Na Mesa de Bar – Sophia Fala sobre o Paradoxo Humano



Gilson Gomes

Advogado

“O valor das coisas não está no tempo  que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.”

Fernando Sabino

Sophia Conversa hoje sobre os paradoxos da nossa vida diária, as surpresas que recebemos todos os dias, a negação do passado, como dizer que pensar com base em Platão é masturbação mental, a fé e Deus, coisas presentes no nosso dia a dia, que agora na mesa de bar Sophia irá  dizer o que pensa, e com muito serenidade, ela diz assim:

 

1 - Sophia - O País das Surpresas  Desagraveis.

Todos os dias da nossa existência neste planeta dormiram com um princípio e despertamos do sono com outro, até parece  o surto inflacionário ocorrido na economia entre 1980 até 1993, naquela oportunidade os preços praticados no mercado mudavam de hora em hora,  já que havia uma máquina de remarcar preços, sendo que não se sabia, exatamente, o valor agregado e o juízo de valor subjetivo existente no bem de consumo a ser adquirido nos supermercados.

Não há lealdade ao dicionário nos nossos dias. O conceito deontem não é o de hoje,  as ocorrências aparecem com a velocidade  da luz, a inteligência fica confusa diante da teia  de informações recebidas pelos meios de comunicação de massa. Não há fidelidade aos princípios, pois ser honesto não rende voto, e nem paga a conta, todo se justifica pela facilidade, em síntese, o jeitinho. Veja que o velhaco recebe indenização pelo dano moral, quem não paga  a dívida não comete locupletas são, enriquecimento sem causa, mas pelo visto  se  diz que o título perdeu a validade só para dar asas à cobra. Sei que velhaco no Brasil não cai na teia de aracne, e nem pela  picada  e peçonha dela.

A mudança se dá sem o conhecimento da parte  interessada, já que os atores e sujeitos são os detentores dos meios de produção, e não o destinatário final, o consumidor homem e mulher, sendo que não  existe ética e  Deontologia[1] nessas operações, cada qual por si e Deus por todos .

Pois o homem se subjaz a vontade do consumo, trabalha de sol a sol para comprar o bem da moda, aquele denominado top no mercado da moda. Não é somente o sexo feminimo que possuía tal atração e compulsão, sendo  um vicio trazido pela sociedade de consumo.

Também não sei  a causa da  refutação ao conhecimento  trazido pelo experiência acumulada no passado. Não se admite a herança do passado, já que o conhecimento  está posto no campo da  experiência e da teoria, não há como aceitar o hiato entre  a idéia e a ação. Sabe-se, no entanto, que a teoria é uma e a prática  é outra, faça o que eu mando, mas não faça o que eu faço, como dissera o Padre ao fiel.

 É sabido por todos  que não se deve aceitar favor, mas o político  aceita, ainda faz caixa dois, e pensa que tudo está certo, porque todos são movidos ao dinheiro na conta e  vivo, papel moeda.

Às  vezes me pergunto: - Pra que estudar, ninguém valoriza o  conhecimento, mas só  tem  valor quando estiver expresso em dinheiro.

Que pena!

2 - Sophia - O Conhecimento e a  Experiência do Passado.

“Não se pode criar experiência. É preciso passar por ela.”

Albert Camus

O meu sentir é que a maioria dos seres humanos possuem  arquétipos  formulados  preconceituosamente inibidores da   possibilidade de ser alcançado o conhecimento. O conhecimento  pode ser metafísico ou ontológico, como físico dentro do fato, sendo  que à experiência do passado aplicada no presente  concretiza os empreendimentos e as realizações do homem, transformando-os  na ciência por meio da explicitação teórica. As idéias são o instrumento mais eficiente de elaboração do pensamento. Não há conceitos velhos na ordem cósmica, todo filósofo da Grécia antiga, como Jesus de Nazaré, Gandhi, até os  formuladores das teorias da gravidade como o da relatividade explicitaram aquilo que o homem necessita ao desenvolvimento evolutivo dentro do processo civilizatório. Evidente que a ordem do universo não é mera causalidade ou fatalidade, ela está posta desde o inicio  a milhões de anos luz atrás. Pois pensar que  os sofistas, os pré-socráticos, Sócrates, Platão, Aristóteles, Pitágoras, Heráclito,  e outros tantos se encontram superados parece desconhecer a jovialidade  desse ciclo. Pois toda essa cultura e conhecimento possuem aproximadamente seis mil anos, digamos que a era adâmica  possua possua 25720 anos, mas o a escrita apareceu no mínimo a  seis mil anos. Então devemos pensar como homem, já que nos últimos cem anos este homem chega a lua, constrói foguetes, aparece a internet, o  Laser, e  as ogivas nucleares, o seqüenciamento do genoma,  novos pesquisas com célula tronco, medicamentos eficientes no combate das enfermidades, e por último o aumento substancial da expectativa de vida do homem, e a digitalização dos livros e o arquivamento dos documentos nas nuvens. Os enunciados e as equações  nasceram séculos atrás na cabeça de algum homem rotulado como maluco pela  classe dominante da época, especialmente os puritanos, conservadores, reacionários, fundamentalistas e fanáticos, veja o  que acontecera com Copérnico e Galileu. Ninguém consegue destruir a força da idéia, da lei do universo expressa pelo pensamento filosófico.

3 - Sophia - A Fé e Deus, Ficção ou Realidade.

“Deus, para a felicidade do homem, inventou a fé e o amor. O Diabo, invejoso, fez o homem confundir fé com religião e amor com casamento.”

Machado de Assis

Existem homens que perdem seu precioso tempo a contrariar a fé alheia, já que em regra são homens de pouca fé, além de ser de pouca fé possuem pouco ou nenhum conhecimento e uma ignorância mortal,  sem nenhuma demonstração de humildade. É certo que a fé nos liva a perseguir objetivos, é certo também que por meio da fé – fidelidade – nos leva  a construir laços de amizade, empreendimentos industriais, a busca da realização pessoal, a gerar filhos, e a possuir a virtude,  especialmente a do amor e da solidariedade. A fé é inerente e predicado do ser, ela pode ser boa ou má, mas é crença na fidelidade do ato ou do fato, bem como no objeto pode ser amado ou não, que dispensa a prova. A fé é um impulso existente no interior ou no intelecto do homem de cada homem, fazendo o mesmo  ir em busca daquilo que acredita ser o melhor.

A fé em Deus nada mais é, que crer  na sua potencia seja de corpo ou de alma, imanente ou transcendente, mas que a força inexplicável  realiza  interna e externamente  o bem desejado  pela mente e o coração.

Todo homem só descrê  da fé quando estiver na bonança, mas no momento em que vier as tempestades, ou se o  físico estiver debilitado pela enfermidade imprevisível, tendo perdido  seu pão para cada dia, então, não puder mais digerir o copo de leite, aí o beco é sem saída, então, sua consciência  buscará a fé como meio de superar ou minimizar a dor e explicar o fracasso suposto.

Deus e fé são forças que se apresenta na adversidade, ninguém explica o poder de ambos, mesmo pro que se encontram no tempo e no espaço são metafísicos, e de vez em quando aparecem sem pedir licença e ancoram no porto seguro, e aterrissaram  do infinito sem dizer as leis da sua aerodinâmica. Pode-se negar as deidades, até as divindades criadas pelo homem, a fim de controlar e inibir a agressão do homem.   Porém, é inútil negar a força fé na vida do homem, e Deus que nunca se preocupa com o que pensam dele, porque quer eu queira ou não, com ou sem consentimento as leis da natureza continuam irrevogáveis, e Deus como se vale das prerrogativas dessas leis cósmicas, ele não possui interesse e nem conveniência em discutir com os homens mortais a sexualidade dos anjos. Deus é muito esperto, só aparece quando o homem está na hora da morte, e ainda diz:

- Viste, como não sou velhaco, pois o calado sempre vence.

A fé é uma realidade que pode curar o homem da sua enfermidade, e Deus não pode ser explicado, porque Ele é, pois o que é não se explica, pode-se explicar todas as coisas, mas Deus está aí.

- É.

- Só isso.

Por último, Sophia deixa um boa noite, já é tarde, e a gente volta noutro dia, mas espera que não se tente explicar o inexplicável, é preciso sabedoria para oferecer ao homem uma sociedade melhor e mais humana.

O que  se espera de cada homem é muito pouco, apenas que pense e exista, e saiba que do outro lado há um ser com predicados, cuja força é a fé, que pode mover as montanhas.

E, assim há  noite e o dia,  já que o espírito pairava sobre as águas nas trevas, então cria a luz, e tudo foi bom. Depois aparece o  Adão e a Eva e aí complicou tudo... Eles foram vaidosos e  comeram da árvore do conhecimento, aí  pensaram ser Deus, e ficaram frustrados por pensar ser fidalgo fedido, alimento dos vermes sob   o barro.

É assim, Sophia, tudo é um enorme paradoxo. É bom conversar sobre isso. Pois nada melhor que aprender com a desgraça, já que trocar o certo pelo duvidoso, não parece ser sensato, se bem  que conviver é risco.

Pense.

ACADEMIA CRICIUMENSE DE FILOSOFIA – ACF.


[1] Deontologia (do grego δέον, translit. deon "dever, obrigação" + λόγος, logos, "ciência"), na filosofia moral contemporânea, é uma das teorias normativas segundo as quais as escolhas são moralmente necessárias, proibidas ou permitidas. Portanto inclui-se entre as teorias morais que orientam nossas escolhas sobre o que deve ser feito.O termo foi introduzido em 1834, por Jeremy Bentham, para referir-se ao ramo da ética cujo objeto de estudo são os fundamentos do dever e as normas morais. É conhecida também sob o nome de "Teoria do Dever". É um dos dois ramos principais da Ética Normativa, juntamente com a axiologia. Pode-se falar, também, de uma deontologia aplicada, caso em que já não se está diante de uma ética normativa, mas sim descritiva e inclusive prescritiva. Tal é o caso da chamada "Deontologia Profissional". A deontologia em Kant fundamenta-se em dois conceitos que lhe dão sustentação: a razão prática e a liberdade. Agir por dever é o modo de conferir à ação o valor moral; por sua vez, a perfeição moral só pode ser atingida por uma vontade livre. O imperativo categórico no domínio da moralidade é a forma racional do "dever-ser", determinando a vontade submetida à obrigação. O predicado "obrigatório" da perspectiva deontológica, designa na visão moral o "respeito de si". A deontologia também se refere ao conjunto de princípios e regras de conduta — os deveres — inerentes a uma determinada profissão. Assim, cada profissional está sujeito a uma deontologia própria a regular o exercício de sua profissão, conforme o Código de Ética de sua categoria. Neste caso, é o conjunto codificado das obrigações impostas aos profissionais de uma determinada área, no exercício de sua profissão. São normas estabelecidas pelos próprios profissionais, tendo em vista não exatamente a qualidade moral mas a correção de suas intenções e ações, em relação a direitos, deveres ou princípios, nas relações entre a profissão e a sociedade. O primeiro Código de Deontologia foi feito na área médica, nos Estados Unidos, em meados do século passado.

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