A Filosofia de Um Par de Botas.
Gilson Gomes
Advogado
Causa-me perplexidade
os acontecimentos de todos os
dias. Pois cada dia na parte matutina e
na vespertina sempre existe uma mudança, um dia muda o sinal da rua, outro muda
a cor do veículo, noutro ainda se muda o resto.
O resto pode ser a
comissão que fica no bolso, então, na boca do caixa, e o homem com um
celular na mão monitora o nosso
caminhar, claro, seu interesse pode ser aplicar um golpe, aquele denominado do conto
do vigário, já que nenhum homem se satisfaz com aquilo que possui como seu,
ganância, e egoísmo estão dentro do ser
humano. As forças do egoísmo.
Não compreendo as
razões de não anistiar o suposto infrator da moral e das boas maneiras, afinal,
no Brasil não se aprovou uma anistia em
favor de todos, evidente, que na época
não se desejava fazer uma anistia ampla, geral e irrestrita, decorridos mais de
vinte anos da sua aprovação, hoje, se diz que pela anistia os crimes cometidos
pelos repressores se encontra esquecido totalmente, será?
Os crimes contra a humanidade há anistia?
Mas, é certo
que os fatos passados nos intrigam,
porque não há como voltar no tempo. Nunca se sabe o que é melhor, se dar o perdão ou persistir com a
rixa ou na luta armada por causa incerta. Ao perceber o diagnóstico sobre a
conquista do espaço de Academo, e as ponderações de um e de outro lado, di-lo a prudência e o bom senso, que é melhor prevenir que remediar. Não se deve
alongar a prosa, quando se supõe que
todos buscam a virtude e o livre pensar.
Não
fica demonstrado o pensamento livre na rixa e na luta armada, porém, a
intransigência própria de Stalin, que
levara os seus desafetos para os campos da Sibéria. No caso, o perdão é mais
racional, porque se reconhece a ignorância do outro, segundo o pensar do Nazareno
– Pai perdoa-lhes porque eles não sabem o que fazem. De outra forma, persistir
com a rusga sem proveito algum não parece ser filosoficamente aceitável e
justo. Pois o perdão torna o ser como o
filho do homem – Cristico.
Político
se briga, mas se tiver em jogo a sua carreira, e os seus interesses, já se
abraçam, sendo uma bota para um, e a outra bota para outro, pode até ficar com
um pé na chuva. Eles não são filósofos, pois nunca foram amigos da sabedoria,
mas amigos da sua conta e do seu curral eleitoral.
Fazer
concessões não é fácil. Pois se mexer
com o ego e a vaidade, não existe nenhum reparo a fazer na obra de arte, já
que esse artista se basta, nunca será um
criador de novas harmonias, mas apenas fará a cópia de si mesmo.
É, falar daquilo que não nos cai bem é preciso
digeri como dissera na Filosofia de um par de botas, Machado de Assis, com muita propriedade:
Digeria o estômago, enquanto o
cérebro ia remoendo, tão certo é, que tudo neste mundo se resolve na
mastigação. E digerindo, e remoendo, não reparei logo que havia, a poucos passos
de mim, um par de coturnos velhos e imprestáveis. Um e outro tinham a sola
rota, o tacão comido do longo uso, e tortos, porque é de notar que a
generalidade dos homens camba, ou para um ou para outro lado. Um dos coturnos
(digamos botas, que não lembra tanto a tragédia), uma das botas tinha um rasgão
de calo. Ambas estavam maculadas de lama velha e seca; tinham o couro ruço,
puído, encarquilhado.
Por princípio não
me sinto bem pregar a quebra da disciplina e da instituição. Pois a fissura do comando demanda instabilidade. Não se pode
colher dividendos à construção na vida de inimigos, já que o
inimigo procurará obter a vingança, as
vezes a tragédia. O melhor é o perdão. Pois o perdão além de ser uma dádiva da graça, também pode ser bom à alma e ao corpo, sendo
enobrecedor do espírito.
Todas as coisas possuem no dizer do mesmo Machado de
Assis a bota do lado direito e a bota do lado esquerdo, quando afirma:
ESQUERDA. Pois então! Ele
gastava mais sapatos do que a Bolívia gasta constituições.
BOTA DIREITA. Deixemo-nos de
política.
BOTA ESQUERDA. Apoiado.
BOTA DIREITA (com força).
Deixemo-nos de política, já disse!
BOTA ESQUERDA (sorrindo). Mas
um pouco de política debaixo da mesa?... Nunca te contei... contei, sim... o
caso das botinas cor de chocolate... as da...
Assim nos resta muito pouco a fazer com
o desvio das nossas verbas destinadas à educação do nosso povo. Pois a
ideia criada ao longo do século XX é de
que somos um País de terceiro mundo, mesmo com as nossas riquezas naturais,
ainda não adquirimos o status de nação desenvolvida e rica.
Devemos deixar de fazer as nossas ações sem reflexão, mas também não
devemos nos esconder pensar que ficar
com como papagaio de pirata na foto com os nossos políticos poderíamos até, transformar o mundo.
Não é certo nos transformar em
massa de manobra na eleição, então, votar inconscientemente, como se tivéssemos
sobre o efeito da anestesia feita com as
promessa do novo ópio. Olhe em frente.
A dor do preconceito, da discriminação, e outras formas de violência só
sabe a intensidade da dor aquele que for vitima dela.
Não é o Juiz, nem o Promotor, o Prefeito, o Governador que irão saber como é ter a dor da alma, sendo que os mesmo lutam
para se manter no posto, um no mandato e outro na vitaliciedade, cujo resultado sempre será o
mesmo, pois quem libera o percentual da
receita é quem arrecada, e no caso o Erário, e quem é o Erário?
- O dono das botas.
Machado de Assis fora feliz com a sua reflexão filosófica, por isso nada
mais justo do que dizer na sua Profissão de Fé o que dissera Olavo Bilac:
Porque o escrever
- tanta perícia,
Tanta requer,
Que oficio tal...
nem há notícia
De outro
qualquer.
Não é assim:
- Procure os seus direitos, tanto requer, aqui
e acolá, sem resultado objetivo, já a justiça não impera, o que impera são
interesses e as conveniências.
Paulo de Tarso não teve defesa sobre o império de Nero, claro, Sêneca
havia morrido, e na primeira vez parece que existira a influência do mesmo, já que Paulo fora amigo de seu irmão que fora Governador da cidade de Corinto. Investigue.
A filosofia da bota da direita e a mesma da
esquerda, só muda o dono do coturno, e a forma de colocar no pé, e segue o
Machado de Assis:
BOTA ESQUERDA. É um
mendigo.
BOTA DIREITA. Um
mendigo? Que quererá ele?
BOTA DIREITA
(alvoroçada). Será possível?
BOTA ESQUERDA.
Vaidosa!
BOTA DIREITA. Ah!
mana! esta é a filosofia verdadeira: — Não há bota velha que não encontre um pé
cambaio.
Nada muda por acaso, mas só
por uma enorme transformação da nossa
consciência, que opera pela ideia o
conhecimento indispensável ao
atendimento das nossas necessidades, tanto as primárias quanto as essenciais.
Ai está o presente.
A questão é digeri, não é?
Pense.
A ACADEMIA CRICIUMENSE DE FILOSOFIA - ACF
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