O Éden e a Serpente Estão Aqui.





Gilson Gomes

Advogado



A origem do homem sempre foi motivo de discórdia no seio da humanidade, bem a natureza do bem e do mal, uns dizem que foi culpa de Adão, outros  dizem ser culpa da exploração do homem pelo homem, neste caso, a relação entre o capital e trabalho. Pelos meios usados  para atingir o fim,  cada qual procura engolir o semelhante, sem direito a defesa e o contraditório. O ser humano de hoje está distante do outro pelo seu egoísmo e vaidade, já que se não for este homem o  foco da luz, então, não considera como  sujeito aquele que tiver outra  constelação de estrelas. Todas as conquistas do homem giram em torno da sua consciência presente.

O poder do conhecimento, sendo que a posse do conhecimento  no presente se tem tratado como  mercadoria, bem de consumo, ou insumo agregador no produto final. Hoje a mão de obra precisa ser de boa qualidade, escassez nos Países em desenvolvimento, ou como queiram,  do terceiro mundo.

Neste particular o Gênese (livro das Origens) trata  da transição  do subconsciente – Éden -  para o consciente – Serpente [1]- , e indigita a possibilidade do superconsciente – poder  que esmagará a cabeça da serpente.

No Apocalipse focaliza  o mesmo problema; fala do aparecimento da fera do abismo – homem subconsciente -, e do Lúcifer – homem ego consciente.

Por ora, a humanidade está no plano de Lúcifer, o – porta luz; algum dia atingirá a altura do logos, a – luz do mundo.

Para os ignorantes é blasfemo dizer que lúcifer  é o precursor do Logos[2]

É verdade que no Éden o homem possuía tudo o desejasse, com exceção o ato de comer a árvore conhecimento, aqui representada pela serpente. Depois não resistiu a tentação, como sempre ocorre, e precisa comer o lanche antes do prazo, pelo puro egoísmo e vaidade, então,  adquire o conhecimento da serpente, e  ingressa no mundo de miséria, da consciência,  e pela evolução poder chegar ao campo da razão, tonando-se individual e egoísta, sendo primeiro sua vaidade e o seu ego.

Ninguém precisa acreditar em Deus. Deus é um Ser que se basta, mesmo que  eu acredite ou não, podendo estar aqui ou na mais longínqua das constelações dos últimos sistemas do cosmos. Pois no  nosso dia a dia precisamos duvidar até da duvida, já que a duvida nos estimula e excita o pensamento, os nossos por quês são importantes para o nosso ciclo evolutivo. Basta no  entanto, que tenhamos -  fides -  fidelidade,  ao nossos  objetivos, sendo que o nosso maior objetivo e esmagar a  cabeça da serpente, ou não transformar o Lúcifer no egoísmo mais horrendo denominado de satã – adversário, e  senhor do nosso ego e da vaidade. Assim nosso desejo é levar vantagem em todas as coisas.

A realidade nos leva a  pensar assim em relação as nossas instituições, porque não existe como explicar  filosoficamente os julgamentos feitos nos nossos dias. Hoje vinga como certo,  não  o melhor argumento sustentados   em princípios  e à  virtude da equidade -  justiça, mas na capacidade  de traficar influência, em detrimento do direito do outro. Aqui se fala no direito e não na obrigação. Se a premissa é, que todos  recolhem   impostos em dia,  também é premissa, que deve  ter  o direito a prestação de serviço dentro dos limites  da dignidade humana.

Neste caso o homem de hoje para ver valer seu direito precisa sair do plano da inconsciência do Éden,  esmagar a cabeça da serpente, e se transformar no novo homem, denominado por Paulo de Tarso. Pois se não o fizer sua parte poderá ficar refém do seu egoísmo, e construir seu maior adversário, que no caso é a realidade.

O direito pode saltar aos olhos, mas se não for do interesse da classe dominante (oligarquia) naquele momento não encontrará eco e nem  lhe   será dado razão,  porque o interesse está dentro do campo do egoísmo. Estar com uma limitação, deficiência, e pedir algum direito previsto em lei o servidor pago pelo Estado dirá – não é bem assim. Aqui a gente bate mais porta não se abre, o fardo é pesado, sendo paradoxal com os ensinamentos de Jesus – o Cristo. Não pode existir cristianismo institucional e oficial, mas o cristianismo verdadeiro  deve ser uma atitude, fruto da ação, está dentro do homem. Logo é uma filosofia de vida, e não um  código de barras, que se coloca no leitor digital  e dirá – sou cristão.

Todos precisam rever seus conceitos se quiserem  transformar esta sociedade cheia de vícios numa sociedade mais humanizada e justa. É preciso livrar-se dos egoísmos e das vaidades,  conhecer o veneno da serpente,  mas saber que precisa virar a pagina, e encontrar a razão.

Por  isso o homem ao sair do Éden entrou em conflito com Lúcifer, Satã e a Serpente, sendo a serpente a inteligência, que serpenteia em busca da razão, cujo conflito é travado  na sua alma, sendo assim, pode bem existir a morte física e a  morte metafísica, conclui-se ser tal morte um suicídio da inteligência e da razão..

Se desejar fazer a revolução, comece por si mesmo, segundo Gandhi, ainda mais real, se  quiser encontrar o reino procure dentro de si mesmo, não foi o  que  ensinara o Mestre Galileu. Não adianta pretender abolir tais figuras do nosso cotidiano, elas fazem parte do  subconsciente  durante    milênios, como dissera Aristóteles,  no nosso – psique.

Por isso se promete os céus aos bons, mas ninguém sabe onde fica o lugar de suprema felicidade depois de desencarnar pela morte – a desagregação do meu eu com a matéria -; prometem aos malignos, a pena eterna nos infernos, mas os infernos não  está no lixão de Jerusalém onde jogavam os corpos dos condenados, na tumba debaixo da terra, onde os malignos deverão permanecer atormentados  por si mesmos, então, não pode ser que fiquem aqui no solo perturbando o sossego dos vivos, convivendo rasteiramente nos ombros e nas asas de algum ser vivo – encostados e na vadiagem, morcegos  vampiros - , retirando    sem cessar   o fósforo do outro. Nada é certo, mas tudo pode ser  possível. Não provo, mas não reprovo. Se quiser prova nesta matéria, então, passe para o outro lado da vida.

Tais mundos são difusos e quânticos, não importava para  Jesus e Buda aonde eles estavam, mas o que importava é o homem é um ser que procura a luz – a verdade do ser -, e a luz lhe traz profunda satisfação, encontradas nas obras e na sintonia com o infinito. Quem estiver longe do infinito, mas no finito, pode estar longe dos céus, e perto do seu inferno particular. Se o Pai está em mim,  e Eu  estou  no Pai - como dissera Jesus de Nazaré, não procure os céus noutro lugar, porque no caso, poderá  ser uma grande perda de tempo. Talvez seja por isso que não compreendemos as razões da sabedoria, e nem como se pode filosofar: – Pois tanto o pensamento quando a ideia precisam estar no plano  universais, sem tempo e sem espaço. Aí poderemos descobrir os lugares recônditos  dos mundos, inclusive a bipolaridade do nosso ser – o bem e o mal, e até o mau.  Claro que na visão Platônica não há a bipolaridade, sendo o homem um só – singular.

O nosso átomo (anima = alma) concebido por Demócrito Abdera   não parece ficar muito longe daqui. Pois sou eu. Claro que o Eu precisa da matéria  denominada corpo, mas também pode não precisa, o que ninguém discute é a existência do átomo  depois da Bomba jogada sobre as cidades Japonesas,  no final  da  2ª Guerra Mundial.

O homem de hoje pode ser considerado como um ser frio e insensível, incapaz de praticar um ato solidário, todos os bens se encontram no campo do - ter mais -, e para atingir o fim, ele descarta o outro do caminho. O homem em estado de  depressão sofre os efeitos da enfermidade deste milênio, pagando certamente um preço alto pelo fato de não responder as exigências da sociedade compartilhada pela teia da rede mundial de computadores, do patriarcado decadente, da família nuclear, e da produção de produtos em série.

Quando Montesquieu concebeu o Estado Democrático com três poderes harmônicos e independentes, ele deveria ter pensado na necessidade do Estado respeitar o homem, e não criar regras que não tem que ver com os princípios da humanidade, porque não se justifica discriminar uma pessoa com limitação e  deficiente e dizer que não, como também reter verba alimentar de um idoso, e dizer tudo bem, ter homens  sem postura ética  com mandato, fazer dos poderes harmônicos seu quintal. Pior recolher  tributos exorbitantes,  e não oferecer a contraprestação em serviços dignos. Mas o dinheiro para a vala da corrupção existe.

Hoje, um servidor público desastrado manda instaurar inquérito contra uma pessoa de bem, quando tal ato seria atribuição de detentor de mandato.

Ainda reclama de Homero  ter escrito a Ilíada, pelo fato de ser cego, ainda dissera – O Chefe é louco mandar um cego para administrar  este órgão.

O mais grave é – bloquear verba alimentar referente a proventos, quando a origem do suposto débito não se trata de  pensão alimentar. Então, pode ser Lícifer, e Satã, com o sibilo da serpente o ato sem o crivo da razão, ou da ação do – filho do homem – a cristificação pelo Eu.

Não se explica igualmente, como  negar os direitos humanos, sendo o respeito  aos princípios  dispensáveis nos   serviços burocráticos, sendo obrigação da autoridade   determinar seu cumprimento de plano e como dever de oficio e da função.  Deixar que outrem  seja transgressor das   normas consagradas como direitos humanos sem dar a punição exemplar é conviver com o – porta luz – Lúcifer.

O homem de hoje não pode conviver na insegurança jurídica, sendo que hoje é uma coisa, e amanhã já será    outra coisa. Os homens que possuem dever de dar o exemplo, que sejam um pouco mais prudentes e sensatos. Este País pode ser  o mais belo do planeta, mas também é o lugar que ninguém sabe de nada, se convir ao seu interesse nada será feito em favor do homem – o jeitinho brasileiro -. E quando tiver que justificar-se perante o seu adversário – satã – o que dirá? Se Deus existe, ele pensa, logo não quer justificação alguma, porque isso não está nos seus planos.

O pior é dizer uma coisa, mas  se sabe ser outra, aquilo que na figura de linguagem se chama de eufemismo. O eufemismo acompanhado do excesso de positivismo pode  lesar os bens da vida, certamente, fazendo-se  da lei um – satã. Simples,  ela não cumpre sua finalidade, que é o bem comum.

O tirano e o déspota são adversários da liberdade. Logo são satãs. O déspota sempre é uma homem letrado e bom erudito, conhece as vezes, uma biblioteca e os códigos de leis, nem por isso deixa   de procurar seus interesses, Erasmo pro certo iria concordar  com esta afirmação, quando elogia a loucura.

No caso há o Lúcifer – senhor do egoísmo por imaginar que a sua luz é exclusivista.

O homem saiu do Éden por escolha sua, tudo por causa da inteligência da serpente, querendo provar da árvore do conhecimento. O conhecimento é dor e alegria. Por isso  no Oráculo de Delfos se esculpiu a grande lição – conhecer a si mesmo -, não há outro jeito.

O nosso duelo agora e saber se Caim tivera razão em matar Abel, ou se Abel não se deixou matar por causa  do veneno da Serpente. O homem precisa matar a serpente na cabeça, caso contrário, ela pode jogar seu veneno pelo espirro.

Dizem que não gostam de que,   se reportem aos velhos mortos, mas afinal, quem foi que disse  que o homem é dual e não uni, pois é preciso desfazer velhos conceitos e regatar a genialidade de Platão, que  não aceita o homem como dual, mas que para ele está no cosmos – No todo. A causa dos nossos paradoxos e das nossas contradições estão  aí, ou se retorna a origem, ou se escolhe o caminho do entorpecimento do cérebro com drogas.

Se  é verdade que ninguém consegue se libertar da inteligência da serpente,  como poderá se libertar de Platão.

É  preciso  criar um novo homem, mais humano, e menos egoísta, que seja um ser agregador de valores, com bom juízo.

Ninguém se livra do  seu Éden e da sua Serpente, cada um por vez.

Pense.

ACADEMIA CRICIUMENSE DE FILOSOFIA – ACF.



[1] Bíblia  Sagrada: Capitulo 3
1. A serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos que o Senhor Deus tinha formado. Ela disse a mulher: É verdade que Deus vos proibiu comer do fruto de toda árvore do jardim?”
2. A mulher respondeu-lhe: Podemos comer do fruto das árvores do jardim.
3. Mas do fruto da árvore  que está no meio do jardim, Deus disse: Vós não comereis dele, nem o tocareis, para que não morrais.”
4. “Oh,  não! – tornou a serpente – vós não morrereis!
5. Mas Deus bem sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão, e sereis como deuses,
conhecedores do bem e do mal.”
6. A mulher, vendo que o fruto da árvore era bom para comer, de agradável aspecto e mui apropriado para abrir a inteligência, tomou dele, comeu, e o apresentou também ao seu marido, que comeu igualmente.
7. Então os seus olhos abriram-se; e, vendo que estavam nus, tomaram folhas de figueira, ligaram-nas e fizeram cinturas para si.

[2] Rohden, Huberto,  Roteiro Cósmico, pag.  72, Editora Martin Claret ltda, 5ªEdição, 1999.

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