Reflexão - O Mito da Caverna e a Tragédia de Santana.
(morte de mineiros no subsolo de uma
Mina de Carvão, em 1984)
Gilson Gomes
Advogado
Hoje, 10 de Setembro de 2012, mas há
28 anos atrás, do ano de 1984, data em
que ocorreu a trágica explosão dentro do painel seis da mina de carvão da
CCU – Companhia Carbonífera de Urussanga (atualmente, Carbonífera Rio Deserto
Ltda). Naquela oportunidade
perderam a vida trinta mineiros. Ninguém até a presente data
dera noticias sobre as causas do sinistro.
Não se soube a causa de fato que ocasionara a tragédia.
A tragédia de Santana não é fato
isolado na mineração. Ocorre acidentes
em todos os lugares do planeta
onde se pratica a exploração subterrânea
de minerais, especialmente, o carvão.
Na região carbonífera da Região Sul
de Santa Catarina sempre ocorreu mortes no subsolo, às vezes pelo descaso do
minerador com a vida humana e a falta de equipamentos de segurança de
trabalho, outras ocasiões, pela negligência
do mineiro em face da falta de educação para o trabalho, e o mais grave, por
meio do conluio entre o sindicato dos trabalhadores no carvão, com a classe
patronal, aquilo que aqui se dá o nome
de - sindicato pelego -, sendo tais
entidades apêndice do patrão infiltradas no meio da massa de trabalhadores.
Nas décadas de 1950 até 1964, a
categoria dos mineiros fizeram grandes movimentos de greve contra a
exploração existente na relação entre
capital e trabalho, tanto que, a cooptação dos mineradores fazia os mineiros executar
um movimento paredista com a finalidade de forçar o Governo Federal a oferecer
aumento pela tonelada do carvão. Pois existia sindicalista que fizera negociata
com o patrão, no sentido de conseguir o que o minerador pretendia por meio da
pressão, e em contrapartida, o patrão lhe ofertaria parte da concessão na lavra
de exploração do carvão, sendo tal ação uma – pérola -, aos interesses
espúrios.
Pois
lá em São Paulo, o então Governador Adhemar de Barros, dissera que a
cidade de Criciúma, no sul do Estado de Santa Catarina, a então Capital do
Carvão era denominada de – Cuba Brasileira. Evidente, que a cidade se tratava
de pólo mineral enérgico de interesse da soberania e a segurança nacional, pelo fato do
sul do Estado fornecer combustível para manter a máquina de guerra contra o nazismo,
por meio das forças aliadas no campo de
batalha, bem como posteriormente, com a criação da CSN - Companhia Siderúrgica Nacional, que
precisava de carvão energético para
derreter o ferro e transformar em aço, indispensável ao
desenvolvimento nascente do Brasil passa ao controle da Estatal as reservas de carvão pertencentes a Carbonífera Próspera, braço da
CSN.
A região recebera a migração de
homens e mulheres, especialmente, do Rio Grande do Sul, em razão da escassez de
mão de obra, a fim de suprir o mercado interno e internacional durante a IIª Guerra Mundial, e com nascimento da
industria do aço, produzido pela CSN. O carvão no período da guerra fora
essencial e necessário, tanto na derrota
do inimigo quanto na reconstrução dos destroços e do entulho da guerra que se transformou o velho continente.
A questão de fundo da exploração da
mineração, como se trata de recurso natural, e com forte destruição do
manancial aqüífero, como da fauna e da flora, pela existência da mineração a
céu aberto, tendo a CSN trazido uma super maquina de apelido - Marion -,
tendo transformado a antiga Beluno, hoje Sideróplis, numa verdadeira
terras lunares, onde existiam crateras para todos os lados, poluindo
sistematicamente as águas do Rio Mãe Luzia, tornando imprópria ao consumo
humano, cujo detritos do carvão são levados ao Oceano Atlântico.
Logo os Municípios que fazem parte da
bacia carbonífera não souberam aproveitar o auge da exploração do carvão, e com
isso converter em agregação de valor na educação, saúde, turismo, cultura, e no bem estar social da população. Pois a
máquina administrativa dos Municípios é ineficiente em razão do parasitismo
vivido durante o ciclo áureo do carvão. A questão da máquina pública é estrutural, não quer
valorizar os recursos humanos, e fazer
investimento na qualidade profissional, sendo governos empíricos sem desejo de
investir no desenvolvimento econômico e social da cidade.
As cidades da região carbonífera não
abrem seu comercio nos horários de
lazer, não há investimento no turismo, e nem na cultura. Pois se
procurar um restaurante às 23h00, certamente, as portas estarão fechadas. Não
há comercio funcionando 24 horas, não há
lazer, e se abrir um virá mil reclamar na Prefeitura o estorvo
do prestador de serviços. Conclui-se que povo que pensa assim deve ser
muito rico, não precisa do pleno emprego, está com a burra cheia de verdinhas ou ouro puro, e ainda possuem
alguma conta na Suíça.
O resumo da ópera – Nenhum agente
público nos últimos tempos tem pensado em construir a cidade com pensamento e a
prática nas gerações futuras; não desejam investir na indústria limpa do
turismo; nem no aprimoramento o da mão
de obra, e na criação de postos de trabalho para fixar o homem na sua terra.
São homens que pensam em fazer o seu
curral eleitoral. O homem justo e de bem não
possui lugar dentro do contexto atual, pode ser genial, mas se não
render votos, não serve aos interesses da oligarquia.
É claro que a tragédia de Santana
gera dor, muita dor. Morrer homens no fulgor da sua vida no subsolo, sem ter
como se defender, retirando a riqueza do seio da terra e, entregar sua alma e
seu corpo apenas como átomo no cosmos, sem saber que passados quase trinta anos
suas vidas não representaram nenhum
avanço à posteridade. Pois tudo continua na mesmice, corrupção e obras superfaturadas.
Não se vê nenhuma cruz dizendo que aqui morrera um homem de bem. Os homens de
bem reverenciam aqueles que feneceram no labor, são tidos como exemplo de cidadania,
morrer no trabalho é morrer pela causa mais nobre ao homem, por que, a sentença
é, – comerá o pão com o suor do teu rosto.
Não teve noticias das causas daquele
sinistro trágico, não se pode dizer ter sido um acidente, porque não há uma
perícia técnica sobre o local da
tragédia. Também, não se pode dizer que fora imprudência porque não sabe
se no local havia gás inflamável, tudo
indicava na época que sim. Igualmente, não há como afirmar ter sido negligência
do empregador, porque não se sabe se os mineiros estavam ou não de posse e uso dos equipamentos de segurança. O mais grave, é não existir
evidencias da omissão do empregador na
aquisição dos equipamentos, e contratação de técnicos especializados
capaz de detectar a possibilidade de
explosão, e a retirada rápida do local
do sinistro os mineiros. A imperícia não
dá para afirmar, em face de não ter como observar a aptidão dos homens que se
encontram naquele momento no subsolo e interior da galeria de exploração do
carvão - mineração.
Desta forma, homem algum
possui consciência do que seja
perder a vida na treva, no subsolo, sem ver a luz.
No entanto, os homens que enxergam a
treva pelo lado da tragédia só quando tiverem entendido - o Mito da Caverna -, no Livro VIIº, da
República de Platão. Pois compreender a tragédia é preciso da luz, sair da caverna escura, só assim, o homem aprenderá
a lição com a triste e dolorosa
desgraça, sendo que, no caso, só resta olhar aos céus, e pedir em prece a luz
do conhecimento, o Deus que não se vê, mas que está em cada ser que sabe que a
morte daqueles homens não fora inútil e nem em vão, por esperarmos que os
empregadores da exploração do carvão
tenham discernimento, prudência, e
seu agir seja pensar no bem do homem. Perder vidas tem custo maior que benefício, tanto em recursos financeiros, afeições, e pela sua
ausência. O homem não tem preço, morreu, não volta, ninguém disse ter voltado aqui depois de morto.
Conselho – Seja prudente.
Especialmente em situação de risco, como é o caso em trabalho no subsolo. Preste atenção,
cuidado! Perigo a vista.
Pense no mito da caverna, pois quem sabe a sabedoria alcançada pela
escuridão não lhe dará uma nova luz para o desenvolvimento do sul do Estado de
Santa Catarina.
É preciso aprender com a tragédia, já que quase sempre fingimos não ser conosco...
ACADEMIA CRIUMESE DE FILOSOFIA – ACF.
Comentários