O Velho - Minha Experiência



Gilson Gomes
Advogado

“A experiência é uma lanterna dependurada nas costas que apenas ilumina o caminho já percorrido.”

Confúcio

1 - O Velho e o Cínico

“Se o corpo chamasse a alma perante a justiça, ele a convenceria facilmente de má administração.” Diógenes

Voltei à Grécia, e  busquei  na experiência desse povo minha resposta à minha pergunta intrigante. Se é verdade que a vida  deve ser orientada pela virtude, e pelo bem, direito e justiça, como explicar a causa do abandono dos idosos, em grande escala, na  nossa sociedade. O Estatuto do Idoso neste país tropical e bonito por natureza parece ser um grande avanço se o cidadão da melhor idade, como dizem,  realmente, encontrasse a retribuição e gratidão pelas suas boas ações durante a juventude e o período de maturidade.

Cícero, o notável cidadão Romano,  escrevera uma obra sobre a velhice saudável,  tendo ofertado   conselhos aos velhos  de enorme valia à interação e a convivência humana , mas, a experiência deste Tribuno e Pretor romano não fora suficiente para alertar os nossos idosos.

Pois todos nós somos um tanto cínico, isso é um cachorrão,  já que  em  grego, cínico etimologicamente,   quer dizer,   tratar-se de um – cachorrão -, certamente, um tanto guadera (de rua). No entanto, o maior representante dos cínicos  fora  Diógenes, aquele  que andava em Atenas com uma lanterna, procurando um homem honesto. Evidente que os ensinamentos de Sócrates, Platão e Aristóteles são mais compatíveis e dentro da realidade, tanto que até, hoje,  o Estagirita  se encontra sedimentado nos nossos conceitos  de vida, como na ética e na política, sem falar da física e da metafísica. Claro que o Aristotelismo fora aplicado por Tomás de Aquino, sendo o que vigora até os nossos dias.  O certo é que, ninguém pode se libertar de Aristóteles e Platão, não importa,  sempre se acaba numa ou noutra concepção.

2 - Os Velhos do Século XX no Brasil

“Embora seja curta a vida que nos é dada pela natureza, é eterna a memória de uma vida bem empregada.” Cícero

Os velhos que estão aí, originados da década de 1920 em diante, forjados na sociedade patriarcal, e baseada no modelo de feudalismo  em desaparecimento no Velho Mundo, tendo sido derrotado com a queda da Bastilha, e consolidado com o – Manifesto – de 1848, de Marx e Engels, cuja  antítese  são o utilitarismo de John Stuart Mill  e  Adam Smith.

No século XIX começa   o florescimentos da revolução industrial, a necessidade de  mão de obra para atender o mercado  de produção, e a necessidade de consumidores dos bens produzidos pela industria.

O homem idoso detentor de vasta área de terras agrícolas e pastoril, é substituído  pela máquina, cujo operador , quase sempre  se trata de homem jovem, que aprende o manual de adestramento, sendo dispensado a presença do idoso no ensino do oficio,  mesmo como  cidadão e homem de bem,  nesta  sociedade em que o único valor é  o  poder do dinheiro, porque a sociedade gira pelo consumo – o ter.

Ocorre que no Cone Sul, onde a expectativa de vida fora baixa em razão da desnutrição e das doenças tropicais, que no século XX ceifaram muitas vidas, como também a baixa escolaridade, os que não eram analfabetos o eram funcionais. No entanto,  a estrutura dominante criara  uma geração que não aprendera a pensar. Pois possuem e possuíam uma ignorância  crônica, que em síntese nada contribuíram na melhoria das instituições, e  na educação do País. No caso, tais homens se tratavam de mão de obra barata e sem especialização para enfrentar os desafios do terceiro milênio. Por força do avanço da medicina a  expectativa de vida subiu e comprometera os ativos da Previdência Social em todos os País civilizados, com o envelhecimento da população, com mais gravidade no Brasil, já que existem muitos inativos, para poucos contribuintes  necessário para honrar o pagamento da conta aos idosos.

3 - O Velho e a Questão Previdenciária

“Afirmar que os nossos êxitos são devidos à Providência e não à habilidade, é uma esperteza mais para aumentar, aos nossos olhos, a importância desses êxitos;”Cesare Pavese

A contribuição previdenciária é um saco sem fundos, já que entra no cofre do Estado, como  ativo financeiro não gerando  nenhum dividendo ao contribuinte, mesmo que a contribuição seja contributiva, porque deveria o Estado remunerar a utilização dessa poupança, por meio da remuneração com juros e correção monetária o valor da contribuição, mensalmente, a fim de chegar no prazo para gozar do prêmio da aposentadoria o contribuinte soubesse o valor da poupança que existe em depósito na sua conta. Evidente que o Estado poderia pedir emprestado o recurso, mediante remuneração, especialmente para financiar moradia, saneamento, educação. Trata-se de recurso a custo zero para o Estado, e caro ao contribuinte e segurado pelo fato de não garantir absolutamente nada ao mesmo Pois a aposentadoria ao invés de ser  o prêmio recebido pelos longos anos de labor, tem sido no Brasil uma tragédia, cujo benefício cresce igual a cola de  cavalo, com exceção da aposentadoria de  alguns privilegiados  do Estado Brasileiro, que se julgam divindades e superiores ao homem  cidadão da Republica.

Aí o Governo diz que não há dinheiro, mas dinheiro para subornar deputados e senadores na aprovação da reforma previdenciária, igual a política de Drácon, ou então, aquela que a inatividade  pode ser colocar o pescoço na guilhotina. Não há beneficio na aposentadoria no Brasil, mas, apenas a criação de uma massa de  homens e mulheres  sem razão para viver.Viver sem razão.

4 - A Omissão dos Velhos

“A mentira e a omissão nos mata aos poucos, mas a verdade nos dá o tiro de misericórdia.” Bryan Carvalho

Na verdade, os velhos de hoje não fizeram a sua parte na história, sendo seu principal argumento que trabalharam com suas mãos e braços, sem ter  contribuído para a melhoria do espírito, como sujeito da criação e do estabelecimento  de uma nova ordem social. Eles culpam o Estado pelos seus fracassos. Dizem que não foram à escola porque não tiveram  oportunidade, mas isso não se justifica, como é que o  Machado de Assis se torna um dos maiores Escritores do Planeta, sem ter ido a escola formal, com origem mestiça, e aprendera grego aos  sessenta anos de idade.

Ocorre que o Estado  providência e intervencionista não respondeu aos anseios da sociedade. Assim a expulsão dos Jesuitas  em 1759,  – Ratio Studiorum – era a formação do homem universal, humanista e Cristão, na prática fizera piorar a educação no Brasil. Se não lia, hoje, não usa o livro como meio de acessar os bens da civilização. Pois temos uma enorme deficiência cultural, não sabem interpretar o que lêem e se lêem dão interpretação diversa do autor da obra.

5 - Os Velhos Culpam o Estado pelo Fracasso.

“O fracasso é a oportunidade de começar de novo com mais inteligência e redobrada vontade.” Henry Ford

Os velhos não  estudavam e nem liam livros dos autores que mudaram os conceitos da sociedade, especialmente referentes aos avanços científicos e tecnológicos, bem como os que emprestam conhecimento para vida cotidiana. Mas, os velhos das confissões evangélicas e os católicos lêem a Bíblia, sim, a Bíblia é um bom livro que deve ser lido, mas não se deve esquecer que o teorema de Pitágoras não está descrito o enunciado na Bíblia, e sem isso não há mecânica,  porque os velhos  imaginavam que iriam estudar  - pra burro -, e nem deixavam suas filhas irem à escola, a fim de que não escrevem cartas românticas  aos seus namorados.

Os velhos criaram os filhos sem diálogo algum, em regra o que vigorava era o monólogo,  não construíram amigos, mas queriam obter obediência a ferros, nunca falaram da virtude, não  estimularam a respeitabilidade. As mulheres eram fêmeas criadoras e chocadeiras, e os homens machos vorazes que apenas faziam  filhos  e jogam no relento, muitos passavam só a pão e água, sem escola, e sem vida digna, aliás, nem Deus eles tinham, já que Deus não está no pensamento do faminto. Sabe-se que a fome  inibe a atividade cerebral, e estimula o extinto  da procriação, no sentido de perpetuar a espécie.

Percebi pela experiência, que os idosos de hoje, foram os ausentes de ontem, não criaram amigos, criaram estranhos, às vezes, fundados numa falsa moral, e numa noção de caridade  sem prática, onde Deus chega a se envergonhar do seu passado. Pois quem não fizer uma boa colheita, certamente, não colherá bons frutos no futuro.

6 - A Ausência de Vinculo de Afeto

“Amizade é como café, uma vez frio nunca mais volta ao seu tamanho original, mesmo aquecido.” Kant

“Devemos ter amigos que nos ensinam o bem; e perversos e cruéis inimigos, que nos impeçam de praticar o mal.” Diógenes

Por último, a ausência de vinculo de afeto entre os idosos e seus descendentes está evidente na falta de solidariedade e de amizade entre pai e filho, a base da construção de uma relação afetiva.

Não  pode exigir  gratidão quem não  estendeu a mão, e não pensou em construir no filho o patriotismo e a cidadania. Se os pais fossem justos e bons, certamente, a vida deles seria mais harmoniosa e feliz.  Pois é verdade que  o homem másculo da juventude não será o viril da velhice, mas no máximo o mais sábio pela experiência. Na Roma  imperial quando o homem e tornava adulto era lhe dado a toga viril. Logo não era o velho que recebia a toga viril. Não confundir a toga do magistrado com a toga viril.

7 - O Valor da Experiência

“Age de tal forma que a máxima do teu querer possa valer em todo o tempo também como princípio de uma legislação geral.” Immanuel Kant

 Mas, para fazer valer a experiência é preciso construir teorias.  O idoso não deve culpar os outros pelo seu fracasso no empreendimento da vida, mas deve culpar-se a si mesmo, porque o idoso de hoje fora vilão ontem, dera legitimidade as atrocidades existentes no mundo atual. Quantas  vezes rira do velhinho caduco, do ceguinho caolho, furado fila, sem falar do caderno que não comprara ao filho. O pai ausente hoje,   será no dia de   amanhã o  velho no asilo. Uma regra milenar que deveria ser respeitada por todos,  quem dá o sustento, provedor, não pode sofrer constrangimento  por parte do alimentado, a ingratidão faz o alimentado perder a pensão. O justo é cada repartir responsabilidades. Respeitar a privacidade e a imagem do outro é condição para a existência de uma vida harmoniosa dentro do grupo social. Respeite o espaço do outro.  Essa era a regra milenar.

O velho  turrão, ignorante,  boçal  foi  o homem machão do passado, que tinha por hábito jogar o prato na parede quando a  esposa lhe servia um alimento que não era do seu agrado, então, era o valentão que   fazia os filhos dormir no relento. Isso vale também à mulher, que não toma consciência do preço que é conviver em sociedade. Pois como dissera Agostinho de Hipona, - a palavra convence, mas o exemplo arrasta.

Pense, e pense muito, antes de ir deitar no seu travesseiro, aqui se faz, e aqui se paga, o inferno é aqui segundo Sartre, pode acreditar.

Pois é minha experiência.

Assim toda a nossa construção na vida é um investimento na nossa bolsa de valores, pode ser entesourar nos céus, mas o importante é o mundo real do dia a dia. Pois ao abrir a boca, prove o que está a dizer; não condene ninguém para depois ter de absolve; nem semeie a discórdia   para não ter de pedir perdão. O nosso grande problema cultural é, a nossa prática não é  a nossa teoria. É preciso ter uma teoria igual a nossa atitude ou a nossa ação. Ninguém escuta  o  velho por incoerente na vida, não nexo causal entre a experiência e sua prática. Logo homens assim são  esquecidos pela história, e desaparecem como as cinzas no ar, apenas poluem o pulmão de um homem sadio, sim, porque a sílica em regra mata, e ela é pó.

Desta forma, se quiser ser reconhecido pela sociedade siga as suas regras, mas se quiser ser um homem do universo seja amante da justiça e do direito, enfim, seja honesto e de bem. Plante o seu próprio jardim.

Pense.

ACADEMIA CRICIUMENSE DE FILOSOFIA – ACF.

 

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