A COMPREENSÃO QUANDO NÃO HÁ, CONDUZ À SALA DA IGNORÂNCIA, E, PARA SAIR DELA, É NECESSÁRIO VONTADE, DESEJO, HUMILDADE, E REFLEXÃO (BOM SENSO).




Como se observa, os dias  transcorrem como se não viesse no futuro o ano e o dia seguinte,  pois a quinta-feira, do dia 29/08/2019, do ano solar, já fazem mais de 2019,  já o ano solar adotado no Egito, foi adotado no continente Europeu, pelo Caio Júlio César, antes de sofrer no Senado Romano, ataque traiçoeiro no dia 15 de março de 44 a. C, pelo Brutus, onde exclamou: “Até tu, Brutus, filho meu...” Sabe a causa da ação de Brutus: inveja, olho gordo, porque no testamento como seu herdeiro César, considera como seu sucessor o sobrinho Otávio  Augusto, que na época, ainda estava no final da adolescência, e entrava na juventude. É bom ter noção da histporia Romana, que Cáio Júlio César, ainda não possuía o poder de imperador, pois o 1º Imperado de Romana, com o título de Divino foi  Otávio Augusto, que o Imperador que nasceu o Menino Jesus, então, caso saísse dos domínios de Herodes Antipas, já em outra Província, que o Governador fosse outro, logo a criança estaria fora do risco de ser morto, porque o Herodes não existiria.
O mês de agosto, traz consigo a solenidade mais formidável, e necessária à humanidade, vinda do céu, que a morte, a ressurreição, e a coroação de Nossa Senhora, cujo fato se inicia com sua morte, dormência como dizem os escritores da época, no dia 15 de agosto, ressuscita ao céu de corpo e alma, e é coroada no céu, como Rainha do céu e da terra, em data de comemoração no dia 22 de agosto.
Logo a ressurreição do segundo ser da humanidade, o essencial está em que Nossa Senhora no  conceito de Logos  à Mãe de Jesus e da humanidade, que  está posta como o 4º Logos, em número de  sete. E, também pelo fato de ser Mulher, onde põe o feminino no projeto de evolução, que  toda mulher do planeta, deve empenhar-se e esforçar-se pelo mérito da virtude, e avançar o caminho, pela via da bondade, da ética, da consciência, e observar as leis do universo, especialmente o amor e da sabedoria, e também, praticar o bem, porque não se deve violar a lei do Karma – da causa e efeito.
Pois a matéria sobre a compreensão,  quando não existe confunde, e complica a existência. Logo à vida, também, mas é necessário conhecer e fixar na consciência, que  Vida é o Ser. Logo é o único que existe e pensa. A vida saí voluntariamente, pelo fato de o seu corpo está  lhe colocando trava. Então, o Livro - TORNAR A VIDA AMÁVEL , reflete questões substanciais à existência humana, veja:
 COMPREENSÃO - Compreensão em voz ativa Como é agradável sentir-se compreendido em casa, no trabalho, entre os amigos mais chegados. E como é amargo sofrer a incompreensão. Dói ouvir frases como estas: “Meu marido não me compreende”, “Lá em casa não me entendem”, “Meu chefe só vê defeitos, não reconhece o bom trabalho que eu faço”... Na vida de todos nós – na sua e na minha – é inevitável que haja mal entendidos e incompreensões..., provavelmente menos dos que imaginamos por causa da nossa suscetibilidade. Mas mesmo que haja, é muito ruim passar a vida queixando-nos de que somos incompreendidos. Pode chegar a ser um “vitimismo” mórbido, além de uma perda de tempo. Por isso, é importante que demos uma virada ao verbo compreender, e o passemos da voz passiva (“não sou compreendido”) para a voz ativa (“eu é que tenho que compreender”). Você sabe por experiência – se for sincero − que compreender os outros não é nada fácil. O primeiro obstáculo são os nossos próprios defeitos. Tinha razão o padre Vieira quando, num sermão de Quaresma, dizia que «os olhos veem pelo coração», que tinge com seus bons ou maus sentimentos a imagem que fazemos do próximo. «Muitos – escreve, no mesmo sentido, São Josemaria – focalizam as pessoas com as lentes deformadas de seus próprios defeitos» (Sulco, n. 644). Você já deve ter percebido que o mau humor, o rancor, a decepção, a raiva, a inveja e outras falhas nossas, são lentes estragadas que deformam a visão que temos dos outros. Dois olhares contrapostos Vejamos algumas luzes do Evangelho sobre a compreensão. São Lucas narra que certo dia, enquanto Jesus estava à mesa com outros convivas na casa de um fariseu chamado Simão, uma mulher “pecadora na cidade” entrou inesperadamente na sala, ajoelhou-se atrás de Jesus e, chorando, começou a banhar-lhe  os pés com suas lágrimas, a ungi-los com o perfume que trazia num vaso de alabastro, a beijálos e a enxugá-los com seus cabelos (cf. Lc 7, 36-38). Todos a fitam espantados. O Evangelho concentra o foco em dois olhares contrapostos: o do fariseu e o de Jesus. ─ O fariseu fixa os olhos naquela mulher e a fulmina; intimamente critica Jesus, pensando: Se este homem fosse profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que o toca, pois é pecadora (v.39). ─ Jesus tem outro modo de olhar: Voltando-se para a mulher, disse a Simão: “Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para lavar os pés; mas esta com as suas lágrimas regou-me os pés...Não me deste o ósculo; mas esta, desde que entrou, não cessou de beijar-me os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta, com perfume, ungiu-me os pés. Por isso te digo: seus numerosos pecados lhe foram perdoados, porque ela tem demonstrado muito amor (vv. 44-47). ─ Simão só vê uma mulher manchada pelo pecado. ─ Jesus só vê um coração arrependido, cheio de contrição e de desejos de reparar. O que nós vemos? Certamente só vemos o que o nosso coração nos permite ver. Se teu olho é são, todo o corpo será bem iluminado... Vê que a luz que está em ti não sejam trevas, alerta-nos Cristo (Lc 11, 34-35). Há corações escuros, que filtram a realidade e, nas pessoas, só veem o mal; enxergam apenas as sombras e não captam as luzes. As principais causas dessa distorção são duas: o orgulho e a inveja. O orgulho julga, critica e despreza; a inveja polui o olhar com a tristeza pelo bem dos outros e o rancor pela superioridade alheia. Não é verdade que temos muita facilidade para descobrir defeitos naquelas pessoas cujas virtudes nos humilham? Ou naquelas que são mais apreciadas do que nós? Ou que detectamos defeitos aborrecidos nos familiares que nos irritam – esposa, marido, filhos −, simplesmente porque não pensam como nós ou não são como nós gostaríamos? Vale a pena que, ao pensar nisso, nos perguntemos: Qual é o primeiro passo que devo dar para melhorar a minha capacidade de compreender? Creio que o mais urgente é empenhar-nos lealmente por descobrir, reconhecer e agradecer as qualidades boas que os outros têm, e que tão injustamente esquecemos. Se tentarmos fazer serenamente o elenco dessas qualidades, vamos nos surpreender. É impressionante constatar a quantidade de virtudes que lembramos, com saudades, de uma pessoa que faleceu. Não seria melhor ter reconhecido esses belos valores antes de que a morte a levasse? Examinemos nossa consciência. Como é que agradecemos – com palavras e atitudes simpáticas − as virtudes, sacrifícios, serviços, delicadezas, etc..., que familiares, colegas e amigos têm habitualmente para conosco? Como lhes manifestamos, de forma discreta e amável, essa gratidão; e como damos graças a Deus por tanta coisa boa que eles nos dão, em vez fechar o coração e criticá-los? Trataremos com mais extensão deste assunto no capítulo 14. Aprendamos a olhar com amor humilde Veja o que Santa Teresinha dizia às suas noviças: «Devemos sempre julgar os outros benignamente, porque o que parece aos nossos olhos negligência pode muitas vezes ser um ato de heroísmo aos olhos do Senhor. Uma irmã que tenha uma dor de cabeça ou atravesse provações espirituais cumpre mais quando faz metade do seu trabalho do que outras irmãs sadias de corpo e alma que fazem tudo bem». Se víssemos as pessoas como Deus as vê, choraríamos de pena pelas nossas faltas de compreensão. Tentemos fazer o que aconselha São José e Maria: «Põe-te sempre nas circunstâncias do próximo: assim verás os problemas ou as questões serenamente, não te desgostarás, compreenderás, desculparás...» (Sulco, n. 958). E convençamo-nos de que só chegaremos a ser compreensivos se observarmos ao pé  da letra o que Cristo nos mandou: Por que olhas o cisco que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave de teu olho, e assim verás para tirar a palha do olho de teu irmão (Mt 7,3.5). Esta última frase de Cristo – assim verás para tirar... − é importante, e exige uma reflexão mais ampla, que procuraremos desenvolver no próximo capítulo. Por ora, encerremos esta primeira reflexão formulando duas perguntas: ─ Quais são as pessoas que mais me aborrecem, de modo que quando as encontro ou penso nelas, a primeira coisa que me vem à cabeça são os defeitos desagradáveis que têm? Por que as vejo assim? Não diga: “Porque são chatas, porque não me tratam bem, porque me incomodam?”. Pergunte-se antes: “Quais são os defeitos meus – que não reconheço por falta de humildade –, que me levam a julgar negativamente essas pessoas. ─ Outra pergunta: Não acontecerá que eu tenho precisamente os defeitos que me incomodam nos outros? Talvez o meu espírito crítico me avise em silêncio de que eu deveria começar por extirpar tais defeitos de mim? Penso que, se procurássemos fazer isso, Jesus nos diria: “Agora que você tirou sua trave do olho poderá ajudar seu irmão a retirar o cisco do olho dele” (cf. Mt, 7,5). 2. CORRIGIR COM AMOR Saber corrigir Um dos aspectos mais nobres da compreensão é saber a corrigir. Corrigir os erros dos outros – com amor e ânimo de ajudar – é uma das melhores maneiras de compreendêlos. Pode ser que alguém retruque: “Espere um pouco. Fora o caso da educação das crianças, “corrigir” não é uma espécie de ato de orgulho, de superioridade? Não seria mais próprio da compreensão esforçar-se só em desculpar, relevar, não julgar; e focalizar apenas lado bom da pessoa, como víamos no capítulo anterior?” Não parece que Cristo pense assim, tendo em conta que Ele nos diz: Se o teu irmão pecar, vai ter com ele e corrige-o a sós. Se te der ouvidos, terás ganho o teu irmão (Mt.  18,15). São Paulo dá o mesmo conselho: Irmãos, se alguém for surpreendido em alguma falta, vós, que sois animados pelo Espírito, admoestai-o em espírito de mansidão (Gl 6,1). Não esqueçamos o que víamos no capítulo anterior: Jesus, depois de censurar a pessoa que só enxerga o cisco no olho do irmão, fala do dever de corrigir: Tira primeiro a trave de teu olho e assim verás para tirar o cisco do olho de teu irmão (Mt 7,5). Como vê, esse mesmo Jesus que nos ama e nos desculpa com infinita misericórdia, nos manda corrigir, precisamente porque quer, acima de tudo, o nosso bem. Por isso, porque nos ama, não hesita em alertar, em corrigir, em repreender, ainda que isso doa, como fez com os Apóstolos (cf. Mt 16,23 e 20,25-26). Só o coração que ama corrige bem ─ Quem é que não consegue corrigir e ajudar com amor? O egoísta indiferente, aquele que diz: “Isso é lá com ele, eu não me meto, que faça o que quiser... Se quer se afundar, que se afunde” E, quando o outro se afunda mesmo, tranquiliza-se pensando: “Foi ele que quis, eu não tenho a culpa”. ─ Também não ama o bastante (e, por isso, não corrige) o mole de sentimentos, que acha que é bom com os outros só porque passa por cima de tudo e tudo tolera. Nunca adverte nem corrige por medo de magoar e perder a estima. A esse sentimental covarde, o Espírito Santo diz no livro dos Provérbios: Melhor é a correção manifesta do que uma amizade fingida (Pr 27,5). ─ Pior ainda que o tolerante mole é o psicólogo de araque que acha que corrigir é “traumatizar” ou tirar a “liberdade” (Meu Deus! Quando deixaremos de ouvir essas patacoadas?). ─ Como é evidente, também não está em condições de corrigir cristãmente aquele que se irrita com os defeitos da pessoa, dá bronca na hora e diz que está “cansado e aguentá-la”. O que esse tal deve fazer é acalmar-se, ser humilde, calar e rezar pedindo a Deus o amor que não tem. E, se a irritação virou raiva ou ódio, ir logo confessar-se da sua séria falta de caridade. Para corrigir fazendo o bem é preciso ter afeto pela pessoa, saber desculpá-la no íntimo de nós, e sentir pena quando vemos nela alguma coisa errada, porque pode lhe causar um mal. Justamente quem quer o bem do próximo deseja dar-lhe a mão que ajuda. Pense que não é obstáculo para corrigir com eficácia o fato de sentir dificuldade em fazê-lo. Quase sempre custa falar de um defeito diretamente com o interessado; é natural que soframos com o receio de que – ainda que falemos com carinho – o outro não entenda e possa se melindrar. Mas mesmo  assim é preciso rezar, antes e depois, falar. É uma questão de coragem e de lealdade. Seria deslealdade calar-se, fingir, sorrir na cara e criticar pelas costas . Vem a propósito um episódio da vida do célebre escritor Chateaubriand. Conta em suas Memórias que certa vez o rei Luís XVIII da França lhe pediu sua opinião sobre uma medida que acabava de adotar e sobre a qual Chateaubriand discordava. O escritor tentou esquivar a resposta mas, perante a insistência do monarca, falou lealmente que era totalmente contra: «Sire, pardonnez ma fidelité» (“Senhor, perdoai a minha fidelidade”). Pense que é especialmente falho o pai, a mãe, o superior, o educador que, para evitar passar um mau bocado, omite as correções devidas e deixa correr à deriva a vida dos que deveria orientar. Falando desses comodistas, São Josemaria comentava: «Talvez poupem desgostos nesta vida ..., mas põem em risco a felicidade eterna – a própria e a dos outros – pelas suas omissões, que são verdadeiros pecados» (Forja, n. 577). Como viver a “correção fraterna”? Vamos encontrar belas respostas a essa pergunta em dois santos, que amaram, desejaram para si e praticaram a correção evangélica. ● São Josemaria Escrivá aconselhava: ─ «Quando é preciso corrigir, deve-se atuar com clareza e amabilidade, sem excluir um sorriso nos lábios, se for oportuno. Nunca – ou muito raras vezes – aos berros» (Sulco, n. 823). ─ «Quando tiveres de corrigir, faze-o com caridade, no momento oportuno, sem humilhar... e com vontade de aprender e de melhorares tu mesmo naquilo que corriges» (Forja, n. 455). Como é importante o “momento oportuno”. Nem na hora – quando a coisa está quente –, nem atrasando a correção para um depois que não chega nunca. ─ A delicadeza – como sempre lembrava esse santo – pede corrigir sempre a sós (cf. Mt 18,15), nunca em público; e fazê-lo num lugar isolado e discreto, no momento psicológico que se veja melhor. Neste sentido, São Josemaria aconselhava «Não repreendas quando sentes a indignação pela falta cometida. – Espera pelo dia seguinte, ou mais tempo ainda. – E depois, tranquilo e com a intenção purificada, não deixes de repreender» (Caminho, n. 10). ─ Outro texto, dirigido aos pastores da Igreja mas aplicável a todos, completa os anteriores: «Governar, muitas vezes, consiste em saber “ir puxando” pelas pessoas, com paciência e carinho» (Sulco, n. 405). São Josemaria sempre aconselhava a não se afobar depois de uma correção querendo ver logo os “resultados”, mas a ter paciência, dar tempo ao tempo e continuar ajudando pouco a pouco com carinho. ─ Tanto valor dava à prática evangélica da correção fraterna, que escrevia: «O exercício da correção fraterna é a melhor maneira de ajudar, depois da oração e do bom exemplo» (ForjaI, n. 641). ● São João Bosco: O grande educador que, com a graça divina, soube tirar santidade do barro, aconselhava assim a seus discípulos, com palavras aplicáveis sobretudo à correção das crianças: «Quantas vezes, meus filhinhos, no longo curso da minha vida, tive que me persuadir desta grande verdade: é mais fácil encolerizar-se do que aguentar; ameaçar a criança do que persuadi-la; direi mesmo, mais cômodo para nossa impaciência e soberba impor castigos aos obstinados do que corrigi-los, tolerando-os com firmeza e suavidade [...] »É muito difícil, ao punir, manter o domínio sobre si, mas tão necessário para que não surja a dúvida de agirmos por autoritarismo ou exaltado nervosismo [...] »Não haja agitação na mente, nem desprezo olhar, nem injúria na boca, mas misericórdia no momento presente, esperança do futuro, como convém a pais que de verdade se empenham em corrigir e emendar. É melhor nas situações gravíssimas rogar, súplice e humildemente a Deus, do que fazer correr um rio de palavras que ofendem os ouvintes, sem nenhum proveito para os culpados» (Epistolário, 4,201-203). 3. O DIÁLOGO Discussão, mutismo e diálogo Você tem a experiência de como é desagradável a pessoa que tem o hábito de discutir tudo, de ser sempre do contra em qualquer conversa. Se isso acontece habitualmente, chega a ser muito difícil suportá-la. Também não é nada amável a pessoa que se tranca no mutismo, fica “na dele” e não se digna levar em consideração o que os demais lhe dizem. Em contraste com essas duas atitudes, o diálogo é um ideal a que todos devemos aspirar, ainda que às vezes nos pareça inalcançável. “Ah, se eu conseguisse dialogar em casa, trocar impressões calmamente com a esposa, o marido, os filhos, em vez de andar às turras”. “Ah, se eu, no trabalho, tivesse um diretor que não se impusesse ditatorialmente, que não mandasse humilhando e ofendendo, que escutasse e fosse capaz de levar em conta as opiniões dos colaboradores...” Dificuldades e condições para o diálogo Almejamos dialogar e encontramos dificuldades por parte dos outros: seu modo de ser, sua arrogância, sua desconfiança, sua teimosia, seu mau humor... É verdade que os outros, com frequência, dificultam o diálogo. Mas vamos começar pensando em nós. Não o dificultamos também? Façamos, para isso, um pouco de exame sobre três desculpas: Primeira: O nosso temperamento. Pode ser distraído, absorto e psicologicamente surdo, por ser indiferente sem reparar. «Às vezes – lemos no livro Sulco (n. 755) –, pretendes justificar-te dizendo que és distraído, avoado; ou que, por caráter, és seco, fechadão. E acrescentas que, por isso, nem sequer conheces a fundo as pessoas com quem convives. – Escuta: não é verdade que não ficas tranquilo com essa desculpa?». Os defeitos de temperamento são um dos primeiros campos da nossa luta espiritual: devemos enfrentá-los e superá-los aos poucos com pequenas mortificações: por exemplo,” vou me esforçar por cumprimentar toda manhã com um sorriso todos os que encontrar”, “vou pensar em alguma coisa interessante para comentar em casa”, “vou perguntar a um colega sobre um assunto que o interessa vivamente”, “vou evitar falar quando sinto que começa a ferver a irritação”, etc. Segundo: A falta de tempo. Eterna desculpa. Convençamo-nos de que sempre achamos tempo para aquilo que desejamos de verdade. Quem quer, acha. É claro que, se formos egoístas, cheios de autocompaixão – “como estou cansado!”–, se só tivermos vontade de que nos deixem em paz, nunca encontraremos tempo para prestar atenção. Não seremos capazes de desligar o computador ou o smartphone, de sentar na sala, no alpendre ou na copa e conversar em família; nem de sair uma noite por semana com a esposa; nem de comer uma pizza com o filho que mais precisa da compreensão do pai; nem de marcar um almoço de amizade (não de negócios) com um colega. Terceiro: O modo de ser dos outros: esquivos, explosivos, agressivos... Este, realmente, é um obstáculo, porque, para dialogar, é precisa a boa disposição de dois. Mas, por mais objetivas que sejam as dificuldades, nunca julguemos que as almas são tão frias como parecem. Coloque-se o ferro frio no fogo e – além de se aquecer e ficar em brasa – vai se tornar moldável. O “fogo”, no caso, tem que ser o nosso esforço por sermos e mostrar-nos afetuosos, compreensivos, bem-humorados. Quantas vezes não aconteceu que, num ambiente familiar aquecido por um amor generoso e constante, a pessoa mais difícil se modificasse, o ressentimento mais rijo se dobrasse, a língua mais amarrada se desatasse, e a “megera” (homem ou mulher) se tornasse, como na comédia de Shakespeare, “a megera domada”. Condições do bom diálogo Vou me basear agora em algumas palavras do Beato Paulo VI (na sua primeira encíclica, Ecclesiam suam, de 6 de agosto de 1964, nn. 42 e seguintes) sobre as condições do diálogo. Paulo VI trata nesse escrito especificamente do “diálogo da salvação”, do diálogo da fé com todos, especialmente com os não cristãos ou não crentes. Mas os princípios que enuncia podem ser aplicados a qualquer bom diálogo. ─ «O diálogo da salvação foi aberto espontaneamente por iniciativa divina: “Deus foi o primeiro a amar-nos” (1Jo 4,10)». A nós toca, se queremos dialogar, tomar «a iniciativa, sem esperar que nos chamem». Ou seja, tentar com delicadeza, uma e outra vez – sem insistências enfadonhas – iniciar o diálogo: muitas vezes o melhor começo poderá ser abrirnos com o outro, num ato espontâneo de sinceridade pessoal. ─ «Nada, senão o amor desinteressado, deve despertar o nosso diálogo». É outra condição fundamental. Não procurar o diálogo movidos por qualquer tipo de interesse egoísta (ficar bem, badalar, tirar vantagem), mas porque queremos o bem da pessoa, porque lhe temos um apreço sincero. ─ «O diálogo não obriga ninguém a responder...; deixa livre para corresponder ou fechar os ouvidos», diz a encíclica. Se não há respeito pela liberdade alheia, não pode haver diálogo. Esse respeito é um convite para que a outra parte respeite também a nossa liberdade, e cada um respeite a opinião do interlocutor, mesmo que discorde dela. Na obra Anima mundi de Susanna Tamaro lemos o seguinte diálogo: «– Agora você compreendeu? – Compreendi o quê? – A coisa mais simples: o que é o amor. – E o que é? – É atenção». ─ O diálogo – diz ainda a encíclica – tem «progressos sucessivos; humildes princípios antes do resultado pleno..., mas nem por isso o nosso diálogo deixará para amanhã o que pode conseguir hoje... Deve recomeçar cada dia; e recomeçar do nosso lado, não do outro a quem se dirige». Sim, faz falta ter paciência, paz, e uma constância prudente, delicada e incansável. Qualidades do bom diálogo  várias delas acabamos de vê-las ao tratar das condições do diálogo. O n. 47 da citada encíclica, menciona quatro das principais: ─ «Primeiro que tudo, a clareza». Ou seja, que se entenda o que estamos dizendo, sem ambiguidade nem confusão. ─ «Outro caráter é a mansidão... O diálogo não é orgulhoso, não é pungente, não é ofensivo». Em sintonia com esse texto, vale a pena citar um ponto do livro Caminho: «Isso mesmo que disseste, dize-o noutro tom, sem ira, e ganhará força o teu raciocínio, e sobretudo não ofenderás a Deus» (n. 9). ─ «Outra característica é a confiança..., que produz confidências e amizade»; que, assim, abre as janelas dos corações e permite que neles entre a luz do entendimento mútuo, sem preconceitos. ─ Por último, «a prudência, que leva a tomarmos o pulso à sensibilidade alheia e a modificarmos as nossas pessoas e modos, para não sermos desagradáveis nem incompreensíveis». É um belo programa. Tentemos trabalhar melhor esse ideal do diálogo – de que fala constantemente o Papa Francisco –, e não esqueçamos qual é a condição básica: «O convívio é possível quando todos se empenham em corrigir as deficiências próprias e procuram passar por alto – perdoar – as faltas dos outros » (São Josemaria, Questões atuais do Cristianismo, n. 108). 4. O SILÊNCIO Para tornar mais amável a vida dos outros, tão importante quanto o diálogo é o silêncio. A caridade para com o próximo exige saber calar por amor. «Não abras a boca – diz um velho provérbio – senão quando estiveres certo de que as tuas palavras serão mais belas que o teu silêncio». Silêncios medicinais São Paulo exorta assim os efésios: Nenhuma palavra má saia da vossa boca, mas só a que for útil e, sempre que for possível, benfazeja aos outros (Ef 4,29). “Palavras más” não são apenas as palavras maldosas, que ferem ou causam dano ao próximo (insulto, humilhação, calúnia, mentira1 ), mas as que – mesmo sendo banais – de algum modo incomodam. É frequente o caso de pessoas que aborrecem muito os outros com a sua língua e nem sequer suspeitam disso. Talvez algumas palavras nossas estejam precisando da medicina do silêncio. Por exemplo: 1 Ver, a respeito desses defeitos, o livro A conquista das virtudes, cap., 21 e 22 ─ Palavras emocionais. Quantos repentes! Quantas respostas impensadas, quantas censuras feitas na hora, quantas exclamações nervosas, quantas avaliações precipitadas, quantos comentários imprudentes tornam desagradável o relacionamento no lar e em qualquer outro ambiente. É preciso lutar para exercitar-nos no silêncio medicinal. Segurar a língua é uma mortificação santa, difícil mas necessária. «O silêncio torna-nos melhores – dizia a grande educadora Lubienska de Lenval –, o silêncio é uma conquista de nós próprios», um ato de autodomínio que pode ser alcançado pouco a pouco, com a graça de Deus , se nos exercitamos em dominar a língua. Bem afirmava o místico alemão Tauler que «o silêncio é o anjo da guarda da fortaleza». Só a alma espiritualmente forte consegue dominar emoções que espirram em palavras impensadas. ─ Torrentes verbais. É a loquacidade descontrolada, a tagarelice da pessoa que fala, fala, fala..., e não deixa falar. Não escuta, nem se apercebe de que está sufocando os demais. «Depois de ver em que se empregam , por completo! muitas vidas (língua, língua, língua, com todas as suas consequências), parece-me mais necessário e mais amável o silêncio» (Caminho, n. 447). O filósofo Kirkegaard deve ter sofrido com esses tsunamis verbais, porque, já cansado, dizia: «Se eu fosse médico e me pedissem um conselho, responderia: calem-se; façam calar os homens». A muitos faria bem repetir todos os dias aquela oração do salmo: Senhor, ponha uma sentinela na minha boca! (Sl 39,2 Vg). ─ Palavras vaidosas. Há pessoas que sempre tem que meter “colherada” e dar a sua opinião em tudo, mesmo que ninguém a peça. Cortam a palavra aos outros e enfiam seu parecer ou sua versão sobre o mesmo assunto. Parece que gostam de demonstrar que o outro está mal informado, ou sabe pouco, ou não sabe se explicar bem, ou diz um disparate... É muito desagradável a atitude dos que se obstinam «em ser o sal de todos os pratos» (Caminho, n. 48), e passam a vida dando “lições magistrais”. Aí já não se trata somente de lutar para controlar a língua, mas de pedir a Deus a virtude da humildade. ─ Palavras secas. Há pessoas que habitualmente falam de modo seco, áspero, rude. Se alguém as adverte, retrucam: “Mas eu não tenho raiva de ninguém, não estou zangado, é o meu modo de falar”. A resposta é: “Justamente este seu modo antipático é que deve mudar, se você quiser fazer a vida um pouco mais agradável aos outros. Uns exercícios de cortesia e suavidade verbal não lhe fariam mal nenhum”. Os silêncios do amor Os silêncios do amor são muitos. Como é tocante a beleza da mãe que contempla em silêncio o seu bebê no berço; ou os silêncios carinhosos e eloquentes dos que se querem bem? Não vamos falar agora de todos esses belos silêncios. Vamos pensar apenas em dois: ─ O silêncio da atenção. É a capacidade de escutar em silêncio e com interesse, sem interromper. Já víamos que essa atitude é de respeito pelo outro e de caridade cristã, e faz bem àquele que deseja conversar conosco. Há pessoas muito solitárias que precisam – mais do que o pão – de um bom coração que as escute. Gosto de lembrar que faz muitos anos, quando eu era um padre novinho, ia visitar com frequência – por razões de trabalho – um velho bispo, que gostava de contar lembranças da infância e da juventude. Nas entrevistas, ele falava o tempo todo, e eu escutava sem dizer palavra, com um silêncio reverencial. Passados uns tempos, quase caí da cadeira quando soube, por um padre amigo, que o bispo dissera de mim que tinha “uma conversa muito agradável”. A única coisa que fazia era escutar! ─ O sacrifício silencioso. É maravilhosa a pessoa que sabe sofrer e sacrificar-se em silêncio, sem queixar-se nem por palavras, nem por olhares, nem por gestos. Conheci uma porção de pessoas boas e santas, que nunca reclamavam: nem da dor, nem do mau tempo, nem da comida, nem da doença. Como é agradável o convívio com elas. Fazem lembrar a atitude de Jesus na Paixão. Sofria e calava, por amor a nós. No meio de dores e injustiças brutais, Jesus, no entanto, permanecia calado (Mt 26,63). Há casos heroicos, verdadeiros reflexos de Cristo na Paixão2 . E há casos simples, de pequeno heroísmo cotidiano, que podem ser imitados por todos. No mosteiro de Lisieux, onde morava Santa Teresinha, havia um freira que, sem se aperceber disso, tinha constantemente atitudes e comentários desagradáveis. Santa Teresinha propôs-se escutá-la e aceitar as suas impertinências com grande paciência e sempre sorrindo. E a outra, ingênua como ela só, acabou comentando: “Não sei o que vê em mim a irmã Teresa, que gosta tanto de mim”. Não quero encerrar este capítulo sem uma breve menção do silêncio que é a fonte de todos os silêncios bons: o silêncio com Deus: o silêncio da meditação, da oração, da confiança. Um Silêncio com maiúscula que purifica, aquece e transforma o coração. Tomara que todos pudéssemos repetir o que escrevia Ernest Psichari, neto do ateu militante Ernest 2 Vários exemplos são narrados no livro A paciência (Ed. Quadrante) Renan, após a sua conversão: «A esses grandes espaços de silêncio – de silêncio com Deus – que atravessam a minha vida, devo eu afinal tudo o que em mim possa haver de bom. Pobres daqueles que não conheceram o silêncio! Porque o silêncio é o mestre do amor». 5. A MISERICÓRDIA: “PERDOAI-VOS” Uma balança mal equilibrada Um bom amigo me dizia: “Adquiri o hábito de rezar todas as noites o comecinho do Salmo 51, e me faz muito bem: Ó, Deus, tende piedade de mim, conforme a vossa misericórdia; no vosso grande amor, apagai o meu pecado. Lavai-me de toda a minha culpa, e purificai-me do meu pecado”. Senti vontade de imitá-lo, e não me estranharia que você a sentisse também. É tão comovente a misericórdia de Deus! Basta lembrar a parábola do filho pródigo, esse retrato de Deus que, ao menor aceno de arrependimento, corre ao nosso encontro, abraça-nos e nos cobre de beijos, organiza uma festa e nos concede o lugar de honra em sua casa (Cf. Lc 15, 20-24). Deus é assim. Na sua Encíclica sobre a misericórdia, São João Paulo II dizia: «A misericórdia, como perfeição de Deus infinito, é também infinita. Infinita, portanto, e inexaurível é a prontidão do Pai em acolher os filhos pródigos que voltam à sua casa»3 . O Papa Francisco, pregoeiro incansável da misericórdia divina, frisa na sua Encíclica sobre a alegria do Evangelho: «Insisto uma vez mais: Deus nunca se cansa de perdoar, somos nós que nos cansamos de pedir a sua misericórdia [...]. Ele nos permite levantar a cabeça e recomeçar, com uma ternura que nunca nos defrauda e sempre nos pode restituir a alegria»4 . No mesmo sentido, São Josemaria escrevia: «Deus não se escandaliza dos homens. Deus não se cansa com as nossas infidelidades. Nosso Pai do Céu perdoa qualquer ofensa quando o filho volta de novo para Ele, quando se arrepende e pede perdão. » (É Cristo que passa, n. 64). 3 Encíclica Dives in misericordia, n. 83 4 Encíclica Evangelii Gaudium, n. 3 Sendo assim, é natural que o Senhor nos mande: Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso (Lc 6,36); e que nos ensine a rezar, de coração sincero: Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos têm ofendido, acrescentando a seguir umas palavras que nunca deveríamos esquecer: Porque, se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará (Mt 6,13-15). O Catecismo da Igreja comenta incisivamente essa última frase: «Ora, isso é tremendo, este mar de misericórdia não pode penetrar no nosso coração enquanto não tivermos perdoado aos que nos ofenderam. Recusando-nos a perdoar..., o nosso coração... se torna impermeável ao amor misericordioso do Pai» (n. 2840). Que acha? Não lhe corre um certo arrepio pela alma? Sim, a verdade é que adoramos ser perdoados mas, muitas vezes, não queremos perdoar. A balança do nosso amor anda desequilibrada, e convém muito que procuremos nivelá-la. Vale a pena meditar nisso. Se sete vezes no dia te pedir perdão... Deus não se cansa. Nós nos cansamos. Como é fácil dizer “chega!” e ficar guardando mágoa, ressentimento, ânsias de revidar, e até de excluir a pessoa do nosso convívio. “Se ele (se ela) vai a esse jantar, eu não vou”. “Não quero que apareça mais aqui em casa”. “Essa pessoa, não a cumprimento, nem olho para ela”. Pode ser Natal, pode ser um aniversário, pode ser uma comemoração propícia para o congraçamento, que o coração rancoroso se manterá trancado com sete ferrolhos. Você dirá, talvez: “Mas Jesus fala do filho pródigo, que se arrependeu”... E também diz: Se teu irmão pecar sete vezes no dia contra ti e sete vezes no dia vier procurar-te dizendo: “Estou arrependido”, lhe perdoarás (Lc 17,4). Fala de perdoar aos que “se arrependem”, aos que pedem perdão. E se não pedem? Está bem. Neste capítulo, vamos ficar pensando apenas nos primeiros, nos que nos pedem perdão. No próximo capítulo meditaremos sobre os que não o pedem. Se te pedir perdão Para começar, citaremos outro trecho do Evangelho, que fala dos “limites sem limite” do perdão: Então, Pedro se aproximou dele e disse: “Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão?” Até sete vezes? Respondeu Jesus: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt .18,21-22). “Sete vezes ao dia”, “setenta vezes sete”. Como sete é o número bíblico que indica o infinito, Jesus ensina-nos que é preciso perdoar sempre. Se vier procurar-te dizendo: “Estou arrependido”... Você entende bem isso? Será que compreendemos o pedido de perdão quando não é dito verbalmente (“me perdoe”, “desculpe”, “falei sem pensar, não queria dizer isso”...). Porque há formas silenciosas de pedir perdão, que devem ser captadas e aceitas de coração aberto. Podem ser belos pedidos de perdão um olhar afetuoso, um gesto humilde, uma palavra carinhosa, uma atitude solícita que mostra o desejo de se aproximar e reparar o erro cometido. Vamos fechar o coração? Vamos ser uma espécie de “monarcas” que só perdoam se a pessoa cai a seus pés, suplicando: “Perdão”? Deus não age assim. É tocante, na parábola do filho pródigo, ver o filho perdido se aproximando da casa paterna enquanto ensaia, medroso, o que vai falar: Irei a meu pai e lhe direi: Meu pai, pequei contra o céu e contra ti, já não sou digno de ser chamado teu filho. E contemplar depois o pai, que mal avista o filho corre ao seu encontro e nem deixa que termine de falar. As palavras do filho ficam abafadas dentro de um abraço (Cf. Lc 15, 17-24). Este é o espírito de Cristo. Este deve ser o espírito cristão. O que ensina São Paulo: Sede uns com os outros bondosos e compassivos. Perdoai-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo (Ef 4,32). Como viver isso? Uma dificuldade Não é raro que muitos digam, constrangidos: “Entendo... Deveria ser assim. Mas não consigo... Não consigo esquecer nem perdoar”. Se temos essa dificuldade, leiamos com atenção o que diz o Catecismo da Igreja Católica, ao comentar o pedido de perdão do Pai-nosso: «Não está em nosso poder não mais sentir e esquecer a ofensa; mas o coração que se entrega ao Espírito Santo transforma a ferida em compaixão e purifica a memória, transformando a ofensa em intercessão» (n. 2843). Que esclarecimentos nos traz esse texto? Pelo menos quatro. ─ Primeiro. Muitas vezes não depende de nós o que sentimos, «não está em nosso poder não mais sentir e esquecer a ofensa». Mas não confundamos “sentir” com “querer”, e não esqueçamos que o autêntico amor está na vontade – no querer – e não nos sentimentos. Mesmo tendo dificuldade “emotiva” para limpar o rancor do coração, podemos dar a Deus todo o nosso querer: “Meu Deus, eu quero mesmo perdoar, me ajude!” Se essa atitude for sincera, já estamos perdoando de todo o coração (Mt 18,35). Estamos mesmo, porque estamos “entregando” nosso coração ao Espírito Santo com um ato da nossa vontade. ─Segundo. O Catecismo convida-nos a «transformar a ferida em compaixão». Compaixão, logicamente, não significa desprezo. Há quem diga, com cara de nojo: “Eu não sinto raiva, sinto pena desse pobre coitado, que não vale nada...”. Isso é desprezar. Compaixão é perceber que toda falta faz mal, antes de mais, a quem a comete. É uma ferida que se faz a si mesmo, e que deve mover-nos a agir como o bom samaritano, ajudando-o a curá-la (Cf. Lc 10, 33-35). Como? Esforçando-nos por ser acolhedores, não remexendo na ferida, tendo a iniciativa criativa de praticar pequenos atos de bondade. São João Paulo II dizia: «O amor misericordioso, por sua essência, é um amor criador»5 . Num clima criativo de atos bons, a bondade dos outros poderá desabrochar. Terceiro. O amor misericordioso «purifica a memória». Sabe qual é o melhor “método” para isso? Bastam, poucas palavras. Medite devagar o que aconselha Caminho: «Por maior que seja o prejuízo ou a ofensa que te façam, mais te tem perdoado Deus a ti» (n. 452). Quarto. «Transforma a ofensa em intercessão», diz o Catecismo, ou seja, em oração de petição pela pessoa que nos ofendeu. Proponha-se, por exemplo, fazer o seguinte: «Sempre que me lembrar do que me fez, sempre que pensar nessa pessoa, vou rezar uma Ave Maria por ela”. Deste modo, apesar das nossas fraquezas, viveremos o ideal que São Paulo propunha a todos os cristãos: Não te deixes vencer pelo mal, mas triunfa do mal com o bem (Rm 12,21). 6. O CUME DA MISERICÓRDIA “Vivamente impressionados” No final do Sermão da Montanha – compêndio da pregação de Cristo –, diz São Mateus que, quando Jesus acabou de falar, a multidão ficou vivamente impressionada com a sua doutrina (Mt 7,28). Não era para menos, como fica patente pelo ensinamento que vamos meditar neste capítulo: Tendes ouvido que foi dito: amarás a teu próximo e poderás odiar teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem (Mt 5,43-44). 5 Encíclica Dives in misericordia, n. 88 Recordávamos, no capítulo anterior, que devemos perdoar aos que nos ofendem quando dão sinais de arrependimento. Agora ouvimos o Senhor mandar-nos perdoar também aos que, sem ter arrependimento nenhum, nos ofenderam, nos perseguem e maltratam. Você dirá: “Isto é superior às nossas forças!”. E eu lhe direi: “É mesmo, concordo”. E acrescentarei que a Igreja diz a mesma coisa. Veja o Catecismo: ─ «Esta exigência crucial do mistério da Aliança [perdoar os inimigos] é impossível para o homem. Mas “tudo é possível a Deus” (Mt 19,26)» (n. 2841). ─ «Só o Espírito [Santo]... pode fazer “nossos” os mesmos sentimentos que teve Cristo Jesus..., esse Amor que ama até o extremo do amor» (n. 2843). ─ «O perdão dá também testemunho de que, em nosso mundo, o amor é mais forte que o pecado. Os mártires, de ontem e de hoje, dão este testemunho de Jesus (n. 2844). Com Cristo, pelo Espírito Santo O máximo paradigma do perdão dos inimigos foi dado por Cristo na Cruz. Depois de ter sofrido em silêncio injustiças, brutalidades e toda sorte de torturas físicas e morais, nosso Senhor pediu: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem (Lc 23,34). São João Paulo II, meditando este mistério, comentava: «Crer no Filho crucificado significa crer que o amor está presente no mundo e que este amor é mais forte do que toda espécie de mal em que o homem, a humanidade e o mundo estão envolvidos» (Dives in misericórdia, n. 50). Com a força de Cristo e o dom do Espírito Santo, os discípulos de Jesus foram capazes de atingir esse cume supremo do amor: desde o primeiro mártir – o diácono Santo Estêvão, que morreu rezando de joelhos: Senhor, não lhes leves em conta este pecado (At 7,60) –, até a incontável multidão de homens e mulheres, jovens, velhos e crianças que – em todos os tempos – morreram entre torturas, perdoando e orando pelos seus carrascos. Estes são – diz poeticamente o Apocalipse – os que lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro (Ap 7,14). Com Cristo, o impossível se torna possível. As palavras de Jesus Vamos meditar agora as palavras de Jesus sobre o perdão dos inimigos, que citamos no começo deste capítulo (Mt 5,43-44). São três breves frases: ● Primeira: Amai os vossos inimigos. Amar é “querer o bem” do outro (amigo ou inimigo). Vejamos alguns exemplos: ─ São Paulo, perseguido de morte em Jerusalém e preso em Cesareia marítima, foi apresentado diante do procurador romano Pórcio Festo e o rei Agripa, seu convidado. Paulo fez a sua defesa com a serenidade e a têmpera da fé. Festo, impressionado, disse-lhe: Estás louco, Paulo! E o Apóstolo, dirigindo-se ao rei Agripa: “Crês, ó rei, nos Profetas? Bem sei que crês!”. Disse então Agripa a Paulo: “Por pouco não me persuades a fazer-me cristão!” Respondeu Paulo: Prouvera a Deus que, por pouco ou por muito, não somente tu, senão também quantos me ouvem, se fizessem hoje tal qual eu sou, à exceção destas correntes (At 26,24-28).O maior desejo de Paulo era que até os seus juízes recebessem o benefício da fé. ─ São Pedro, por seu lado, exortava assim os discípulos ameaçados por uma feroz perseguição: Não pagueis mal com mal, nem injúria com injúria. Ao contrário, abençoai, pois para isto fostes chamados, para que sejais herdeiros da bênção (1Pd 3,9). ─ Nos nossos dias, o arcebispo vietnamita Francisco Xavier Van Thuân, falsamente acusado, esteve preso pelos comunistas, a partir de 1975, durante treze anos (nove deles no isolamento). Quase no final do cativeiro, o carcereiro, admirado pela sua bondade, perguntou-lhe: «O senhor nos ama verdadeiramente? ― Sim, eu os amo sinceramente. ― Mas nós o tivemos preso durante tantos anos, sem julgá-lo, sem condenálo, e o senhor nos ama? É impossível, isso não é verdade! ― Estive muitos anos com vocês. Você viu que isso é verdade. ― Quando for libertado, não vai mandar os seus fiéis incendiar as nossas casas e matar as nossas famílias? ― Não. Mesmo que você queira matar-me, eu o amo. ― Mas, por quê? ― Porque Jesus me ensinou a amar a todos, mesmo aos inimigos. Se eu não o fizer, não sou digno de ser chamado cristão. ― É muito bonito, mas difícil de compreender...» 6 . ● Segunda: Fazei bem aos que vos odeiam. Já lembramos que é nisso – querer o bem – que consiste amar. Vale a pena ilustrá-lo também com alguns exemplos: ─ São Josemaria Escrivá. Durante a guerra civil espanhola (1936-1939) foi perseguido pelos comunistas e anarco-sindicalistas – como acontecia com todos os sacerdotes –, e se refugiava onde podia, em constante perigo de morte. Sofreu inúmeras penalidades, que descrevi em parte em outra obra7 . Depois da guerra, em 1941, teve que tomar um táxi em Madrid, e conversou cordialmente com o taxista, frisando a beleza da concórdia e da união. O taxista manteve-se calado e carrancudo. No fim, perguntou: “Onde 6 Cinco Pães e dois peixes, Ed. Santuário, pp. 54-55 7 O homem que sabia perdoar, Ed. Indaiá 2011. Cf. págs. 29-30 é que o senhor esteve durante a época da guerra?” ― “Em Madrid”, respondeu-lhe o sacerdote. ― “Que pena que não o tenham matado”, replicou o motorista. O Padre Josemaria perdoou-o e, para que visse que não lhe guardava nenhum rancor, tirou todo o dinheiro que trazia no bolso, entregou-lhe e disse: ― “O senhor tem filhos?” Vendo-o fazer um gesto afirmativo, acrescentou: ― “Fique com o troco. Compre uns doces para os seus filhos”. ─ Voltando ao arcebispo Van Thuân, vale a pena ler este seu relato: «Uma noite, veio-me um pensamento: “Francisco, tu és ainda muito rico. Tens o amor de Cristo no teu coração. Ama-os como Jesus te ama”. No dia seguinte comecei a amá-los, a amar Jesus neles, sorrindo, trocando palavras gentis. Comecei a contar-lhes histórias das minhas viagens ao exterior, como vivem os outros povos [...], a economia, a liberdade, a tecnologia. Isso estimulou a curiosidade dos guardas e incitou-os a perguntar-me muitas outras coisas. Pouco a pouco nos tornamos amigos. Queriam aprender línguas estrangeiras, francês, inglês... Os meus guardas tornavam-se meus alunos! »A atmosfera da prisão mudou muito. A qualidade do nosso relacionamento melhorou muito. Até com os chefes da polícia. Quando viram a sinceridade do meu relacionamento com os guardas, não só pediram para continuar a ajudá-los no estudo de línguas estrangeiras, mas ainda me mandaram novos estudantes» 8 . Isto é o que São Paulo chama vencer o mal com o bem (Rm 12,21)! Mas... e a justiça? – perguntará alguém– Onde fica? Será que agir como esses homens de Deus não é uma tolerância passiva para com a injustiça? Vou deixar que responda João Paulo II: «É óbvio que a exigência de ser tão generoso em perdoar não anula as exigências objetivas da justiça... Em nenhuma passagem do Evangelho o perdão, nem mesmo a misericórdia como sua fonte, significa indulgência para com o mal, o escândalo, a injúria causada, ou o ultraje feito»9 . Como esclarecia Santo Agostinho, «é preciso combater o erro e amar o que erra», ou seja, uma coisa é amar e perdoar a “pessoa”, e outra coisa é deixar que a injustiça fique triunfante, impune, sem que haja – como diz o Papa citado, no mesmo lugar – «a reparação do mal e do escândalo, o ressarcimento do prejuízo causado e a satisfação pela ofensa feita...».. Sempre, porém, o amor cristão acompanha e vivifica a justiça, evitando o espírito de vingança. ● Terceira: Orai pelos que vos maltratam e perseguem. Voltemos agora ao exemplo de São Josemaria. Nos anos prévios à guerra civil espanhola, a perseguição religiosa avançava num crescendo. Muitas igrejas queimadas, padres e leigos católicos torturados e 8 Ibidem, pág. 54 9 Encíclica Dives in misericordia, n. 97 mortos... Quase todos os dias São José e Maria era insultado ou ameaçado pelas ruas de Madrid. Em 18 de setembro de 1931 anotou em seus apontamentos íntimos: ─ «Tenho de agradecer ao meu Deus uma notável mudança: até há pouco tempo, os insultos e as chacotas que, por ser sacerdote, me dirigiam desde a vinda da República (antes, raríssimas vezes) tornavam-me violento. Decidi rezar por eles com uma Ave-Maria à Santíssima Virgem, quando ouvisse grosserias ou indecências. Assim o fiz. Custou-me. Agora, ao ouvir essas palavras ignóbeis, regra geral, fico comovido, considerando a desgraça dessa pobre gente que, se procede assim, julga fazer uma coisa honesta, porque abusando da sua ignorância e das suas paixões, a fizeram crer que o sacerdote, além de ser um parasita vadio, é seu inimigo, cúmplice do burguês que o explora» 10. A isso ele chamava «apedrejar com Ave-Marias»11 . ---------- Uma apostila final: Estivemos falando, neste capítulo, do perdão dos inimigos, daqueles que – como diz Jesus – nos querem mal, “nos maltratam e perseguem”, e não se arrependem. Sob esta luz, releia de novo, nem que seja por cima, o capítulo anterior. Talvez Deus o ajude a abrir os olhos e perceber que, para praticar o perdão cotidiano no convívio familiar, no trabalho, no trânsito, na vida ordinária, a nossa misericórdia tem que ser bem maior.  Peçamo-la a Deus, e procuremos compreender mais a fundo o que é imitar a Cristo e “tornar a vida amável”.
No caso, conclui-se, que o essencial na existência é conhecer, e possuir o mérito da virtude, e por fim, pensar, existir, e refletir.












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