O Político no Zoológico



Gilson Gomes

Advogado



Tendo o príncipe necessidade de saber usar bem a natureza do animal, deve escolher a raposa e o leão, pois o leão não sabe se defender das armadilhas e a raposa não sabe se defender da força bruta dos lobos. Portanto é preciso ser raposa, para conhecer as armadilhas e leão, para aterrorizar os lobos. Maquiavel - (Nicolau Maquiavel (Niccolò Machiavelli), (03 de maio de 1469 - 21 de junho de 1527). Filósofo e político italiano  - Florença).

1 – A natureza Política do Homem:
O homem é por natureza animal social. Sempre convivera em grupos, mesmo porque precisa se defender contra a suposta agressão dos demais homens, como dos animais carnívoros, e se fosse caso não deixar nenhum prato pronto aos  corvos.
Dizem  que a serpente do Éden,  esperta e sagaz,  fizera uma armadilha contra a Eva, e depois Eva por sua vez repassou a noticia alvissareira ao Adão, e Adão como tinha  o – olho gordo -, logo quis provar do fruto proibido, sendo passado pela mitologia  ou lenda, que  o fruto era a  maçã. Claro, que os antigos tinham na maçã grandes propriedades medicinais, e diziam quanto mais perto da maçã, mais longe do médico. Mas, nada disso, o fruto no caso, tratava-se do conhecimento. Então a serpente foi política  como sempre.
O Faraó do Egito precisava de alguém que  adivinhasse seus sonhos, referente as sete vacas gordas   e as sete vacas magras. Como José do Egito era profundo conhecedor das ciências ocultas, mesmo na prisão, deu a interpretação correta ao sonho do monarca, que entregou a José,  a condição de chanceler do Baixo Egito, que logo tratou de suprir as reservas de  trigo nos celeiros do Egito, a fim de satisfazer  as necessidades do povo durante  o período de escassez. O ato foi de enorme qualidade política.
Outro ato de repercussão política até hoje, refere-se o fato de Abrão  ter  dispensado sua escrava Agar, depois de ter gerado um filho com ela,  estando aí o conflito entre os descendentes de Isaac, pai de  Jacó  e os descendentes de Ismael, criando uma briga de mais de três mil anos entre Árabes e Judeus.  Briga entre  parentes.
Claro,  que os  povos   Cananitas e os  de  Siquém,     habitavam naquela terras, desde quando Abraão saiu de Harã,   na Mesopotâmia,  nas margens  do  Eufrates.  Voltaire no,  seu Dicionário Filosófico[1] afirma   ter o mesmo  saído de uma terra seca e fora para outra terra seca, de uma de idolatra para outra de idolatra. Mas, o que ocorreu fora um ato de  pura política, já que o  pai de Abraão era oleiro e havia falecido, então necessitava procurar outros fins que  justificassem  os meios[2] à subsistência.
O homem na sua evolução necessita de se agregar ou se associar em grupos, tanto para a guerra quanto para obter a paz. Nos seus vários períodos pré-históricos, até os períodos registrados, dede a caverna até chegar a concepção do Estado contemporâneo[3], a unidade familiar restritiva como a nossa, e o fato de se conviver no edifício e não se saber o nome dos vizinhos  que residem ao lado.
A natureza do homem é se associar, mesmo que seja para constituir a família e perpetuar a espécie, ele não pode ser uma ilha, cuja percepção já tivera Aristóteles concernente a  origem política do homem.
Nas sociedades romanas e gregas, e nas sociedades do continente africano, igualmente todas praticavam a necessidade da interação, tanto que o primeiro comercio exterior praticado no Planeta, que se tem noticia fora a  troca de cidades por ouro, com Rei de Tiro[4], pelo Rei Salomão, dizem que foi vinte toneladas  de produtos ofertado pelo Rei de Tiro na transação.
Alexandre, o Grande,  quando percebeu  que poderia perder a batalha na Índia, pelo fato de o exercito adversário utilizar elefantes resolveu se aliar ao adversário para vencer a guerra.
Dizem também, que havia pedido a morte de Aristóteles, seu preceptor, e Alexandre ao seguir para batalha montou no seu bucéfalo   e esqueceu de assinar a sentença, sendo por isso que Alexandre ficara com o mérito de preservar a vida de uma das maiores inteligências da humanidade, a quem devemos muito do que somos hoje.
Otávio estabeleceu o adultério feminino como crime, e também o casamento, dando herança  à mulher pelo fato de que Roma precisava de soltados, e existia uma baixa considerável na taxa de natalidade e fertilidade na cidade, tanto que isso é verdade que o mesmo exilou a própria filha, segundo dizem por ter se envolvido com Ovídio.

A abolição da escravatura no Brasil se deu porque a sociedade capitalista precisa criar consumidores, a fim de adquirir os produtos adquiridos pelos teares ingleses.
O absolutismo  surgiu porque os governos de França precisavam demonstrar seu poder perante a vassalagem, preparando assim, no tempo futuro a queda da Bastilha.
O regime Russo do tempo do Czar, trazia o perfil de Pedro, o Grande, e Catarina, a Grande, fato que  o impediu de impedir,   e negociar a revolução de 1917, compartilhado o poder com os revolucionários, resultando a morte da família do Czar.
Os alemães empobrecidos pela Guerra resolveram endeusar um populista e medíocre,  colocando  a culpa do fracasso econômico da Alemanha no povo  Judeu, e pelo voto, Hitler transforma o Partido  Nazista num único partido, isso que o mesmo colocara  os Comunistas no campo de concentração. Dizem que era só os comunistas que gostam de Partido único.  Hitler não era Alemão, e  desejava anexar a Áustria  ao  território Alemão.
É certo que nenhum   político sério acreditava  em Hitler, mas deu no que deu,  mais de cinquenta milhões de mortos numa guerra sangrenta.
O Governo Brasileiro possuía ótima relação com o Governo Alemão, tanto que entrega Olga aos Nazistas.
Não é preciso ser o pai dos pobres na política, mas é preciso possuir um povo esclarecido e politizado, tal premissa aborrece os detentores do poder. Criar um povo que pensa,  pode ser  criar  o atalhos contra as tiranias  dentro do zoológico, ou  no interior  do reino.
Todos nós sabemos que os políticos e a sua vassalagem não gostam de homens honestos, especialmente, os que não deixam  se corromperem  e  nem serem corrompidos, porque homens assim, não trazem lucro. Mas, apenas paz de espírito e  o prêmio da ser um homem justo. O que assistimos é  um país onde  vigora  um festival de  canalhice. Sejam canalhas, e farão parte do zoológico na companhia de gato e rato. Mas, o macaco aplaude.
Na verdade, hoje, nós precisamos  reconhecer que Maquiavel tivera razão ao dizer -  deve escolher a raposa e o leão, pois o leão não sabe se defender das armadilhas e a raposa não sabe se defender da força bruta dos lobos.
2 -  O Zoológico dos   Políticos:
“O homem é lobo do homem, em guerra de todos contra todos.Thomas Hobbes (1588 – 1679) foi um filósofo, teórico político, e matemático inglês,  famoso por seus livros Leviatã (1651) e Do cidadão (1651).


As sociedade organizadas,  dentro do reino animal podemos encontrar a das formigas,  que perambulam na superfície da terra; e do outro lado, a sociedade mais nobre  como a das abelhas (deborah). Pois  temos conhecimento que no reino das abelhas  há uma rainha, e o zangão (macho) fenece ao fecundar a rainha. Claro  que no reino da política não é tão organizado assim, aliás, na  prática existe alguns lobos vorazes, esperando para o jantar faustoso, com pratos  financiados com o dinheiro público,  já que Juvenal[5]  de forma muito sutil dissera assim - Quanto mais o dinheiro aumenta, mais cresce a vontade de possuí-lo.
Assim em política  tudo pode ser igual ao porco,  que come e depois vira o gamelão, tornando-se inimigos mortais, sim, por causa da conquista eleitoral, que muitas vezes possui sua origem no caixa de muitos dígitos, sendo o resultado o mesmo, mudando apenas as moscas, mas tudo fica como está,  já que nada se transforma, sendo o erro inaceitável, já  que  Voltaire dissera com muita propriedade -  A política tem a sua fonte na perversidade e não na grandeza do espírito humano.
A perversidade não é novidade no reino animal, a diferença é que no reino animal não se mata o animal da mesma espécie, e os políticos matam, porque em política se mata como ao argumento de Voltaire - ontrou-se, em boa política, o segredo de fazer morrer de fome aqueles que, cultivando a terra, fazem viver os outros.
O eleitor no reino dos lobos serve apenas para sufragar, e garantir a eleição de corvos para rapinar os cofres do erário como dissera Ronald Reagan, ao sentenciar - Eu achava que a política era a segunda profissão mais antiga. Hoje vejo que ela se parece muito com a primeira.
Sutilmente dissera o que a política, efetivamente é.
Ninguém acredita na mudança e na virtude dos políticos, é verdade que existem homens e mulheres de bem, mas como dissera  Neloson Rodrigues - Nada mais cretino e mais cretinizante do que a paixão política. É a única paixão sem grandeza, a única que é capaz de imbecilizar o homem.
Certamente pode existir um cão que goste de política, claro, que quando a cão gosta,  especialmente se o osso for bom, não porque insistem tanto nisso, é   uma premissa certa de que se não gosto, existe quem gosta, então outros farão as tiranias.  Por isso Platão tem razão - Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles gostam.
O que se percebe na política é muita corrupção,  e a morte das ideias. Pois  na política quem  pode mais deve chorar menos, ninguém considera o mérito do outro, somos apenas um voto., sendo uma luta para ver quem  ficará  com todo bolo, então Otto Bismarck, diz assim - política não se faz com discursos, festas populares e canções; ela faz-se apenas com sangue e ferro.
No reino animal possui as aves de arribação, sendo assim é a política, hoje é uma coisa e amanhã  será  outra, alguém conhece um político ser inimigo a vida inteira de outro político,  não se conhece, então Magalhães Pinto advertiu - Política é como nuvem. Você olha e ela esta de um jeito. Olha de novo e ela já mudou.
Mas e daí, como fica o reino, o reino animal é uma festa em ordem, muitos fazem pirotecnias, outros dão o aperto de mão, e ainda existem os que dão aquela batidinha nas costas, dizendo assim como dissera Platão -  O castigo dos bons que não fazem política é ser governados pelos maus.
Depois  os abutres encontram a carniça, e aí voam para bem longe, esquecendo-se das promessas e são  advertidos como Winston Churchill assim:

“A política é quase tão excitante como a guerra e não menos perigosa. Na guerra a pessoa só pode ser morta uma vez, mas na política diversas vezes.”

Os animais fazem a bela política, sendo assim contemplemos a revolução dos bichos, quiçá mais justa que as nossas matanças  sejam menos cruéis, e não se faça da miséria o pedestal para o garbo dos novos imperadores e aprendam com . Max Weber:

“Somente quem tem a vocação da política terá certeza de não desmoronar quando o mundo, do seu ponto de vista, for demasiado estúpido ou demasiado mesquinho para o que ele deseja oferecer. Somente quem, frente a todas as dificuldades, pode dizer "Apesar  de tudo!"  tem a vocação para a política.”

O nosso reino precisa da virtude, mas onde está a virtude, mas nesse caso contradiz  o nosso Stanislaw Ponte Preta, com essa - Política tem esta desvantagem: de vez em quando o sujeito vai preso em nome da liberdade.
A liberdade é um bom é por certo há limites, e isso  é um ato complexo na arte da política, porém, todo político diz ser um observador do direito e da justiça, mas aí fica uma grande incógnita quanto a sua aplicação, já que dizem que pode ser justo e não ter interesse e nem ser conveniente  à oligarquia do poder, como também ser justo mas não ser legal, sendo assim , William Shakespeare ironiza -  O diabo pode citar as Escrituras quando isso lhe convém. Não pode acreditar nisso, mas a realidade é nossa melhor testemunha.
O animal  precisa ser provado nas adversidades, mas todos em regra são trogloditas no momento em que seus interesses são contrariados, o  lobo político não  pode ser diferente, então  deve ser observado o que dissera Abraham Lincoln - Quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder.
Na guerra entre gato e rato parece existir -  um vale tudo -, quando se tem uma caneta azul na mão. O interessante é quando as coisas  podem  dar erradas, aí se fica a mercê da desilusão, não resta senão  a ironia de Luis Fernando Veríssimo - É "de esquerda" ser a favor do aborto e contra a pena de morte, enquanto direitistas defendem o direito do feto à vida, porque é sagrada, e o direito do Estado de matá-lo se ele der errado.
Não sabemos o certo,  entre o leão e a raposa,  o que possa ser dar errado. O que todos sabemos são as armadilhas e o desejo do leão por carne. O lobo sempre fora matreiro, o cavalo anda em marcha ou galope, camelo conhece o deserto,  o papagaio só repete velhos jargões, o pavão só vive de asas abertas, sempre misterioso, o gambá garante a cachaça, e a jararaca só espera o momento de jogar seu ardil, e a aranha viúva negra quase sempre aprece com seu veneno em teia, os peixes só observam e nadam nos rios e mares. É.   Ainda será como antes, até parece a arca de Noé. Todos desejam a arca, mas quando acaba a eleição, só ficara  Noé, e aí como fica a terra? Somente   com o porco, o gato e o rato?
O político pensa em duas coias, o valor da propina, e o número de votos na próxima eleição no seu curral, em regra  está ajustado com o seu cofre. Jamais pensa no povo, já que a miséria só serve para ter de ficar no ridículo. Político não se mistura.
3 – Conclusão:
Não sei o que acontecerá se todos os bichos são candidatos à realeza. Dizem que o cavalo é garboso, mas o tigre é orgulhoso, e onde fica o macaco  nessa área, já que o macaco não  une o dedo indicador e o polegar.
Os políticos deveriam  ter consciência de algumas premissas:
- Aqueles que concordam com uma opinião chamam-lhe opinião; mas os que discordam chamam-lhe heresia.[6]

- A fingida caridade do rico não passa, da sua parte de mais um luxo; ele alimenta os pobres como cães e cavalos.
- O primeiro raciocínio do homem é de natureza sensitiva...: os nossos primeiros mestres de filosofia são os nossos pés, as nossas mãos, os nossos olhos.[7]
- Sou escravo pelos meus vícios e livre pelos meus remorsos.[8]
-  Em Roma, / tudo se compra.[9]
- A única nobreza é a virtude.[10]
- A reputação e o crédito dependem apenas / da riqueza que se guarda no cofre.[11]
- A injustiça que se faz a um, é uma ameaça que se faz a todos.[12]
- É preciso saber o valor do dinheiro: os pródigos não o sabem e os avaros ainda menos.[13]
Mas  e    a política termina assim no dizer de  Skinner:

"Os homens agem sobre o mundo, modificando-no e são, por sua vez modificados pelas consequencias de sua ação."

Desta forma, todos os dias vemos o  jardim zoológico mais completo, sempre satisfazendo aquilo que   convém à carne, e não à alma, coisas do nosso colonialismo.
Dissera Kant que educar é ensinar a pensar,   mas, só faz filosofia  aquele que pensa livre. Não é um plagio da revolução dos bichos, mas quem sabe os bichos nos ensinam a viver melhor.
O político precisa gerir a polis e construir cidadãos e cidadãs com bom caráter, pelo bom exemplo, mas  fica  difícil.
Pense.
ACADEMIA CRICIUMENSE DE FILOSOFIA – ACF.


[1] Voltaire, Dicionário Filosófico:  - Abraão é um desses nomes célebres na Ásia Menor e na Arábia, como Tot entre os egípcios, o primeiro Zoroastro na Pérsia, Hércules na Grécia, Orfeu na Trácia, Odin nas nações setentrionais e tantos outros mais conhecidos por sua celebridade do que por uma história bem comprovada. Não falo aqui senão da história profana, pois quanto à dos judeus, nossos mestres e nossos inimigos, em quem cremos e que detestamos, tendo sido a história desse povo visivelmente escrita pelo próprio Espírito Santo, temos por ela os sentimentos que devemos ter. Dirijo-me apenas aos árabes; que se gabam de descender de Abraão por Ismael; que acreditam ter sido esse patriarca o fundador de Meca, onde teria morrido. O fato é que a raça de Ismael foi infinitamente mais favorecida por Deus do que a raça de Jacó. Uma e outra, é verdade, produziram ladrões. Mas os ladrões árabes foram incomparavelmente superiores aos ladrões judaicos. Os descendentes de Jacó não conquistaram mais que uma faixa de terra insignificante, que perderam. Os descendentes de Ismael avassalaram parte da Ásia, parte da África e parte da Europa, edificaram um império mais vasto que o império dos romanos e enxotaram os judeus de suas cavernas – que estes chamavam terra da promissão. Bem difícil seria, à luz da história moderna, ter sido Abraão pai de duas nações tão diferentes. Dizem que nasceu na Caldéia, filho de pobre oleiro que ganhava a vida fazendo pequenos ídolos de barro. É pouco verossímil que esse filho de oleiro se haja abalançado a ir fundar Meca a trezentas léguas de distância, de baixo do trópico, tendo de vingar desertos intransitáveis. Se foi um conquistador, certamente ter-se-á dirigido ao belo pais da Assíria. Se, como o despintam, não passou de um pobre diabo, então não terá fundado reinos senão na própria terra  Reza o Gênesis que tinha Abraão setenta e cinco anos ao emigrar do país de Harã, após a morte de seu pai Tareu o oleiro. O mesmo Gênesis, porém, diz que Tareu, tendo gerado Abraão aos setenta anos, viveu até a idade de duzentos e cinco anos, e que Abraão só saiu de Harã depois da morte do pai. Portanto é claro, segundo o próprio Gênesis, que Abraão contava cento e trinta e cinco anos quando deixou a Mesopotâmia. Saiu de um pais idólatra para outro país idólatra: Siquêm, na Palestina. Por que? Por que deixou as férteis margens do Eufrates por terras tão remotas, estéreis e pedregosas? A língua caldaica devia ser muito diferente da língua de Siquêm. Não se tratava de lugar de comércio. Siquêm dista da Caldéia mais de cem léguas. É preciso transpor desertos para lá chegar. Mas Deus queria que Abraão realizasse essa viagem. Queria mostrar-lhe a terra que séculos depois haviam de habitar seus pósteros. Custa ao espírito humano compreender os motivos de tal peregrinação. Mal arriba ao montanhoso rincão de Siquêm, obriga-o a fome a abandoná-lo. Vai para o Egito em companhia de sua mulher, à procura de com que viver. Duzentas léguas medeiam de Siquêm e Menfis. Será natural ir buscar trigo tão longe? Num país de que nem se sabe a língua? Estranhas viagens empreendidas à idade de quase cento e quarenta anos.
Traz a Menfis sua mulher Sara. Sara era extremamente jovem em comparação com ele, pois não contava mais que sessenta e cinco anos. Como fosse muito bonita, Abraão resolveu tirar proveito de sua beleza. “Façamos de conta que você é minha irmã,” – disse-lhe – “a fim de que me acolham com benevolência”. “Façamos de conta que é minha filha” – devia dizer. O rei enamora-se da jovem Sara e presenteia o pretenso irmão com muitas ovelhas, bois, burros, mulas, camelos e servos. O que prova – que já então era o Egito um reino poderoso e civilizado – por conseguinte antigo – e que se recompensavam magnificamente os irmãos que vinham oferecer as irmãs aos reis de Menfis.
Tinha a jovem Sara noventa anos, segundo a Escritura, quando Deus lhe prometeu que Abraão, que então tinha cento e sessenta, lhe daria um filho. Abraão, que gostava de vigiar, tomou o caminho do hórrido deserto de Cades, acompanhado da mulher grávida, sempre jovem e bonita. Como acontecera com o rei egípcio, enamorou-se também de Sara um rei do deserto – O pai dos crentes pregou a mesma mentira que no Egito: fez passar a esposa por irmã. O que mais uma vez lhe valeu ovelhas, bois e servos. Pode-se dizer que, graças a sua mulher, Abraão se tornou riquíssimo. Os comentaristas escreveram um número prodigioso de volumes para justificar o procedimento de Abraão e conciliar a cronologia. Cumpre-me, pois, a eles remeter o leitor. São todos espíritos finos e sutis, excelentes metafísicos, senhores sem preconceito e profundamente avessos à pedanteria.
[2]Maquiavel, O Principe,  - Os fins justificam os meios.
[3]  Estado Civil,  Barao de Montesquieu - Num Estado, isto é, numa sociedade onde há leis, a liberdade só pode consistir em poder fazer-se o que se deve querer e em não estar obrigado a fazer o que não se deve querer.
[4] Hirão foi rei de Tiro no período de David e Salomão, segundo relatos bíblicos de II Samuel 5:11. Quando David foi constituído rei de Israel, na idade de trinta e um anos, Hirão enviou mensageiros com madeira de cedro, carpinteiros e pedreiros que edificaram a Davi uma casa. Já no período do reinado de Salomão, Hirão manteve boas relações comerciais com Israel, e, em acordo comercial com Salomão, recebeu várias cidades em troca da provisão de ouro e pela madeira de cedro e cipreste que serviu para a construção do Templo de Salomão. As vinte cidades que Salomão deu a Hirão não o agradaram. Por esta razão, interpelou a Salomão: Que cidade são estas que me deste, irmão meu?[1] A forma como Hirão interpelou Salomão reflete o significado do seu nome e o tipo de relação que mantinham esses dois personagens bíblicos. "Hirão é a forma abreviada de Airão, “irmão dum poderoso”". As cidades, por serem arenosas e improdutivas, foram denominadas Terra de Cabul.  A terra, após vinte anos, foi restituída a Salomão e reconstruída para os israelitas. Wiersbe escreve que Salomão já possuía 3400 toneladas de ouro antes de começar a construir o templo,  e considera uma surpresa tal empréstimo de 120 talentos (4 toneladas e meia) de ouro, e oferece a explicação: “todo o ouro, prata e materiais para o templo inventariados em I Crônicas 22:28 - 29 eram consagrados ao Senhor, de modo que não poderiam ser usados para qualquer outra construção. Isso significa que Salomão precisou de ouro para a construção do “palácio”, talvez para os escudos de ouro, de modo que tomou emprestado de Hirão, dando-lhe vinte cidades como garantia. Essas cidades ficavam em localização conveniente, na fronteira da Fenícia com a Galiléia.” As escrituras também se referem a outro Hirão, mais precisamente Hirão-Abi, um sábio artífice, filho de uma judia, da tribo de Naftali, com um homem de Tiro. No mesmo período da construção do Templo, Salomão mandou mensagem para trazer Hirão-Abi para fazer toda a obra de cobre, e para ser artífice nas obras do templo.  Ellen G. White, escreveu a respeito desse artífice, referindo-se à utilização de um apóstata na construção do templo:  O rei fenício respondeu mandando Hirão-Abi, "um homem hábil, de entendimento, . . . filho de uma mulher das filhas de Dã, e cujo pai foi homem de Tiro." 2 Crônicas 2:13 e 14. Este mestre entre os artífices, Hirão-Abi, era descendente, pelo lado de sua mãe, de Aoliabe, a quem, centenas de anos antes, Deus dotara de sabedoria especial para a construção do tabernáculo. Assim, à frente do grupo de artífices de Salomão, foi colocado um homem não santificado, que exigiu vultosa remuneração por sua habilidade fora do comum. Os esforços de Hirão-Abi não foram motivados pelo desejo de prestar a Deus seus melhores serviços. (...).
[5] Juvenal, em latim Decimus Iunius Iuvenalis (60-140), poeta satírico romano.
[6] Thomas Hobbes (1588 – 1679) foi um filósofo, teórico político, e matemático inglês, famoso por seus livros Leviatã (1651) e Do cidadão (1651).
[7] Jean-Jacques Rousseau, (28 de Junho de 1712, Genebra - 2 de Julho de 1778, Ermenonville, perto de Paris). Escritor e filósofo suiço.
[8] Jean-Jacques Rousseau, (28 de Junho de 1712, Genebra - 2 de Julho de 1778, Ermenonville, perto de Paris). Escritor e filósofo suiço.
[9] Juvenal, em latim Decimus Iunius Iuvenalis (60-140), poeta satírico romano.
[10] Juvenal, em latim Decimus Iunius Iuvenalis (60-140), poeta satírico romano.
[11] Juvenal, em latim Decimus Iunius Iuvenalis (60-140), poeta satírico romano.
[12] Escritor e filósofo francês, Montesquieu escreveu livros que influenciam até hoje a ciência política. É conhecido principalmente por sua teoria da separação dos poderes
[13] Escritor e filósofo francês, Montesquieu escreveu livros que influenciam até hoje a ciência política. É conhecido principalmente por sua teoria da separação dos poderes

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