SANTA TERESA D’ ÁVILA EM ORAÇÃO DIZ: SÓ DEUS BASTA!, E O APÓSTOLO PAULO EM ROMANOS 4:5-6, DÁ COM SABEDORIA LIÇÃO PARA SE FAZER COM BOA VONTADE:“5 Porém, para a pessoa que, em vez de fazer um trabalho, crê naquele que torna justo o ímpio, a sua fé lhe é creditada como atestado de justiça. 6 É assim que Davi declara feliz o homem a quem Deus credita a justiça independentemente das obras:” LONGO É EM JUSTIÇA E SANTIDADE, COM BOM EXEMPLO, E A INTERCESSÃO DA SANTA MÃE DE DEUS QUE SE CONQUISTA O OBJETO, DESEJADO, E QUERIDO!
SANTA
TERESA D’ ÁVILA EM ORAÇÃO DIZ: SÓ DEUS BASTA!, E O APÓSTOLO PAULO EM ROMANOS
4:5-6, DÁ COM SABEDORIA LIÇÃO PARA SE
FAZER COM BOA VONTADE:“5 Porém, para a pessoa que, em vez de fazer um trabalho,
crê naquele que torna justo o ímpio, a sua fé lhe é creditada como atestado de
justiça. 6 É assim que Davi declara
feliz o homem a quem Deus credita a justiça independentemente das obras:” LONGO
É EM JUSTIÇA E SANTIDADE, COM BOM EXEMPLO, E A INTERCESSÃO DA SANTA MÃE DE DEUS
QUE SE CONQUISTA O OBJETO, DESEJADO, E QUERIDO!
Hoje. Sexta-feira.
15 de outubro de 2.021, é celebrado o dia do Professor, e a Sagrada Liturgia
nos oferece como 1ª Lritura Romanos 4:1-8,
Salmo nº 31, e o o Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas 12:1-7, com alegria
se celebra a festa de Santa Teresa D’ Ávila ou de Jesus, proclamada Doutora da
Igreja pelo Santo Padre o Papa Paulo VI, como se verifica: No dia 27 de
setembro de 1970 o Papa Paulo VI reconheceu-lhe o título de Doutora da Igreja. Sua
festa litúrgica é no dia 15 de outubro. Santa Teresa de Ávila é considerada um
dos maiores gênios que a humanidade já produziu.
Pois
Santa Teresa é a escritora lida no Renascimento De Jesus, Teresa, Castelo Interior – ou Moradas, Editora Paulus,
1.981, a segunda mais lida na época é De
Jesus, Teresa, Caminho de Perfeição, Editora
Paulus, 1.977 e sua notável obra de
Santa Teresa de Jesus é o LIVRO DA VIDA,
Paulus, 1.983.
Logo
às obras podem ser encontradas na Livraria da nossa Dioceses, e vamos à
reflexão e meditação:
1.O
DIA DE HOMENAGEAR E CELEBRAR O DIA DO PROFESSOR:
A data
de 15 de outubro ganha força motriz como acontecimento no dia em que o Papa
Paulo VI, proclma como Doutora Santa Teresa D’ Ávila ou de Jesus, o fato se deu
em razão da sua mística e notável conhecimento da espiritualidade, e pela
fidelidade existente no caso, entre teoria e à prática. Pois ganha vulto à
oração, em razão da mesma, nos legar os
meios da oração mental.
Logo
pelo fato de sua festar litúrgica se realiza no dia 15 de outubro, o Santo
Paulo VI, incorpora à homenagem ao
Professor em 15 de outubro, em 1.970, quatro anos depois do termo final do
Concílio Vaticano IIº, em que no período tive a oportunidade de ler bom número dos
documentos Conciliares.
Logo o
dia do Professor é uma questão prática,
porque todos os mortais em Adão, estiveram em sala de aula com Professor.
Pois à gente possui Professor para aprender a ser melhor, e gente, como
necessidade da sociedade, especialmente os portadores de limitação visual e
auditiva, em que Professores e
Professoras, necessitam de per si, sentimento de humanidade, solidariedade, e
amor ao próximo, com sabedoria.
É
necessário à verdade e a bondade, e todos os dias rogar ao Uno – Trindade no
Pai, Filho e Espírito Paráclito, e com a
intercessão de sempre dócil e amável à Rainha do Céu e da Terra, naquela
obediência de Jesus no Getsêmani: “Fiquem aqui e vigiem comigo.” Mateus 26:38,
e também, vigiai e orai para não cair na tentação, pois o espírito está pronto,
mas a carne é fraca, como está em Mateus 26:40-41.
Evidente,
que com a maledicência institucional, existente, entre os Senhores Feudais e os
Mandarins dos Feudos atuais, hoje, conhecidos como – Novos Fariseus, que
retribuem como remuneração ao mestre
suas migalhas caídas de sua mesa,
e à remuneração é de extrema miserabilidade, porque, cada um deles põe a mão na verba destinada à Educação, fundado na
ideologia do “olho gordo”. Pois por acaso, um estado da Federação dá legalidade
à maconha para uso medicinal, e já se sabe, que a canabis serve para tratar glaucoma, mas, para o olho
gordo, da inveja. Os asseclas e os Senhores do Feudo, ficam felizes, porque a pressão do olho sobe,
é só enxergar valor entre dez milhões na
conta pública, pois os exploradores do homem pelo homem, o lobo do homem – homo
hominis lúpus – comem de sobremesa às vísceras do Professor.
O
tratamento humano dado ao Professor é deprimente, é como acentua a Filosofia, que pela mediocridade do
homem à tragédia não acaba, não cessa, todos os dias existem uma nova, pois
eles adotam a teses de: “Achar Herodes
Natural”, é o autor da primeira chacina infantil de crianças em Belém, clã da
Judeia, é o que diz o Profeta.
Logo
com o exemplo de Santa Teresa, os Professores estão habilitados à obter nosso
difuso e universal respeito, e pelo mérito de cada qual, parabeniza-los, com
nosso apreço e admiração. Etimologia de Professor: Nome nascido na Roma, e se
notabilizou com o Imperador Augusto, que por Decreto nomeava com o título de Professor, para
cumprir à deliberação do Divino Augusto, chamado de Divus
Pois
com formidável acerto o Apóstolo Paulo, que teve como seu professor Gamaliel,
oferece em Romanos 4:5-6-7, formidável lição:
“5 Porém,
para a pessoa que, em vez de fazer um trabalho, crê naquele que torna justo o
ímpio, a sua fé lhe é creditada como atestado de justiça.
6 É
assim que Davi declara feliz o homem a quem Deus credita a justiça
independentemente das obras:
7 “Felizes
aqueles cujas transgressões foram remidas e cujos pecados foram perdoados;
8feliz o homem do qual Deus não leva em conta o pecado””
Não é
que Jesus, na sua generosidade e sabedoria manda que se livrem e não comam o pão com fermento dos
fariseus, pois não isto, que estamos comendo, nem reajuste os fariseus não dão, porque jamais
valeram uma rosca, como está em Lucas 12:1-2, como se enxerga:
“1 milhares
de pessoas se reuniram, a ponto de uns pisarem os outros. Jesus começou a
falar, primeiro a seus discípulos: “Tomai cuidado com o fermento dos fariseus,
que é a hipocrisia.
2 Não
há nada de escondido que não venha a ser revelado, e não há nada de oculto que
não venha a ser conhecido.”
1ª
Leitura aos Rmanos 4,1-8
Leitura
da Carta de São Paulo aos Romanos.
Irmãos,
1que vantagem diremos ter obtido Abraão, nosso pai segundo a carne? 2Pois se
Abraão se tornou justo em virtude das obras, está aí seu motivo de glória...
mas não perante Deus! 3Com efeito, que diz a Escritura? “Abraão creu em Deus, e
isso lhe foi creditado como justiça”. 4Ora, para quem faz um trabalho, o
salário não é creditado como um presente gratuito, mas como uma dívida.
5 Porém,
para a pessoa que, em vez de fazer um trabalho, crê naquele que torna justo o
ímpio, a sua fé lhe é creditada como atestado de justiça.
6 É
assim que Davi declara feliz o homem a quem Deus credita a justiça
independentemente das obras:
7 “Felizes
aqueles cujas transgressões foram remidas e cujos pecados foram perdoados;
8feliz o homem do qual Deus não leva em conta o pecado”.
—
Palavra do Senhor.
—
Graças a Deus.
(Sl
31)
— Vós
sois para mim proteção e refúgio, eu canto bem alto a vossa salvação.
1.
Feliz o homem que foi perdoado/ e cuja falta já foi encoberta!/ Feliz o homem a
quem o Senhor não olha mais como sendo culpado,/ e em cuja alma não há
falsidade!
2. Eu
confessei, afinal, meu pecado,/ e minha falta vos fiz conhecer./ Disse: “Eu
irei confessar meu pecado!”/ E perdoastes, Senhor, minha falta”.
3.
Regozijai-vos, ó justos, em Deus,/ e no Senhor exultai de alegria!/ Corações
retos, cantai jubilosos!
(Lc
12,1-7)
Naquele
tempo,
1 milhares
de pessoas se reuniram, a ponto de uns pisarem os outros. Jesus começou a
falar, primeiro a seus discípulos: “Tomai cuidado com o fermento dos fariseus,
que é a hipocrisia.
2 Não
há nada de escondido que não venha a ser revelado, e não há nada de oculto que
não venha a ser conhecido.
3 Portanto,
tudo o que tiverdes dito na escuridão, será ouvido à luz do dia; e o que
tiverdes pronunciado ao pé do ouvido, no quarto, será proclamado sobre os
telhados.
4 Pois bem, meus amigos, eu vos digo: não
tenhais medo daqueles que matam o corpo, não podendo fazer mais do que isto.
5 Vou
mostrar-vos a quem deveis temer: temei aquele que, depois de tirar a vida, tem
o poder de lançar-vos no inferno.
Sim,
eu vos digo, a este temei.
6 Não
se vendem cinco pardais por uma pequena quantia? No entanto, nenhum deles é
esquecido por Deus.
7 Até mesmo os cabelos de vossa cabeça estão
todos contados. Não tenhais medo! Vós valeis mais do que muitos pardais”.
—
Palavra da Salvação.
—
Glória a vós, Senhor.
CNBB
2. A FILOSOFIA MÍSTICA DE SANTA TERESA DE ÁVILA:
Era
tamanha a minha absorção que, se não tivesse um livro
novo,
em mais nada encontrava contentamento.
(Teresa
de Ávila, Livro da Vida)
Resumo
O
presente artigo apresenta a vida de Teresa de Ávila e as meditações dela sobre
o amor de Deus expressadas em seu comentário do livro do Cântico dos Cânticos.
Teresa não comenta o Cântico na sua totalidade, mas seleciona alguns textos. A
própria
escolha destes textos são indicativos de seu pensamento, no qual se misturam o
amor, o misticismo, sua fé em Deus e a própria vida, gerando um tipo de
pensamento que chamamos de “filosofia mística”.
Introdução
O
misticismo nasce juntamente com a perda da inocência intelectual. Quando não
pode ser mantido o dogma, porque frente a ele há um outro dogma, aparece o
ceticismo. Porém, afirmar que “não é possível afirmar” já é uma afirmação; não?
1
Jorge Luis Rodríguez Gutiérrez é Doutor em Lógica e Filosofia da Ciência da
UNICAMP. É professor de Filosofia – UMESP, nos cursos de Teologia e Filosofia.
Tam128 podendo permanecer na negação absoluta, se infere que, não merecendo uma
total confiança, os nossos instrumentos, ou meios de conhecer, se tornam
inúteis. Por isso é possível afir- mar que o misticismo é o desespero da razão
humana. Nesse de- sepero, o místico se une sem intermediários ao objeto de
conhe- cimento: conhece o mistério por intuição. A filosofia mística espanhola
é o resultado duma fusão do neoplatonismo com o cristianismo, sem caráter
reflexivo, mas se nutrindo do senti- mento e deixando-se levar pela intuição. O
estilo dos místicos espanhóis é pura metáfora. Por esse motivo, seus escritos,
não requerendo dos leitores uma preparação filosófica (nem teológi- ca),
adquiriram uma grande popularidade.
2
Amando
a vida... Amando a morte...
Um dos
aspectos que tem chamado a atenção de muitos pesquisadores do misticismo é a
relação existente no seu interior entre vida e morte. Entre o amor a este mundo
e a rejeição
deste
mundo. Que finalmente adquire, às vezes, a forma de uma.
luta
de sentimentos desencontrados e ilógicos: querer viver e morrer simultaneamente
(morro de não morrer, 3 como afirma Teresa). Estar perto da vida e da morte num
mesmo momento, deste mundo e de um outro. Ou, como no caso de Teresa de Ávila,
no meio da dor sonhar a vida: mesmo que este mundo se apresente assustador e
sem esperanças, ter a capacidade de imaginar um outro mundo, uma outra vida,
uma vida com um corpo sadio e vigoroso. Ir reconstruindo interiormente (no
fundo da alma) aquilo que o mundo vai destruindo no dia a dia. Ir cons- truindo
pontes, de palavras e boa literatura, para atravessar os bém é professor de
Filosofia na Universidade Presbiteriana Mackenzie e de Filosofia da Religião na
Faculdade de Filosofia São Bento. jorgelrg@uol.com.br.
2
Conferir: BEJARANO, Mario Méndez, Historia de la Filosofía en España hasta el
Siglo XX. (1927), Biblioteca de Filosofía en Español, Oviedo 2000. http://filosofia.org
3 “Muero porque no muero”.
129 vales
que o tempo estendia entre o que ela esperava do mundo e o que o próprio mundo
lhe oferecia. Ela queria Cristo: queria o Cristo-Deus, porém também queria o
Cristo-Homem. Esperava dele o beijo divino, prometido no Cântico dos Cânticos.
Espe- rava estar deitada com ele sob a sombra da macieira com sua cabeça no
peito de Cristo. Para não ter dúvidas casou duas vezes. Duas bodas místicas:
ela era a noiva de Cristo. Teresa, doente e angustiada pelas tentações deste
mundo, ousou imaginar e pensar sobre Deus de uma maneira diferente: se
Calcedônia tinha afirmado que Cristo era Homem e Deus simultaneamente, então
ela queria o homem e o queria o Deus. Mas, devemos deixar claro desde o começo:
quando falamos de Teresa de Ávila estamos falando de uma mulher que da
adolescência até o final de sua vida enfrentou sérios problemas de saúde, sendo
estes especialmente graves entre os 18 e os 25 anos.4 Como também agudas crises
existenciais. Tudo isto dentro de um contexto de fé e de problemas teológicos
que nem sempre eram fáceis de resolver: muitas de suas perguntas causavam
embaraço até nos melhores teólogos de sua época. Fre-qüentes são suas queixas
sobre a incapacidade de seus confessores, aos quais ela recorria com
freqüência, de responder a suas perguntas ou de tar solução aos problemas que
ela colocava.
Assim,
muitas de suas obras são uma tentativa de ela mesma explicar, por seus próprios
meios, aquilo que os teólogos da Igreja não podiam explicar.
No
Livro da Vida ela narra como a doença a acompanhou durante toda a sua vida,
como lutou contra ela e como seu corpo viveu a dualidade de estar doente e
estar cheio de “sensualidades” e de amor ao mesmo tempo. Amor que o destino —
se é que se pode usar esta palavra — lhe negava: seu primo, com o, qual tinha
namorado quando jovem, ficou perdido no tempo a4 Alguns aspectos deste artigo
foram publicados em: Gutierrez., Jorge Luis Rodríguez.
O Amor
é uma seta enviada pela vontade, as meditações de Teresa de Ávila sobre o amor
de Deus no Cântico dos Cânticos. Revista Ribla Nº 39, 2001.
130 pós
ela se tornar freira e ficar doente. Situação com a qual, se num começo a
incomodava grandemente, aos poucos se foi acostumando.
Amor a
Deus: que ela valorizava mais que tudo, mas às
vezes
no fundo da alma apareciam outros amores. Então ela ficava triste, pois isso a
fazia sofrer: era o pecado — ela não tinha outra palavra — que se apresentava
na forma de tentação, dilacerando seu coração e perturbando sua alma.
Assim,
podemos afirmar que Teresa vivia uma certa dualidade: ela ama e rejeita este
mundo. Ama a beleza, o corpo, a própria vida; mas quando a dor e o sofrimento
se tornam grandes — grandes demas para seu coração humano — e a as lembranças
perdidas no passado aparecem, e as visões chegam, e os sonhos evocam uma outra
vida, então Teresa rejeita este mundo, e deseja outro, no qual as dores do
corpo não existam: onde com outro corpo (ou simplesmente sem corpo) ela poderia
— finalmente — desfrutar de paz e tranqüilidade.
A esse
lugar ela chama de Jardim (como no Cântico dos Cânticos). Nesse lugar haverá
beijos, comida, descanso, festa,
sem as
dores do corpo e livre já das saudades e do cansaço, ela poderia finalmente ter
o que lhe foi negado nesta terra. Sobre isso ela fala com detalhes na sua obra
Conceitos do Amor de Deus.5 Obra na qual ela mostra uma familiaridade e
intimidade com Deus bastante incomum: ela humaniza Deus, e leva adiante o dogma
que afirma que Deus, em cristo, se fez homem.
Sua
rejeição a este mundo, seu desejo de morrer, às vezes, manifestado em orações e
poemas, se mistura com o amor e
o
desejo de um corpo sadio. Assim, sua visão de uma outra vida, que por enquanto
só existia na sua imaginação, é também 5 Esta obra se encontra em português nas
Obras Completas de Teresa de Jesus (Ed. Loyola, 1995), sob o título: Conceitos
do Amor de Deus. Neste artigo a referência a esta obra será: “M.C.”. Todas as
citações em português foram tiradas desta edição. O original espanhol pode ser
encontrado em: Santa Teresa de Jesús, Obras Completas, Madrid, Biblioteca de
Autores Cristianos, 1979. Também no site: http://www.montecarmelo.com/fondos/steresa.
131
um
grito de amor à vida. Sua luta e esforço, junto com sua resignação e apatia,
eram sua defesa para que essa morte, pela qual pedia e desejava não chegasse e
a vida se prolongasse mais um pouco. Se ela desejava morrer, também desejava
viver, não morrer, continuar vivendo, pois enquanto tinha vida tinha também
esperança6: enquanto estiver viva esse mundo sonhado também viverá no fundo de
sua alma, e ela poderia ir a ele quando quisesse.
Após
ler seu Livro da Vida, penso que ninguém tem o direito de lhe censurar seu
desejo de morrer. Pois, este desejo está misturado a um anseio de vida, de uma
outra vida; de reencontrar num outro lugar aquilo perdido — e não encontrado —
nesta terra, de sonhar sem limites uma outra terra na qual ela amaria e seria
amada pelo próprio Deus.
Para
ela, este mundo estava cheio de “sequidão”. As imagens paradisíacas que ela
descreve nas suas Meditações sobre o Cântico dos Cânticos, se chocavam com o
cotidiano sombrio e cansativo no qual se consumiam seus dias. O corpo que ela
terá nesse paraíso será tudo o contrário de seu corpo marcado pelos sinais da
doença, do medo e da resignação, que tinha neste mundo. Essa esperança lhe
permitia viver. Aliás, viver com uma certa alegria. Ninguém pode imaginá-la ela
infeliz; ela mesma negaria isto.
Hoje,
começo do século XXI, possivelmente nos choque o seu desejo de morrer e sua
excessiva espiritualização dos problemas. Mas, é possível que seu desejo de
morrer seja consequência de um desejo mais profundo de não morrer, de viver sempre,
de ser eterna: de estar finalmente em pose de uma vida agradável e perdurável.
Em
suas obras está o testemunho – como diria Miguel de Unamuno – de fome de
eternidade de uma mulher do século.
6
Sobre o conceito de esperança conferir: Rodríguez G., Jorge Luis. “Enquanto há
vida há esperança”. As pequenas e firmes esperanças do dia-a-dia em Qohelet.
Revista
RIBLA,
Nº 39.
132
XVI.
Que ante um mundo que se lhe apresentava estranho e alheio, cheio de amor e de
dor, respondeu com o único que tinha:
com
palavras. Respondeu com a arte na qual era mestra: a literatura. Tudo isto num
fundo de sonhos, visões e a infinita espe- rança que a morte não teria a última
palavra: lá, no além, ela seria a noiva do Cântico dos Cânticos, descansaria
embaixo da macieira e, com um corpo renovado, seria beijada por Deus e teria
uma eternidade de amor. Lá o próprio Deus estaria esperando a noiva, para
consumar a solitária boda realizada aqui na terra, na qual, ela, vestida com
vestido nupcial, deu o sim para a transcendência, numa cerimônia oficiada por
seu amigo Juan de La Cruz.
Vida,
amor e morte se juntaram na sua vida de uma maneira assombrosa, e ela — Teresa
— soube viver (não morrer) e encontrar momentos de felicidade nos desertos que
se estendiam na sua frente.
Teresa
ama, contempla e não reflexiona; não pensa em sua salvação por interesse;
porém, na fusão com seu amado, não está preocupada se sua conduta é lógica ou
racional: ela se entrega completamente até o sacrifício da própria
personalidade.
Ela
conhece Deus por união íntima com ele.7 Ela conhece seu amado porque se entrega
a ele no êxtase. De acordo com suas próprias palavras sua alma e seu corpo
sentem essa entrega desde o profundo de sua alma até a medula dos ossos.
Um único amor para dois mundos Diferente de
Agostinho de Hipona8, que ensinava que dois amores construirão duas cidades,
podemos afirmar que em Teresa um único amor construiu dois mundos. Por um lado
estava este mundo — sensível e humano — que ela tinha constru7 BEJARANO, Mario
Méndez, op. cit.
8 Mais
adiante, neste artigo, analisamos com um pouco mais de detalhes a relação de Teresa
com os escritos de Agostinho.
133 ido
desde criança, quando brincava com seu irmão de ir à terra os mouros, passando
pela adolescência, quando lia muitas (muitas mesmo) histórias de cavalaria e
quando lia os autores clássicos que encontrava na biblioteca de seu tio; até
sua vida adulta de reformadora eclesial e de escritora de alto fôlego. Mundo que,
com o passar do tempo, se foi transformando em algo
sombrio
e seco. Ela chegou a não gostar deste mundo, embora houvesse gostado muito na
sua adolescência.
A rejeição que às vezes tinha deste mundo não
era algo inato nela, não era algo que ela tinha tido sempre. Foi a contingência
e a terrível conjunção do tempo e do acaso que lhe em- purraram para caminhos
difíceis. O acaso foi abrindo a estrada e o tempo foi sepultando dia após dia a
bela e alegre jovem que lia histórias proibidas e namorava as escondidas.
Frente a isso, ela respondeu da única maneira possível, com amor a um outro mundo
e desprezo por seu destino neste mundo e enfrentou sua cruz com resignação e
apatia. Ela não deixou de amar; só mu- dou de amor; mudando de amor, mudou ela
mesma. Se esta vida lhe negava a felicidade, ela amaria uma outra onde essa
felicidade existisse em abundância. Assim, desespero e esperança se misturavam
na sua vida. Isto formava parte da literatura que conhecia: os profetas do
Antigo Testamento também imagina- ram um outro céu e uma outra terra, os
utópicos também (quando Teresa era criança estava sendo lançada A Utopia de
Tomás Morus), Dom Quixote de la Mancha, de Cervantes. Nas utopias, há algo de
revolta; elas nascem quando o presente se torna insuportável e é necessário
imaginar algo diferente que permita continuar vivendo: uma esperança
desesperançada há no meio delas.
Assim,
a contínua insistência de Teresa para encontrar a felicidade num paraíso que a
esperaria no fim da vida, é uma amostra de sua contínua luta por sobreviver num
presente amargurado e solitário: o mesmo amor criou dois mundos, um real, que
Teresa amava, porém lhe era inóspito, e um irreal (o 134 que é o real?) que
tinha existência só no seu espírito... no seu interior. O que não é pouca
coisa, se consideramos que há filósofos que ensinam que o que verdadeiramente
importa é o que está no interior, isto é, no fundo da alma.
Teresa
de Cepeda y Ahumada Teresa de Cepeda y Ahumada nasceu na cidade espanhola de
Ávila em 28 de março de 1515. 9 Estudou no convento das agostinianas e, com 19
anos entrou na ordem do Carmelo da Antiga Observação, no convento da Encarnação
de Ávila. Hoje é conhecida como Santa Teresa, Teresa de Jesus ou Teresa de Ávila.
Foi canonizada em 1622 e em 1970 foi a primeira mulher a receber o título de
doutora da Igreja Católica Romana. Por isso, além de santa, também pode ser
chamada de Doutora, ou de Madre, que era como lhe chamavam as freiras de sua
ordem.
Teresa
manifestou desde criança uma grande facilidade para escrever e para a leitura,
e uma certa piedade. Um tanto incomum para uma criança: com sete anos decidiu
ir à terra dos mouros para que cortassem sua cabeça por Cristo. Com outras crianças,
brincava de eremita e de ser freira, rezando e fazendo penitências. Um dado
anedótico é que, quando na infância brim- cava com seu irmão Rodrigo de ir à
terra dos mouros, uma vez foram encontrados, por seu tio Dom Francisco Alves de
Cepeda, saindo da cidade pela ponte de Adaja, prontos para empreender sua
cruzada. Também brincavam de construir mosteiros amontoando pedras e de dar
esmola (como pudessem, e sempre podiam pouco).
Desde
criança foi viciada em leitura e freqüentadora assídua da biblioteca de seu
pai, Dom Alonso, onde era possível en- contrar, entre muitas outras, obras de
Sêneca, Virgílio e Boé9 Parte deste artigo, com modificações, foi publicado na
Revista RIBLA, No 38, sob o título: O amor é uma seta enviada pela vontade - As
meditações de Teresa de Ávila sobre o amor de Deus no Cântico dos Cânticos.
135 cio.
Isso deu a Teresa a oportunidade de entrar, desde cedo, em contato com as
grandes obras da história do pensamento.
Na
adolescência, tornou-se adicta à leitura dos livros de histórias de cavalaria,
as mesmas que enlouqueceram a Dom Quixote da Mancha – seu compatriota virtual.
Ela mesma escreveu um livro sobre essas histórias. Posteriormente ela continuou
com a leitura de obras clássicas, como as Confissões de Santo Agostinho: que
será uma referência para meditar sobre sua própria vida.
Por volta dos 12 anos – não faz mal repetí-lo
– começou a ler livros sobre cavaleiros, o que, na época, era considerado algo
não apropriado para uma moça. Porém foram em vão os esforços para afastá-la de
suas leituras que eram de muitas horas por dia. A leitura teve em Teresa as
características de um vício.
Ela
mesma afirma no Livro da Vida 2.1:
“Parece-me
que começou a me prejudicar muito o que agora vou dizer. Considero algumas
vezes o mal que fazem os pais em não procurar que seus filhos vejam sempre, e
de todas as maneiras, coisas virtuosas. Porque, sendo minha mãe, como eu disse,’
tão virtuosa, ao chegar ao uso da razão não aproveitei tanto do bem, enquanto o
mal muitos prejuízos me trouxe. Ela gostava de livros de cavalaria,2 e esse
passatempo não lhe fazia tão mal quanto a mim, porque ela não deixava seu
labor, somente nos dando liberdade para lê-los. E é possível que o fizesse para
não pensar nos grandes sofrimentos que tinha, e pa- ra ocupar seus filhos,
evitando que se perdessem em outras coisas. Isso pesava tanto a meu pai, que
era preciso ter cuidado para que ele não o visse. Acostumei-me a lê-los; e
aquela pequena falta que nela eu via fez esfriar em mim os desejos, levando-me
a me descuidar das outras coisas; e não me parecia ruim passar muitas horas do
dia e da noite em exercício tão vão, escondida de meu pai. Era tamanha a minha
absorção que, se não tivesse um livro novo, em mais nada encontrava
contentamento.”10
10
Libro de la Vida 2.1. Esta obra se encontra em português nas Obras Completas de
Teresa de Jesus (Ed. Loyola, 1995), sob o título: Livro da Vida. Todas as
citações em português foram tiradas desta edição. O original espanhol pode se
encontrado em:
136
Em
1528 morre sua mãe, o que lhe trouxe uma profunda tristeza sobre sua vida, a
ponto de suplicar à Virgem, quando compreendeu o que tinha perdido, que
morresse ao invés de sua mãe.
Essa
também foi a época do amor e do namoro, e de cultivar – como ela mesma afirma –
sua beleza feminina:
“Comecei
a enfeitar-me e a querer agradar com a boa aparência, a cuidar muito das mãos e
dos cabelos, usando perfumes e entregando-me a todas as vaidades. E eram muitas
as vaida- des, porque eu era muito exigente. Não tinha má intenção, não desejava
que alguém ofendesse a Deus por minha causa. Duraram muitos anos esse requinte
demasiado, ao lado de outras coisas que não me pareciam pecado.”11
Gostava
de se arrumar e sair com seus primos. Namorou um deles. Os pais não gostavam
dessa situação e proibiram a ela continuar com essas saídas. Porém Teresa
sempre conseguia
burlar
a vigilância, com ajuda das empregadas e uma prima.
Gostava
de seu primo e continuou saindo com ele: cada vez que seus pais a repreendiam,
afirmava que era com intenção de se casar.
O que
escreveu sobre esse período no seu Livro da Vida é de difícil compreensão e tem
sido motivo de controvérsia entre seus biógrafos, especialmente quando afirma
que nessa época se atreveu a muita coisa contra a honra e contra Deus [Livro da
Vida II, 5], e quando fala sobre as coisas feitas em secreto. Mas, de fato, não
foram feitas tão em segredo, pois provocaram a quebra de sua honra e as
suspeitas de seu pai [Livro da Vida II,
6].
Ela afirma que seu pai não podia crer que nela houvesse tanto mal. Como ela
temia tanto pela honra, fazia todas as diligências possíveis para que o que ela
fazia fosse segredo: Santa Teresa de Jesús, Obras Completas, Madrid, Biblioteca
de Autores Cristianos, 1979. Também no site:
http://www.montecarmelo.com/fondos/steresa.
11
Libro de la Vida 2.2.
137
“Era
tão grande o amor de meu pai por mim, e tanta a minha dissimulação, que ele não
acreditava que eu fosse tão má, razão por que não perdeu a confiança em mim.
Como o período dessas minhas leviandades foi curto, embora alguma coisa tivesse
sido percebida, nada se podia dizer com certeza; com o grande cuidado que eu
tinha para que nada se soubesse, visto que temia tanto pela minha honra, eu não
via que não podia ocultar algo de quem tudo vê.”12
No fim
do item três do cap. II do Livro da Vida, afirma que perdeu sua honra por
muitas vias, e logo acrescenta que sua sagacidade para as coisas más era muita.
As palavras de Teresa
são
estas:
“A verdade é que essa amizade me transformou a
tal ponto que quase nada restou da minha inclinação natural para a virtude; e
me parece que ela e outra moça, que gostava do mesmo tipo de passatempo, imprimiam
em mim seus hábitos. Isso me faz entender o enorme proveito que vem da boa
companhia, e estou certa de que, se naquela idade tivesse tido contato com pessoas
virtuosas, a minha virtude teria se mantido intacta; porque, se tivesse tido,
nessa idade, pessoas que me ensinassem a temer a Deus, a minha alma teria se
fortalecido contra a queda. Tendo perdido esse temor de Deus, ficou-me apenas o
de perder a honra, o que, em tudo o que eu fazia, me trazia aflição. Pensando
que não se teria como descobrir, atrevi-me a fazer coisas contra a honra e
contra Deus. Foram essas coisas que, cm princípio, me fizeram mal, e creio que
a culpa não devia ser dessa parenta, mas minha, visto que já bastava minha própria
inclinação para o mal.”13
A
pergunta persistente dos biógrafos é, a que Teresa se está referindo? O problema
biográfico se acentua, quando se considera que o cap. II do Livro da Vida de
Teresa está cheio de um certo mistério - a palavra segredos aparece várias
vezes – e de sentimento de culpa, palavra que também está colocada com freqüência.
Na época em que escreveu sobre esse período de sua vida - trinta anos depois -
lembrando de suas experiências 12 Libro de la Vida 2.7. 13 Libro de la Vida
2.4,5,6.
138 de
adolescente, só pode aconselhar aos pais que tenham cuidados com seus filhos
porque o natural neles é sempre fazerem o
pior
ao invés do melhor.
Não
sabemos o que aconteceu, nem a que fatos Teresa está se referindo. Só sabemos
que, em conseqüência disso, seu pai a leva para um convento. Nesse lugar, de
acordo com as palavras de Teresa, eram criadas pessoas como ela, mas que
ninguém era tão ruim em costumes como ela. Escutemos suas palavras:
“Mas o
meu proceder não permaneceu tão oculto a ponto de não lançar dúvidas contra a
minha honra e criar suspeitas em meu pai. Eu estava envolvida nessas vaidades
há uns três meses, quando me levaram a um mosteiro existente no lugar; nele,
criavam-se pessoas em condições semelhantes, embora não de costumes tão ruins
quanto os meus; e isso de maneira tão discreta, que só eu e um parente o
soubemos. Dessa maneira, esperaram uma ocasião adequada, que não parecesse
estranha: foi o casamento da minha irmã, que me deixou só, sem mãe, o que não
parecia próprio.”14
Sobre
o significado dessas palavras de Teresa só podem ser feitas conjeturas e
especulações. Teresa nos informa que o motivo - oficial - que seu pai deu para
levá-la ao convento foi que, tendo sua mãe morrido e sua irmã casado, não
ficava bem
ela
ficar sozinha. Sobre os primeiros dias no convento Teresa
escreveu:
“Os
primeiros oito dias foram dolorosos, e mais por eu temer que minha vaidade
tivesse sido divulgada do que por estar ali.
Na
época, eu já estava cansada e passara a temer muito a Deus
quando
o ofendia, procurando confessar-me tão logo pudesse.
Isso
me causava tanto desassossego que, depois de oito dias no
mosteiro,
talvez antes, eu estava muito mais feliz que na casa
de meu
pai. Todas estavam satisfeitas comigo, pois o Senhor
me
concedeu-me a graça de agradar a todos onde quer que eu
estivesse,
sendo assim muito querida. Naquele tempo,
desgostava-me
a idéia de tornar-me monja ; apesar disso, eu
14
Libro de la Vida 2.6:
139
apreciava
ver as boas religiosas daquela casa, muito honestas,
fervorosas
e recatadas.”15
Nos
primeiros dias de sua vida no convento, Teresa adoece. O sentimento de culpa e
uma vida para a qual não estava preparada (ela afirma que era muito inimiga de
ser freira16), enfraqueceram sua saúde e até a própria vontade de viver. Teresa
começava uma longa e difícil caminhada.
No
Livro da Vida descreve com detalhes os longos anos de doença. Uma vez ficou
completamente imóvel, foi dada por morta e velada como tal. Até colocaram cera
em seus olhos, de acordo com os costumes funerários da época. Mas, graças a seu
pai que não deixou que a sepultassem porque queria estar mais um tempo com o
corpo de sua filha, continuo vivendo, apesar
de seu
estado de morte que durou quatro dias. Durante este período todos pensaram que
estivesse morta. Até abriram uma sepultura no convento e a envolveram com
vestes fúnebres.
Quando
acordou, ficou delirando e não conseguiu caminhar por quatro anos. Teresa tinha
vinte e quatro anos. A doença seria uma companheira de toda sua vida.
Essa
morte aparente de Teresa, e o conseqüente quadro clínico, também deu motivos
para muitas especulações. A modo de exemplo, podemos citar o livro do neurólogo
espanhol Esteban García-Albea, Teresa de Jesús: una ilustre epiléptica. Para esse
autor, Teresa sofria do que hoje os especialistas chamam de crise de
felicidade. Assim, segundo García-Albear, as visões,
aparições, vozes etc. das quais fala Teresa,
estariam explicadas por uma epilepsia parcial: uma pequena irritação do cérebro
com sintomas afetivos, de prazer e felicidade.
Para
Alberto Gimeno, chefe do serviço de neurologia do Hospital Ramón y Cajal de
Madrid, os quatro dias de morta de
15
Idem.
16
Libro de la Vida 2.8. Espanhol: “Y puesto que yo estaba entonces ya
enemiguísima
de ser
monja”; e ainda dirá no Libro de la Vida 2.1l: “La gran enemistad que tenía con
ser monja, que se me había puesto grandísima.”
140
Teresa
foram um estado de coma provocada por uma encefalite, possivelmente uma
inflamação do cérebro provocada por algum vírus. O mais provável – de acordo
com Gimeno – é que essa doença deixou uma pequena cicatriz no seu cérebro e que
essa foi a causa das crises de felicidade de Teresa.17
Contra
estas explicações está a voz da Igreja que afirma que os místicos – neste caso as
místicas – teriam uma capacidade especial para se comunicar de maneira
maravilhosa e não convencional com Deus e em geral com o sobrenatural. Essa capacidade
não teria sua fonte em nenhuma causa natural: seria um dom da própria
divindade. Para a Igreja, Teresa não estava doente, estava recebendo uma
especial graça divina.
Em
1555, após muitos anos ddoença, de rigorosos exercícios espirituais e de dura
vida monástica, Teresa teve o que tem sido chamado por seus biógrafos de
profundo acordar: ela viu Jesus, o inferno, os anjos e os demônios. Começou a
sentir dores como de uma pontada no peito: interpretou isto dizendo que era a
ponta de uma lança de um anjo espetando seu coração.
Essas
visões e sintomas físicos – atribuídos por ela a causas sobrenaturais –
acompanharam Teresa, praticamente, por toda sua vida.
Um ano
depois, Teresa tem seu desposório místico: seus sentimentos se libertaram e uma
força que vinha de seu interior fê-la voar livremente enquanto uma voz
silenciosa lhe falava:
não
quero mais que você tenha conversação com homens, mas com anjos. Este momento
tem sido chamado de sua segunda conversão. A partir de então ela pode ser muito
mais humana.
Era o
dia de Pentecostes de 1556.
Sua
dura disciplina pessoal e o rigor de seus exercícios espirituais fizeram que
Teresa começasse a se sentir incomodada com a disciplina - ou melhor, com a
indisciplina - que era seguida nos conventos das carmelitas. Isso a levou a
empreen17 Conferir artigo de Fátima Uribarri, Santa epiléptica, El Mundo,
28-01-1996.
141 der
a reforma dessa ordem. Teve o apoio do papa. Mas seu espí- rito reformador lhe
causou muitos atritos com seus superiores.
Em
setembro de 1560 funda com um grupo de freiras um monastério de tipo eremita. O
fundamento foi a antiga tradição do Carmelo e a reforma descalça de Pedro de
Alcântara. A principal norma de vida era simples, porém extrema: fazer sempre o
mais perfeito com a maior perfeição possível. Elas se esforçariam por unir a
atividade contemplativa com a atividade prática e em procurar Deus no mais
profundo da alma.
Os
anos 1562 a 1567, após alguns contratempos e contrariedades – das quais
possivelmente a mais grave foi uma tentativa de expulsá-la do convento – são
anos de paz para Teresa.
Pode-se
dedicar com certo sossego a seu trabalho de escrever:
conclui
o Livro da Vida, e escreve uma de suas obras mais famosa, Caminhos da
Perfeição. É, possivelmente, neste período
que
ela escreve as Meditações sobre Cântico dos Cânticos, que são o tema principal
deste artigo.
Em
1567 recebe uma autorização para continuar fundando novos conventos. Desses
merece destaque a fundação junto com frei Juan de La Cruz – também místico,
santo e doutor da Igreja, que ela tinha conhecido nesse ano – do primeiro
convento de irmãos carmelitas descalços. Com Juan de La Cruz ela manteve uma
forte amizade que durou muitos anos.
As
atividades reformadoras de Teresa e as contínuas fundações de novos conventos
trazem a ela muitas persecuções e lhe causam um grande número de problemas com
a hierarquia eclesial. Até a denunciaram várias vezes diante do tribunal da inquisição.
Nada disso a deteve. E ela prosseguiu com suas fundações. Chegou a fundar 16
conventos femininos e 14 masculinos. E, junto com frei Juan de La Cruz e o
padre Antonio de Heredia, fundou um novo ramo da Ordem do Carmelo. Seguem-se
anos de trabalho, escrevendo e fundando conventos, até que em 18 de novembro de
1572 – quando tinha 57.
142 anos
– se une a Deus em matrimônio espiritual. Quem lhe dá a comunhão é seu amigo
Juan de La Cruz.
Continua
tendo problemas com os membros da hierarquia eclesial e de sua ordem. Porém,
nada disto impede seu trabalho de escritora. Assim, em 1574 começou a escrever
o livro Fundações. Nesse mesmo ano conheceu o padre Gracián, com quem manterá
uma longa amizade, com várias viagens e múltiplos encontros. O padre Gracián
era trinta anos mais novo que ela.
Nesse
ano também fica doente. A febre é alta. Continua trabalhando, fundando
conventos e lidando com os múltiplos problemas da ordem. Como se tudo isto
fosse pouco, ainda a aguardava uma nova preocupação: é acusada diante da
inquisição. Vem então os interrogatórios e investigações das freiras por parte
dos inquisidores. Ela se retira a um convento: é seu cárcere. E ainda tem um
acidente e quebra seu braço. É dessa época sua frase: sinto raiva contra mim
mesma. Por causa de sua amizade com Teresa o padre Gracián é destituído de seu
labor de visitador.
Novamente
seguem-se anos de trabalho e doença. Em 1579 volta a visitar os conventos.
Volta a ficar doente: esta vez com muita gravidade. Mas se recupera e volta a
caminhar. Em Valladolid novamente adoece. Agora não se recupera tão fácil.
É
necessário levá-la a Granada. Frei Juan se oferece para levála. Mas quem a leva
é o Padre Gracián. A doença piora. A viagem é dura. Desmaia com freqüência. A
viagem é modesta, faltam muitas coisas. A superiora de Medina, brava com ela,
não lhe quis dar provisões para a viagem. Sua enfermeira só tem figos secos
para lhe dar de comer.
Chega
a Granada gravemente doente. Tem hemorragias e dores. Quase não consegue
caminhar. Passa muito tempo deitada. Essa situação dura por oito dias. Em 29 de
setembro deitouse por volta das seis da tarde. Por dois dias permanece muito doente.
No dia primeiro de outubro recebe a comunhão, e se
143 deita
com ajuda dos outros. Nunca mais se levantará. Recebe a extrema-unção.
Permanece sempre com um crucifixo entre os braços: abraçando-o. Um dia ficou
nessa posição o dia tudo, orando com o rosto sereno. Às nove da noite morria
nos braços de Ana de São Bartolomé. Era 4 de outubro de 1582. Hoje, pela correção
do calendário, 15 de outubro.
Em 24
de abril de 1614, Paulo V a proclama beata. Em 16 de novembro de 1617 as cortes
espanholas a declaram patrona de Espanha. Urbano VIII ratificou-o em 1627, e o
anulou posteriormente em favor de Santiago. Em 12 de março de 1622,
Gregório
XV a canoniza, junto com Isidro, Ignácio, Francisco Javier y Felipe Neri. Em 18
de setembro de 1965 Paulo VI a declara patrona dos escritores católicos de
Espanha, finalmente em 27 de setembro de 1970, o mesmo papa a proclama doutora da
Igreja Católica, sendo a primeira mulher a receber esse título.
Hoje,
é considerada uma escritora clássica da língua espanhola e uma de suas melhores
poetisas.
A
embriaguez celestial e a bebedeira divina Com 19 anos Teresa entrou na ordem do
Carmelo da Antiga Observação, no convento da Encarnação de Ávila. Entre os anos
1566 e 1567, em San José de Ávila, escreveu suas meditações sobre o Cântico dos
Cânticos. Esta obra foi publicada pela primeira vez em 1611, em Bruxelas, sob o
título Conceptos del amor de Dios escritos por la Beata Madre Teresa de Jesús
sobre algunas palabras de los Cantares de Salomón. Por isso o livro também tem
sido publicado sob titulo de Conceptos del Amor de Dios.
Em
1580, Teresa recebeu a ordem do padre Diego de Yanguas, seu confessor, de
queimar o livro. Ela obedeceu, mas foram salvas muitas cópias que circulavam
pelos conventos. O 144 argumento foi que lhe pareceu coisa nova e perigosa que
mulher escrevesse sobre o Cântico dos Cânticos18.
No
capítulo quarto Teresa fala sobre a experiência do amor de Deus no sentido
corporal. Só quem passou por esse tipo de experiência pode compreendê-la,
escreveu ela. Quando começa a chegar o amor divino – relata Teresa, o primeiro
que sente é uma suavidade no interior da alma, tão grande, que parece que o
Senhor está muito perto, ao lado. Logo vem às lágrimas, a satisfação e uma
calma que sossega todas as potências. É como se lhe colocassem dentro dos
tutanos uma unção muito suave: a experiência do amor de Deus toca até seus
ossos.
Um
cheiro forte que a penetra completamente, seguido da sensação de que o
suavíssimo amor de Deus se introduze suavemente em sua alma, mas não sabe dizer
por onde entrou. Quando está nesse estado, nem sequer quer-se mexer, nem falar,
nem mesmo olhar, por medo de o perder, pois ela não quer perder aquilo. Para
ela o cheiro que sente – inspirando-se no livro de
Cântico
dos Cânticos – é o cheiro do peito do esposo, que é melhor que os melhores
ungüentos. Escutemos suas palavras:
Sente-se
no interior da alma uma suavidade tão grande que bem se percebe que Nosso
Senhor está próximo dela. Isso não é somente uma devoção que move a muitas
lágrimas, que dão satisfação, ora pela Paixão do Senhor, ora por nosso pecado.
Nesta
oração de que falo, que chamo de oração de quietude
devido
ao sossego que infunde em todas as faculdades, parece que a pessoa o tem muito
à sua vontade, se bem que algumas vezes se sinta de outro modo quando a alma
não está tão engolfada nessa suavidade; parece que todo o homem, interior e exterior,
é confortado, como se lhe pusessem na medula uma unção suavíssima, à feição de
um forte perfume, ou como se entrássemos de repente num lugar em que o odor
fosse intenso, e não apenas de uma coisa, mas de muitas, sem que saiba- mos do
que é nem de onde vem aquele aroma, senão que pene18 “Cosa nueva y peligrosa
que mujer escribiese sobre los Cântico dos Cânticos.” Prólogo do Padre Gracián
à primeira edição das Meditaciones sobre Cantares, Bruxelas, 1611.
145 traz
em todo o nosso ser. Assim parece ser este amor suavíssimo de nosso Deus. Ele
penetra na alma com grande suavidade, e a contenta e satisfaz, e ela não
consegue entender como nem por onde entra aquele bem. Ela deseja não perdê-lo,
deseja não se mover, nem falar, nem mesmo olhar, para que ele não se vá.
E é isso
o que, a meu ver, a Esposa diz ao falar que os peitos do Esposo são fragrantes
como os mais preciosos bálsamos.19
Nesse
momento o prazer é tanto que sente como se fosse desmaiar, como se ficasse
suspensa nos braços divinos de seu Esposo, aconchegada ao lado dele e encostada
no seu peito:
Porque,
quando estava — a alma — naquela embriaguez, parecia-lhe não haver nada mais
para subir; mas quando se viu no grau mais alto e toda embebida naquela
grandeza incomparável de Deus, vendo-se ficar tão sustentada, ela faz
delicadamente uma analogia e diz: mais valem os teus peitos do que o vinho.
Porque,
assim como uma criança não entende como cresce, nem sabe como mama, pois até
sem mamar nem fazer nada muitas vezes lhe deitam o leite na boca, assim também
é aqui, pois a alma se vê privada por inteiro da faculdade de saber de si e de
fazer coisas, e não sabe corno nem de onde (nem o pode compreender) lhe veio
aquele bem tão grande. Ela sabe que ele é o maior de quantos se podem provar na
vida, ainda que se juntem todos os deleites e gostos do mundo. Vê –se a alma alimentada
e melhorada sen saber quando o mereceu, instruída em grandes verdades sem ver o
Mestre que a instrui, fortalecida nas virtudes, regalada por Quem tão bem o
sabe e pode fazer. A alma não conhece termo de comparação, exceto talvez o
carinho da mãe que ama muito o filho e o alimenta e regala.20
Então
ela não sabe fazer outra coisa senão gozar, susten- tada pelo leite divino que
lhe oferece o esposo. O vinho, mencionado no livro dos Cânticos, a leva à
bebedeira divina e embriaguez celestial: 19 M.C. 4.2
20
M.C. 4.4
146
Mas,
quando esse Esposo riquíssimo a quer enriquecer e regalar mais, converte-a
tanto em Si que ela, como alguém que desmaia devido a um grande prazer e
contentamento, tem a impressão de estar suspensa naqueles braços divinos e
encostada àquele sagrado lado e àqueles peitos divinos. Ela não sabe mais que
gozar, sustentada por aquele leite divino que o Esposo vai criando para ela,
melhorando-a para poder regalá-la e para que ela mereça cada dia mais.21
É como
um sonho. E logo:
Quando
desperta daquele sonho e daquela embriaguez celestial a alma fica como que
espantada e abobada, num santo desatino. Parece-me que então ela pode dizer
estas palavras: mais valem os teus peitos do que o vinho.22
Subir...
Até o mais alto. Parece não ser outro seu desejo mais íntimo:
Porque,
quando estava naquela embriaguez, parecia-lhe não haver nada mais para subir;
mas quando se viu no grau mais alto e toda embebida naquela grandeza
incomparável de Deus, vendo-se ficar tão sustentada, ela faz delicadamente uma
analogia e diz: mais valem os teus peitos do que o vinho.23
Ela só
quer permanecer jogada nos braços divinos, em armonia com seu esposo o maior
tempo possível: O Jesus meu, quem pudesse dar a entender o ganho que há em nos
lançarmos nos braços deste Senhor nosso e fazer um contrato com Sua Majestade;
que eu pertença ao meu bemamado, e meu bem amado a mim, pois meu bem-amado é meu,
e eu dele! Não nos queiramos tanto a nos mesmas que nos arranquemos os olhos,
como se diz.24 Para ela a relação com Cristo é uma relação de amor. Fora dessa
ralação nada importa. Fora dela ela é nada e não tem 21 M.C. 4.4
22
M.C. 4.4: “Cuando despierta de aquel sueño y de aquella embriaguez celestial,
queda como cosa espantada y embobada y con un santo desatino...” 23 M.C. 4.4. 24
M.C. 4.8-9.
147 para
onde ir. Assim, longe de seu esposo — de Deus — nada tem valor.
Volto
a dizer, Deus meu, e a suplicar-Vos, pelo sangue de Vosso Filho, que me
concedais esta graça: beije-me com o beijo da sua boca. Porque, sem Vós, que
sou eu, Senhor? Se não estou junto a Vós, que valho? Se me afasto um pouquinho
de Vossa Majestade, onde vou parar?
O
Senhor meu, e Misericórdia minha e Bem meu! Que bem maior quero eu nesta vida
além de estar junto a Vós, que não haja divisão entre Vós e mim? Com esta
companhia, o que pode tomar-se difícil? O que não se pode fazer por Vós, tendo Vos
tão perto? Que há para me agradecer, Senhor meu? De que me culpar, sim, há
muito, porque não Vos sirvo. E assim Vos suplico, com Santo Agostinho, e com
toda a determinação: “Dai-me, Senhor, o que me mandardes, e mandai-me o que
quiserdes”. Não Vos darei jamais as costas, com Vosso
favor
e ajuda.25
Teresa
sente que ela e Deus são uma unidade, estão completamente unidos, e ela, como
esposa santa, fará qualquer coisa para manter a unidade com seu esposo.
O meu
estandarte é o amor...
O que
deve fazer a esposa no momento em que o Esposo aparece? Como deve ficar? O que
deve dizer? Teresa encontra a resposta no Cântico dos Cânticos 2,3-4: Sento à
sombra daquele que eu desejo. Seu fruto é doce para minha garganta. O rei me
faz entrar na sua adega de vinho e ordenou para mim o amor. Novamente,
escutemos a Teresa:
Perguntemos
agora à Esposa; saibamos desta bendita alma, já próxima da boca divina e
alimentada por esses peitos celestiais, o que temos de fazer ou como temos de
estar, o que have25 M.C. 4.8-9.
148 mos
de dizer, se o Senhor nos elevar alguma vez a graça tão grande.
O que
ela nos diz é: A sua sombra, como desejei, estou sentada, e seu fruto é doce à
minha boca. Ele me introduziu no celeiro do vinho e o estandarte erguido sobre
mim e o amor. Diz:
A sua
sombra, como desejei, estou sentada.26 Sentada à sombra, com seu esposo, sente
prazer e descanso:
Parece
que, estando no deleite de que falei, a alma sente-se estar toda engolfada por
uma sombra, uma espécie de nuvem da Divindade, de onde vêm influências e um
aconchego tão deleitoso que com boa razão lhe tiram o cansaço que lhe fora
infundido pelas coisas do mundo. A alma sente ali um modo de descanso em que
até a cansa o ter de respirar; e as faculdades ficam em um sossego e quietude
tamanhos que a vontade não gostaria de admitir sequer um pensamento, mesmo que
seja bom, nem o admite em termos de inquiri-lo ou procurá-lo.
Não há
necessidade de menear a mão nem de levantar-se — falo da consideração — para
nada; porque, cortada e cozida, e até mastigada, o fruto da macieira, com que
ela compara o seu bem-amado, lhe é dado pelo Senhor, e ela diz que o seu fruto
é doce à minha boca. Porque aqui tudo é prazer, sem nenhum trabalho das
faculdades, e nessa sombra da divindade (que podemos bem dizer que é sombra,
visto que com clareza não a podemos ver aqui), sob essa nuvem, está aquele sol
resplandecente que envia, por meio do amor, a notícia de que está tão perto de
Sua Majestade que não se pode descrever nem é possível. Eu sei que quem tiver
passado por isso entenderá quão verdadeiramente é possível dar aqui este
sentido às palavras que a Esposa diz.27
A
sombra é produzida pela divindade do esposo, pois nele tudo é sol
resplandecente. Então, desfrutando e gostando de 26 M.C. 5.1.
27
M.C. 5.4.
149 sua
doçura, ela se sente completa e exclama: o que mais eu poderia desejar? (5,6.).
O
descanso à sombra de seu esposo será uma espécie de recompensa para sua vida
cansada e cheia de trabalhos e o vinho do amor está associado à sua
sensualidade28.
Ela
diz que Ele a introduziu no celeiro do vinho e que o estandarte erguido sobre
ela é o amor. Entendo por isso que é imensa a grandeza dessa graça, porque se
pode dar a beber mais ou menos, de um vinho bom e de outro melhor, e embriagar
e embebedar alguém mais ou menos. E assim ocorre nas graças do Senhor, que a um
dá pouco vinho de devoção, a outro dá mais, a outro aumenta tanto a dose que
começa a fazê-lo sair de si, de sua sensibilidade e de todas as coisas da
terra; a uns dá um grande fervor em Seu serviço; a outros, ímpetos; a outros,
ainda, grande caridade com o próximo, e de uma maneira que, de tão embevecidos,
eles não sentem os grandes sofrimentos que aqui padecem.29
Deus
não coloca medida na quantidade de vinho (celestial) que Teresa pode beber, por
isso ela pode-se embriagar à vontade. Seu esposo permite que ela – de acordo
com o texto do Cântico – possa beber de todos seus vinhos. Ela se goza nesses gozos
e sua embriaguez só encontra seu limite na morte.
A
morte é o limite...
Teresa
afirma que não teme perder a vida na embriaguez e aconselha não ter medo de
perder a vida de tanto beber. Lembrando a sua fraqueza natural, exclama: que se
morra nesse paraíso de deleite. E logo acrescentar uma frase com intenção de exclamação:
bem-aventurada tal morte que assim faz viver!
28 A
palavra sensibilidade, da seguinte citação, corresponde à palavra espanhola —
usada várias vezes por Teresa — sensualidade. A edição em português errou na
tradução desta palavra.
29
M.C. 6.3.
150
Mas o
que a Esposa diz aqui é muita coisa junta. O Senhor a põe no celeiro para que
dali ela possa sair rica além de toda medida. Não parece que o Rei queira
deixar qualquer coisa por lhe dar, mas que ela beba de acordo com o seu desejo
e se embriague bem, bebendo de todos os vinhos que há na despensa de Deus. Ele
quer que ela goze de todos esses gozos, que se admire de Suas grandezas, que
não terna perder a vida por beber tanto que vá além de sua natureza, que morra
nesse paraíso de deleites.
Bem-aventurada
essa morte que assim faz viver! E verdadeiramente assim o faz; porque são tão
grandes as maravilhas que entende, sem entender como o entende, que a alma fica
tão fora de si como ela mesma diz ao afirmar: o estandarte erguido sobre mim é
o amor.30
Essa
embriaguez é semelhante a uma morte. As potências ficam mortas ou adormecidas,
e só o amor permanece vivo: nesse momento o amor e a vontade são uma mesma
coisa:
Fiquei
pensando agora se há alguma diferença entre a vontade e o amor. E parece-me que
sim, mas não sei se é disparate. O amor me parece uma seta enviada pela vontade
que, se for com toda a força que esta tem, livre de todas as coisas da terra, voltada
apenas para Deus, deve ferir muito seriamente Sua Majestade, de modo que,
cravando-se no próprio Deus, que é amor, volta dali com enormes ganhos, como
direi.31
Para
ser pleno — para chegar a essa embriaguez santa — o amor deve estar livre. Deve
suspender a sensibilidade: não sentir nada a não ser o próprio amor:
E é
assim que, informada de algumas pessoas a quem Nosso
Senhor
conduziu a tão grande graça na oração, pessoas a quem, Ele leva a esse santo
embevecimento com uma suspensão que mesmo no exterior se vê que elas não estão
em si, pergunteilhes o que sentem. Elas de nenhuma maneira o sabem expli- 30
M.C 6.3. 31 M.C 6.5.
151 cair,
nem o souberam nem puderam entender qualquer coisa sobre como opera ali o
amor.32
Para
chegar à experiência anteriormente descrita, são necessários muitos anos de
esforço e sacrifício. A verdadeira experiência, das que são pura ilusão e
melancolia, se diferencia em que a verdadeira só acontece após anos de
dedicação e luta.
Sendo
que o principal conflito é contra o que Teresa chama de baixo natural.33, Teresa
se pergunta se a menção das flores em Cânticos 2,5 — sustentem-me com flores e
me acompanhem de maçãs, porque desfaleço de amores34 — é uma imagem da morte,
pois a morte seria a única maneira de se juntar definitiva e plenamente com seu
esposo. Responde que não:
Oh,
que linguagem tão divina para o meu propósito! Como, Esposa Santa, a suavidade
vos mata? Porque pelo que sei — algumas vezes a suavidade parece tão excessiva
que desfaz a alma de maneira tal que parece já não haver alma para viver. E pedis
bolos de uva? Que bolos serão esses? Porque isso não é remédio, a não ser que
os peçais para acabar logo de morrer, pois, na verdade, quando chega aqui, a
alma não deseja outra coisa. Mas não pode ser, porque dizeis: Amparai-me com
bolos de uva. E o amparar não me parece ser pedir a morte, mas sim servir um
pouco, com a vida, Aquele a Quem vê que tanto deve.35
As
flores mencionadas no Cântico não são as flores da morte, são as do jardim onde
ela um dia estará com seu esposo.
Experimentar
o amor de Deus — afirma Teresa — é como cair num sono profundo. Então não
consegue nem falar:
Não
penseis, filhas, que exagero ao dizer que a alma morre, porque, como já vos
falei, isso é a pura verdade. O amor age por vezes com tanta força, dominando
de tal maneira as forças 32 M.C 5.6. 33 bajo natural.
34
“Sostenedme con flores y acompañadme de manzanas, porque desfallezco de mal de amores”
(Cant. 2, 5).
35
M.C. 7.1.
152 do
sujeito natural, que até sei de alguém que, estando em se- melhante oração,
ouviu cantar uma bela voz e garante que, a seu ver, se o canto não cessasse, a
alma já lhe ia sair do corpo, graças ao grande deleite e suavidade que Nosso
Senhor lhe permitia experimentar.
E,
assim, Sua Majestade determinou que quem cantava deixasse o canto, porque quem
estava nessa suspensão bem poderia morrer, mas não dizer que parasse: todo o
movimento exterior era impossível; ela não podia se mexer nem agir de modo algum.
E o perigo em que se via era bem perceptível, mas ela estava de uma maneira
semelhante a alguém num sonho profundo com algo de que quer ver-se livre e,
mesmo desejando, não consegue falar.’
Nesse
caso, a alma não queria sair dali, nem lhe seria penoso ficar, mas um grande
contentamento, por ser isso o que deseja.
E que
ditosa morte seria essa, nos braços desse amor! Se bem que, por vezes, Sua
Majestade lhe dá luz para ela ver por que é bom que viva e ela percebe que sua
natureza fraca não resistiria se esse bem lhe fosse dado muito amiúde, pedindo
um outro bem para sair desse tão grande: Amparai-me com bolos de uva.
36
Embriagada
do vinho celestial, não lembra de nada deste mundo. Nesse estado só sente o
gosto docíssimo das flores.37
Teresa
imagina a mulher samaritana, a do evangelho de João, gritando pelas ruas, em
uma bebedeira divina, após falar ter falado com Jesus.38
A árvore
das maçãs, citada no texto de Cântico, seria a árvore da cruz: metáfora para o
sofrimento, trabalhos e perseguições. 36 M.C. 7.2-3. 37 M.C. 7.5.
38
M.C. 7.6: “Iba esta santa mujer con aquella borrachez divina dando gritos por
las calles.”
153
Teresa
de Ávila: leitora de Agostinho de Hipona Em M.C. 4,9 Teresa cita as palavras de
Santo Agostinho: dai-me o que me ordenais e ordenai-me o que quiserdes.39 Que no
texto de Teresa está: “me deis lo que mandareis, y mandadme lo que quisiereis”
(M.C. 4.10). Teresa citou a mesma frase no Livro da Vida 13,3. O mais provável
é que Teresa leu a tradução das Confissões de Sebastian Toscano, publicada em
Salamanca em1554.
Seguindo
a linha de argumentação de Agostinho40, Teresa afirma que para quem ama nada é
impossível. O problema é a fraqueza natural, responsável pelo fracasso de se
entregar ao amor com todas as forças. Teresa manifesta um pessimismo
existencial frente à capacidade do ser humano de poder fazer o bem. A vontade
está em constante luta com essa fraqueza natural:
Atentai
para uma coisa que me ocorreu agora e que vem a propósito para os de natureza
pusilânime e de ânimo fraco (mulheres em especial); nestes, mesmo que suas
almas tenham de fato chegado a esse estado, sua fraca natureza teme. fundamental estar de sobreaviso, porque essa
fraqueza natural nos fará perder uma grande coroa. Quando vos achardes com essa
pusilaminidade, recorrei à fé e à humildade e não deixeis de acometer com fé,
que Deus tudo pode, e, assim, pôde dar forças a muitas crianças santas, e
suficiente para passarem todos os tormentos que se determinaram a passar por
Ele.41
Deus é
o único que pode fortalecer a vontade. Por isso Teresa ora e pede a Deus que
lhe dê fortaleza, pois como Agostinho tem aguda consciência de sua fraqueza. E
fala do livre arbítrio, outra palavra típica de Santo Agostinho:
39 Da
quod iubes, et iube quod uis. Agostinho, Confissões, X, 29,40.
40
Conferir: GUTIÉRREZ, Jorge Luis Rodríguez. Entre dois amores: o amor e a vida
na filosofia e Santo Agostinho. Revista Caminhando, Editeo. Nº 8, junho de
2001. ISSN 1519-7018.
41
M.C. 3.5.
154
A
partir dessa determinação, Ele quer nos fazer senhores desse livre arbítrio,
pois não precisa do nosso esforço para nada; Sua Majestade antes gosta que Suas
obras resplandeçam em gente fraca, pois esta dá mais ensejo a que Ele faça
operar Seu poder e cumprir o desejo que tem de nos fazer graças.42.
É
também agostiniana sua convicção de que a liberdade de escolha se encontra em
luta com a fraqueza da vontade. A sinceridade com que Agostinho confessou suas
lutas interiores — a fraqueza da carne — e sua sede de verdade, eternidade e beleza,
foram uma inspiração para Teresa: seu Livro da Vida, como as Confissões, é
também uma longa confissão.
Que o amor fique vivo... num mundo de sequidão
Teresa chama esta vida de vida de seca43: a única esperança é que Deus, um dia,
como prêmio por seu amor e sacrifícios, lhe permita entrar no jardim, onde
haverá água e frutas.
Essa
esperança é o maior incentivo para perseverar no amor.
Também
manifesta sua miséria: sua carne é doente, fraca, pecadora e presa de um baixo
natural44. Contrariamente, a carne de seu amado — Deus — é divina e sem pecado.
Teresa se sente triste até a morte. Está com medo de sua finitude, fraqueza e condição
pecadora. Teme não poder chegar ao paraíso. Manifesta, então, seu desejo – ou
esperança – de morrer para o mundo o quanto antes possível para assim se ver
livre das tristezas, de seu corpo fraco e de sua vontade. Ela quer ter a paz de
uma esposa: não suporta a incerteza da espera. Mas, a miséria do presente é
suportável pela esperança do beijo divino:
Já
vejo, Esposo meu, o que Vós sois para mim; não o posso negar. Por mim viestes
ao mundo, por mim passastes tão grandes sofrimentos, por mim suportastes tantos
açoites, por 42 M.C. 3.5-6.
43
“Vida de tanto seco.”
44
“Bajo natural” – Palavra que repete muitas vezes em seu escrito. 155 mim Vos quedastes no Santíssimo Sacramento
e, agora, me concedeis tão grandes prazeres. Pois, Esposa santa, como disse eu
que Vós dizeis: que posso fazer pelo meu Esposo? (...)
Como
Ele nos dá licença, repitamos, filhas: meu bem-amado é meu, e eu dele. Sois
meu, Senhor? Se Vós vindes a mim, por que duvido de poder servir-Vos muito?
Assim, doravante, Senhor, desejo esquecer-me de mim mesma e ver apenas em que Vos
posso servir, e não ter vontade senão a Vossa. Mas o meu querer não tem força;
Vós sois o poderoso, Deus meu. Naquilo que posso, que é decidir-me, a partir de
agora o faço para pô- lo em prática.45
Após
ter experimentado o amor divino Teresa volta a sentir a fraqueza do corpo
frente às paixões. Então uma oração brota de seus lábios: quero me esquecer de
mim e olhar só em que posso te servir e não ter vontade senão a tua... e
estando todas as faculdades mortas ou adormecidas, o amor fique vivo... 46.
A
Teresa foi atribuída a autoria de um dos mais belos poemas da língua espanhola.
E embora não existem provas de que ela o tenha escrito, este poema reflete bem
o pensamento de Teresa e em geral de todo o misticismo espanhol:
No me
mueve mi Dios, para quererte el cielo que me tienes prometido, ni me mueve el
infierno tan temido para dejar por eso de ofenderte.
Tú me
mueves, Señor; muéveme el verte clavado en una cruz y encarnecido; muéveme ver
tu cuerpo tan herido; muévenme tus afrentas y tu muerte.
Muéveme,
en fin, tu amor, y en tal manera, que aunque no hubiera cielo, yo te amara, y
aunque no hubiera infierno, te temiera.
No me
tienes que dar porque te quiera, pues aunque lo que espero no esperara,
45
M.C. 4.12.
46
M.C. 4.12.
156
lo
mismo que te quiero te quisiera.47. Finalizando...
Terminarei
este artigo com uma nota de caráter pessoal.
No mês
de junho de 2002, estando realizando algumas atividades na Universidade de
Salamanca na Espanha, um domingo peguei o ônibus até Alva de Tormes: uma
pequena cidade sos- segada e tranquilas a beira do rio Tormes. Visitei a Igreja
de Santa Teresa, onde está seu corpo e suas relíquias; visitei o convento das
carmelitas do lado da Igreja (seu quarto ainda esta preservado), visitei também
a Igreja de São João da Cruz e uma antiga igreja do período gótico, visitei os
sítios turísticos da Cidade, e subi a velha torre do Castilho do Duque de Alba,
cami- nhei pelas Ruas dessa cidade tão cheia de história, onde está o túmulo de
Teresa. Era um dia de sol e céu azul. Era noite quando voltei para Salamanca.
De longe podiam ser vistas as construções de pedra, iluminadas. Eu tentava
relacionar tudo o que eu tinha lido sobre Teresa com esse mundo que eu estava
vendo quase quinhentos anos mais tarde. De Salamanca foi para Valladolid e após
alguns dias voltei para Madrid. Na volta passei pela cidade de Ávila, lugar
onde nasceu Teresa. Ávila é uma ci47 Este poema geralmente nas antologias de
Poesia Espanhola leva por título “Soneto del Crusificado”. É um poema anônimo
espanhol. No livro As Mais Belas Orações
(Ed.
Pensamento) se encontra esta tradução para o português:
Não me
move, meu Deus, para querer-te o céu que me hás um dia prometido: e nem me move
o inferno tão temido para deixar por isso de ofender-te.
Tu me
moves, Senhor, move-me o verte cravado nessa cruz e escarnecido.
Move-me
no teu corpo tão ferido ver o suor de agonia que ele verte.
Move-me
ao teu amor de tal maneira Que a não haver o céu ainda te amara e a não haver o
inferno te temera.
Nada
me tens que dar por que te queira; que se o que ouso esperar não esperara, o mesmo que te quero te quisera.
157 idade
que ainda conserva boa parte dos antigos muros de pedra e tem na parte alta uma
grande catedral. Embora a minha viagem tinha outras finalidades, visitar estes
lugares foi uma experiência esplêndida que ficará por muito tempo na minha
memória e nos meus álbuns de fotografia.
3.A
SANTA DOUTORA DO DIA, E PATRONA DO PROFESSOR, POR FORÇA DE3.SUA OBRA, É Santa
Teresa de Ávila (Santa Teresa de Jesus):
Conseguiu
fundar mais de trinta e dois mosteiros, além de recuperar o fervor primitivo de
muitas carmelitas, juntamente com São João da Cruz
Com
grande alegria lembramos, hoje, da vida de santidade daquela que mereceu ser
proclamada “Doutora da Igreja”: Santa Teresa de Ávila (também conhecida como
Santa Teresa de Jesus). Teresa nasceu em Ávila, na Espanha, em 1515 e foi
educada de modo sólido e cristão, tanto assim que, quando criança, se encantou
tanto com a leitura da vida dos santos mártires a ponto de ter combinado fugir
com o irmão para uma região onde muitos cristãos eram martirizados; mas nada
disso aconteceu graças à vigilância dos pais.
Aos
vinte anos, ingressou no Carmelo de Ávila, onde viveu um período no
relaxamento, pois muito se apegou às criaturas, parentes e conversas
destrutivas, assim como conta em seu livro biográfico.
Reze a oração de Santa Teresa de Ávila
Certo
dia, foi tocada pelo olhar da imagem de um Cristo sofredor, assumiu a partir
dessa experiência a sua conversão e voltou ao fervor da espiritualidade
carmelita, a ponto de criar uma espiritualidade modelo.
Foi
grande amiga do seu conselheiro espiritual São João da Cruz, também Doutor da
Igreja, místico e reformador da parte masculina da Ordem Carmelita. Por meio de
contatos místicos e com a orientação desse grande amigo, iniciou aos 40 anos de
idade, com saúde abalada, a reforma do Carmelo feminino. Começou pela fundação
do Carmelo de São José, fora dos muros de Ávila. Daí partiu para todas as
direções da Espanha, criando novos Carmelos e reformando os antigos. Provocou
com isso muitos ressentimentos por parte daqueles que não aceitavam a vida
austera que propunha para o Carmelo reformado. Chegou a ter temporariamente
revogada a licença para reformar outros conventos ou fundar novas casas.
Santa
Teresa deixou-nos várias obras grandiosas e profundas, principalmente escritas
para as suas filhas do Carmelo : “O Caminho da Perfeição”, “Pensamentos sobre o
Amor de Deus”, “Castelo Interior”, “A Vida”. Morreu em Alba de Tormes na noite
de 15 de outubro de 1582 aos 67 anos, e em 1622 foi proclamada santa. O seu
segredo foi o amor. Conseguiu fundar mais de trinta e dois mosteiros, além de
recuperar o fervor primitivo de muitas carmelitas, juntamente com São João da
Cruz. Teve sofrimentos físicos e morais antes de morrer, até que em 1582 disse
uma das últimas palavras: “Senhor, sou filha de vossa Igreja. Como filha da
Igreja Católica quero morrer”.
No dia
27 de setembro de 1970 o Papa Paulo VI reconheceu-lhe o título de Doutora da
Igreja. Sua festa litúrgica é no dia 15 de outubro. Santa Teresa de Ávila é
considerada um dos maiores gênios que a humanidade já produziu. Mesmo ateus e
livres-pensadores são obrigados a enaltecer sua viva e arguta inteligência, a
força persuasiva de seus argumentos, seu estilo vivo e atraente e seu profundo
bom senso. O grande Doutor da Igreja, Santo Afonso Maria de Ligório, a tinha em
tão alta estima que a escolheu como patrona, e a ela consagrou-se como filho
espiritual, enaltecendo-a em muitos de seus escritos.
Santa
Teresa de Ávila, rogai por nós!
Fonte: Canção
Nova e Santuário Nacional de Aparecida – A12.
4.MEDITAÇÃO
E ORAÇÃO:
Quando
os discípulos começassem a anunciar abertamente o Evangelho, viriam as
perseguições de todo tipo. Para animá-los, Jesus começou chamando-os de
“amigos”. Não deviam temer os poderes que se oporiam ao Evangelho, pois o
máximo que poderiam era matar o corpo. Não poderiam matar as ideias, nem
impedir que o poder de Deus realizasse a transformação que decidiu fazer. A fé
bem vivida e a força transformadora de uma Comunidade cristã, unida em Cristo,
ninguém poderá roubar, nem a traça irá corroer.
Oração
Ó
Deus, que pelo vosso Espírito fizestes surgir Santa Teresa para recordar à
Igreja o caminho da perfeição, dai-nos encontrar sempre alimento em sua
doutrina celeste e sentir em nós o desejo da verdadeira santidade. Por nosso
Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
5.COMO
É O CAMINHO DA PERFEIÇÃO DE SANTA TERESA D’ ÀVILA, vide em De Jesus, Teresa,
Caminho da Perfeição, Editora Paulus, 1.977, esta obra está disponível na
Livraria da Diocese à venda:
S.
Teresa de Jesus
CAMINHO
DE PERFEIÇÃO
Índice
Geral
JHS
JHS.
PRÓLOGO.
CAPÍTULO
1. Da causa que me moveu a fazer este convento com tanta estreiteza.
CAPÍTULO
2. Trata como se hão-de descuidar das necessidades corporais, e do bem que há
na pobreza.
CAPÍTULO
3. Prossegue no assunto que começou a tratar e persuade as irmãs a que se
ocupem sempre em suplicar a Deus que favoreça os que trabalham pela Igreja.
Termina com uma exclamação.
CAPÍTULO
4. Em que persuade a que se guarde a regra, e três coisas importantes para a
vida espiritual. Declara a primeira destas coisas, que é o amor do próximo e o dano
que causam as amizades particulares.
CAPÍTULO
5. Prossegue acerca dos confessores. Diz o que importa que sejam letrados.
CAPÍTULO
6. Volta à matéria que começou: o perfeito amor.
CAPÍTULO
7. Trata do mesmo assunto do amor espiritual e dá alguns avisos para o
alcançar.
file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20%20P...visori/mbs%20Library/001%20Da%20Fare/0CAMINHO.htm
(1 of 5)2006-06-01 14:57:56 S. Teresa de Jesus CAMINHO DE PERFEIÇÃO: Index.
CAPÍTULO
8. Trata do grande bem que é o desprendimento interior e exterior de todas as
coisas.
CAPÍTULO
9. Trata do grande bem que há em fugir dos parentes os que deixaram o mundo, e
de quantos mais verdadeiros amigos encontram.
CAPÍTULO
10. Trata de como não basta desprender-se do que fica dito, mas sim de nós
mesmas, e de como
anda
junta esta virtude com a humildade.
CAPÍTULO
11. Prossegue na mortificação e diz a que se há-de adquirir nas enfermidades.
CAPÍTULO
12. Trata como há-de ter em pouco a vida e a honra o verdadeiro amador de Deus.
CAPÍTULO
13. Prossegue na mesma matéria da mortificação e como se há-de fugir dos pontos
de honra e das razões do mundo para chegar à verdadeira razão.
CAPÍTULO
14. Trata do muito que importa não dar a profissão a nenhuma cujo espírito vá
contra as coisas que ficam ditas.
CAPÍTULO
15. Trata do grande bem que há em não se desculpar, ainda que se vejam condenar
sem culpa.
CAPÍTULO
16. Da diferença que deve haver entre a perfeição da vida dos contemplativos e
dos que se contentam com oração mental, e como é possível algumas vezes Deus
subir uma alma distraída à perfeita contemplação e a causa disto. É muito de
ter em conta este capítulo e o que lhe segue.
CAPÍTULO
17. De como nem todas as almas são para a contemplação e como algumas chegam
ela tarde e que file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20%20P...visori/mbs%20Library/001%20-Da%20Fare/0CAMINHO.htm
(2 of 5)2006-06-01 14:57:56 S. Teresa de Jesus CAMINHO DE PERFEIÇÃO: Index.
o
verdadeiro humilde há-de ir contente pelo caminho por onde levar o Senhor.
CAPÍTULO
18. Prossegue na mesma matéria e diz quanto maiores são os trabalhos dos
contemplativos do que os dos activos. É de grande consolação para eles.
CAPÍTULO
19. Começa a tratar da oração. Fala com almas que não podem discorrer com o
entendimento.
CAPÍTULO
20. Trata de como, por diferentes vias, nunca falta consolação no caminho da
oração, e aconselha as irmãs a que disto sejam sempre as suas práticas e
conversações.
CAPÍTULO
21. Diz o muito que importa começar com grande determinação a ter oração e não
fazer caro dos inconvenientes que o demónio sugere.
CAPÍTULO
22. Declara o que é oração mental.
CAPÍTULO
23. Trata de quanto importa não voltar atrás quem começou o caminho da oração e
volta a falar do muito que importa que seja com determinação.
CAPÍTULO
24. Trata de como se há-de rezar com perfeição a oração vocal e quão junta anda
esta com a mental.
CAPÍTULO
25. Diz o muito que ganha uma alma que reza vocalmente com perfeição e como
acontece Deus elevá-la disto a coisas sobrenaturais.
CAPÍTULO
26. Vai declarando o modo de recolher o pensamento. Dá meios para isso. Este
capítulo é muito proveitoso para os que começam a ter oração.
file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20%20P...visori/mbs%20Library/001%20-Da%20Fare/0CAMINHO.htm
(3 of 5)2006-06-01 14:57:56 S. Teresa de Jesus CAMINHO DE PERFEIÇÃO: Index.
CAPÍTULO
27. Trata do grande amor que o Senhor nos mostrou nas primeiras palavras do
«Pai Nosso», e o muito que importa não fazer nenhum caso da nobreza de linhagem
as que deveras querem ser filhas de Deus.
CAPÍTULO
28. Declara o que é oração de recolhimento e dá alguns meios para se
acostumarem a ela.
CAPÍTULO
29. Prossegue dizendo os meios a empregar para procurar esta oração de recolhi
mento. Diz o pouco em que se há-de ter o ser favorecidas pelos prelados.
CAPÍTULO
30. Diz quanto importa entender o que se pede na oração. Trata destas palavras
do «Pater Noster»: «Santificetur nomen tuum, adveniat regnum tuum». Aplica-as à
oração de quietude e começa a explicá-la.
CAPÍTULO
31. Prossegue na mesma matéria. Declara o que é oração de quietude. Dá algum
avisos para os que a têm. É muito para notar.
CAPÍTULO
32. Trata destas palavras do Pai Nosso:
«Fiat
voluntas tua sicut in coelo et in terra», e o muito que faz quem diz estas
palavras com toda a determinação, e como o Senhor lho paga bem.
CAPÍTULO
33. Trata da grande necessidade que temos de que o Senhor nos dê o que pedimos
nestas palavras de Pater noster: «Panem nostrum quotidianum da nobis hodie».
CAPÍTULO
34. Prossegue na mesma matéria. É muito útil para depois de se ter recebido o
Santíssimo Sacramento.
CAPÍTULO
35. Acaba a matéria começada com uma file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20%20P...visori/mbs%20Library/001%20-Da%20Fare/0.
CAMINHO.htm (4 of 5)2006-06-01 14:57:56 S. Teresa de Jesus CAMINHO DE
PERFEIÇÃO: Index.
exclamação
ao Pai Eterno.
CAPÍTULO
36. Trata destas palavras do Pai Nosso: «Dimitte nobis debita nostra».
CAPÍTULO
37. Fala da excelência desta oração do «Pater noster» e corno acharemos nela
consolação de muitas maneiras.
CAPÍTULO
38. Trata da grande necessidade que temos de ,suplicar ao Pai Eterno que nos
conceda o que Lhe pedimos nestas palavras: «Et ne nos inducas in tentationem,
sed libera nós a malo» e declara algumas tentações.
CAPÍTULO
39. Prossegue a mesma matéria e dá avisos
sobre
tentações, sendo algumas de diversos modos, e propõe remédios para que se
possam livrar delas.
CAPÍTULO
40. Diz como, procurando andar sempre em amor e temor de Deus, iremos seguras
entre tantas tentações.
CAPÍTULO
41. Fala do temor de Deus e como nos havemos de guardar dos pecados veniais.
CAPÍTULO
42. Trata destas últimas palavras do Pater noster: «Sed libera nos a malo.
Amen». Mas livrai-nos do mal. Amém.
file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20%20P...visori/mbs%20Library/001%20-Da%20Fare/0
AMINHO.htm (5 of 5)2006-06-01 14:57:56.
S.
Teresa de Jesus CAMINHO DE PERFEIÇÃO: C.1.
S.
Teresa de Jesus
CAMINHO
DE PERFEIÇÃO
Livro
chamado Caminho de Perfeição, composto por Teresa de Jesus, freira da Ordem de
Nossa Senhora do Carmo. Vai dirigido às freiras descalças de Nossa Senhora do
Carmo da
Primeira
Regra.
JHS
Este
livro trata de avisos e conselhos que Teresa de Jesus dá às Religiosas, irmãs e
filhas suas, dos mosteiros que, com o favor de Nosso Senhor e da gloriosa
Virgem Mãe de Deus, Senhora Nossa, tem fundado da Regra Primitiva de Nossa Senhora
do Carmo. Dirigese em especial às Irmãs do Mosteiro de S. José de Ávila, que
foi o primeiro e em que era prioresa quando o escreveu.
Em
tudo o que nele disser, me sujeito ao que me ensina a Santa Madre Igreja Romana
e, se alguma coisa for contrária a isto, é por não o entender. E assim, aos
letrados que o hão-de ver, peço, por amor de Nosso Senhor, que o vejam muito
particularmente e o corrijam, se alguma falta nisto houver, e outras muitas que
terá noutras coisas. Se nele houver alguma coisa boa, seja para glória e honra
de Deus e serviço de Sua Sacratíssima Mãe, Padroeira e Senhora Nossa, cujo
hábito eu trago, ainda que muito indigna dele?
file:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20%20Provvisori/mbs%20Library/001%20Da%20Fare/CAMINHO1.htm2006-06-01
14:57:57 S. Teresa de Jesus CAMINHO DE PERFEIÇÃO: C.2.
JHS.
PRÓLOGO.
1.
Sabendo as irmãs deste Mosteiro de S. José que eu tinha licença do Padre
Presentado Frei Domingo Bánes, da Ordem do glorioso S.
Domingos,
que presentemente é meu confessor, para escrever algumas coisas de oração, em
que parece que poderei atinar por ter tratado com muitas pessoas espirituais e
santas, têm-me importunado tanto para que lhes diga alguma coisa sobre ela, que
me determinei a obedecer-lhes, vendo que o grande amor que me têm pode
fazer-lhes mais aceite o mau estilo e imperfeito daquilo que eu disser, do que
alguns livros muito bem escritos por quem sabia o que escreveu. E confio nas
suas orações, pois poderá ser que, por elas, o Senhor seja servido que eu
acerte em dizer alguma coisa do mais conveniente ao modo de viver que temos
nesta casa.
E, se
for pouco acertado, o Padre Presentado, que há-de ser o
primeiro
a ver isto, o remediará ou queimará, e eu nada terei perdido obedecendo a estas
servas de Deus, e elas verão o que eu posso por mim mesma quando Sua Majestade
não me ajuda.
2.
Penso dar aqui alguns auxílios para umas pequenas tentações que o demónio nos
apresenta que, - por serem tão diminutas -, talvez não se faça caso delas.
Direi ainda outras coisas, conforme o Senhor me der a entender e eu me for
lembrando, porque, como não sei o que irei dizer, não posso dizê-lo com
concerto. Creio mesmo que melhor será não o ter, pois é já coisa bem
desconcertada eu escrever isto. O Senhor ponha a Sua mão em tudo o que eu
fizer, para que vá conforme à Sua santa vontade; estes são sempre os meus
desejos, ainda que as obras sejam tão falhas como eu sou.
3. Sei
que não me falta amor e desejo de ajudar naquilo que puder, para que as almas
das minhas irmãs vão muito adiante no serviço do Senhor. Este amor, junto com
os anos e a experiência que tenho de alguns conventos, poderá ser que sirva
para eu atinar, mais do que os letrados, em coisas pequenas. Por terem eles
outras ocupações mais importantes e serem varões fortes, não fazem tanto caso
de coisas que em si não parecem nada, e a nós, mulheres, como somos tão fracas,
tudo nos pode causar dano; porque as subtilezas do demónio são muitas para as
que vivem muito encerradas, porque vê que precisa de armas novas para lhes
fazer mal. Eu, como sou ruim, tenho-me sabido defender mal, e assim quereria
que minhas irmãs escarmentassem em mim. Não direi coisa.
Santa
Teresa D’ Ávila, quem em sua oração disse: Só Deus basta! Amém!
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