e no versículo 14 observamos "Ouvindo, pois Abraão que seu irmão estava preso, armou os seus criados, nascido em sua casa, trezentos e dezoito, e os perseguiu até Dã" Gn 14:14 - Como vemos por esse texto bíblico, Lot era filho de um irmão de Abrão e no entanto Abrão chama Lot de Irmão sendo Ló somente sobrinho.
[3] Rohden, Huberto, Roteiro Cósmico, pag. 145, Editora Martin Claret Ltda, 1999.
[4] O vocábulo deriva da expressão em latim 'ad vocatus' que significa o que foi chamado que, no Direito romano designava a terceira pessoa que o litigante chamava perante o juízo para falar a seu favor ou defender o seu interesse. Em Portugal para se poder exercer a profissão de advogado deve ser-se licenciado em Direito (cursos de 4 ou 5 anos consoante a faculdade - ver Convenção de Bolonha -  e ter realizado um estágio de 24 meses no escritório de um patrono (colega com um mínimo de 5 anos de exercício profissional).

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